II Domingo do Advento Ano C
Is 11,1-0; Sl 72; Rm 15,4-9; Mt 3,1-2
Estamos celebrando o tempo do Advento. É tempo de expectativa feliz, mas também tempo de juízo. No domingo passado, a liturgia nos convidada à vigilância. A liturgia deste domingo nos exorta à conversão, à mudança de vida, para acolher o Senhor que vem trazendo a salvação, tão esperada pela humanidade. Deus vem, mas Deus e pecado não se harmonizam, não combinam. É por isso que João Batista prepara o povo judeu no deserto para acolher o Enviado de Deus: “Convertei-vos , porque o Reino de Deus está próximo. (...) Produzi frutos que provem a vossa conversão” (Mt3,2.8).
Converter-se é suplantar o egoísmo pela fraternidade, a autosuficiência pela caridade, para acolher a salvação, cujo dinamismo já bate em nossos peitos. Nós, cristãos, vivemos em meio a realidades do mundo nem sempre condizentes com a nossa vocação. Desde que fomos batizados, tornamo-nos “novas criaturas”, das quais espera-se um novo modo de vida regido pelo Evangelho. O Evangelho não se compagina com a mediocridade, com as tendências antiéticas e corrosivas da vida humana, nem com a corrupção dos detentores do poder, nem com a permissividade sexual, nem com desmantelamento das famílias, enfim, com um modo de viver como se Deus não existisse.
Para acolher a salvação, é preciso despertar em nós os “olhos de águia”, que nos ajudam a ver longe e em profundidade, para além da superfície das coisas que nos envolvem e nos ocupam. A conversão quebra nossa cegueira espiritual e nos faz ver o que antes não víamos. A conversão limpa os olhos do nosso coração, e o coração fica livre de tudo o que impede de ir ao encontro do Senhor que vem. As coisas terrenas, desde então, passam a ter o seu devido valor. Para converter-se, não basta desapegar-se ou liberar-se, mas é preciso também colocar-se na estrada, percorrer caminhos novos, ir ao encontro do Senhor. Nessa dinâmica, a conversão é feita na alegria pelo que nos aguarda.
O tempo do Advento é tempo de vigilância marcada pela esperança de um novo tempo, de um novo mundo, de um novo ser humano. O profeta Isaías alimenta essa esperança no povo judeu, com a promessa da vinda de um rei de justiça e paz. Este rei messiânico, enviado da parte de Deus, viria para instaurar a paz humana e a paz cósmica. Do velho tronco de Jessé, pai de Davi nascerá “o rebento de um flor”, que instaurará a nova ordem do mundo. Este rei messiânico será ungido e repleto do Espírito de Deus; n’Ele repousarão os dons do Espírito: “Sobre ele repousará o espírito do Senhor: espírito de sabedoria e discernimento, espírito de conselho e fortaleza, espírito de ciência e de temor de Deus” (Is 11,2). Porque repleto de Espírito, será Ele quem “batizará com o Espírito Santo e o fogo” (Mt 3,11). A sua presença e a sua palavra serão purificadoras, pois separará a palha do trigo...
Ao rei Ungido do Senhor, caberá a missão de instaurar o reino da justiça e da paz segundo o plano de Deus, por isso “ele não julgará pelas aparências que vê nem somente por ouvir dizer” (Is 11,3), e com a força de sua palavra aniquilará o mal. A criação cósmica será atingida pela ação deste rei messiânico: haverá paz entre os animais, que passarão a viver juntos, sem violência e sem mortes. É neste horizonte de esperança que o profeta Isaías descreve com imagens fortes a nova criação, libertada da maldade, com animais, tradicionalmente inimigos, agora, amigos: “O lobo e o cordeiro viverão juntos e o leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito; o bezerro e o leão comerão juntos e até mesmo uma criança poderá tangê-los. A vaca e o urso pastarão lado a lado, enquanto suas crias descansam juntas; o leão comerá palha com o boi; a criança de peito vai brincar em cima do buraco da cobra venenosa; e o menino desmamado não temerá pôr a mão na toca da serpente” (Is 11,6-8).
O sonho de Deus, para a humanidade, é a paz. Deus quer uma humanidade reconciliada, em harmonia e equilíbrio, liberta do mal, convertida dos pecados, acolhedora da salvação. A vinda de Jesus ao mundo realiza este sonho de Deus: Cristo reuniu em si todos os povos, reconciliando-os pela oferta de si ao Pai na cruz. Repleto do Espírito, como havia profetizado Isaías, o Filho de Deus, por seu amor salvífico, rompeu todas as divisões e inaugurou uma nova ordem: a ordem do amor pelo viés do acolhimento. É por isso que Paulo recomenda aos cristãos de Roma: “Acolhei-vos uns aos outros como Cristo vos acolheu” (Rm 15,7). Hoje, quando esse acolhimento acontece, atualiza-se a nova ordem no mundo humano e cósmico: a fraternidade universal. Ali, reina a vida, a esperança, o mal é vencido pela força do bem, e novos horizontes se descortinam. É a realização de “tudo o que outrora foi escrito” (Rm 15,4), como diz o apóstolo Paulo.
Acolhamos em nosso coração o grito forte de João Batista: “Preparai os caminhos do Senhor” (Mt 1,3). Coloquemo-nos no caminho da conversão. Não deixemos que as vicissitudes da vida nos façam estacionar na mediocridade, no medo ou na desesperança. Tornemos nossas famílias acolhedoras. Tornemos nossas comunidades de fé acolhedoras. Existem necessitados e indigentes em todos os cantos deste planeta, famintos de pão, famintos de dignidade e famintos de Deus. Sempre é tempo de recomeçar e de esperar, com alegria, pois o Senhor virá!
Frei Nedio Pertile
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Segui-lo é nossa graça; e
Transmitir este tesouro aos demais
é nossa tarefa.
Que o Senhor nos confiou ao nos chamar
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