sexta-feira, 24 de junho de 2011

Homilia dia 26.06.2011 “Quem vos recebe, a Mim recebe!”


LITURGIA DO XIII DOMINGO COMUM.
26.06.2011.
“Quem vos recebe, a Mim recebe!”
01.Introdução. 
 Terminado o “Tempo pascal”, retomamos os “Domingos do Tempo Comum.” Deixando de lado os temas específicos do Advento, da Quaresma e da Páscoa, meditamos temas diversos da pregação e da catequese de Jesus. Queremos ser bons discípulos de Jesus e proclamadores de seu Evangelho!
Hoje são ressaltadas duas virtudes específicas da vida cristã: a hospitalidade e a pregação missionária. Os missionários são “pequenos e despojados”, mas a acolhida de um missionário de Jesus equivale à acolhida do próprio Jesus: “Quem vos recebe, a mim recebe, e quem me recebe, recebe ao que me enviou” (Mt 10,40).
Todo cristão deve ser missionário (discípulo missionário), mas quem são os missionários que Jesus nos envia, especialmente, nos tempos atuais? Quem são aqueles que têm a coragem de anunciar Jesus mesmo sabendo que não será ouvido? Como sempre, o mundo de hoje tem dificuldade de escutar a Palavra do Evangelho!
Prestemos atenção à Palavra de Deus que, hoje, nos será proclamada!
02.Palavra de Deus.
2Re 4,8-11.14-16ª – O profeta Eliseu hospedou-se na casa de uma rica e piedosa senhora estrangeira. A hospitalidade foi retribuída com a gravidez de um filho esperado inutilmente, pois, era estéril. A bênção do patriarca Abraão,que hospedou anjos (Gn 18,14), passou para a mulher sunamita que acolheu o profeta Eliseu como “homem de Deus”. A virtude da hospitalidade sempre é agradável a Deus, mesmo quando praticada por estrangeiros!
Rm 6,3-4.8-11 – Os cristãos, discípulos missionários de Jesus, são intimamente associados à vida e morte do mesmo Jesus através do batismo. Somos sepultados na morte com Jesus e, pelo poder do mesmo Espírito Santo, já ressuscitamos para uma vida nova, vida divina. “Somos participantes da natureza divina”, como nos diz Pedro (2Pd 1,4b).
Mt 10,37-42 – O apóstolo Paulo afirma que sua pregação se manifestou na fraqueza e no temor (1Co 2,1-5), e Jesus envia missionários pobres, despojados e “pequenos” ou seja: Sem expressão social! As grandes manifestações, normalmente, não tem o gosto de Deus! Os grandes missionários de Jesus sempre foram pequenos aos olhos do mundo! Francisco de Assis foi um “homem vil, pequeno e sem ambições”, mas que grande missionário!
03 – Reflexão.
* Quem seriam os profetas (como Eliseu) que batem à nossa porta pedindo hospedagem? E como nós os acolhemos? Eliseu não tinha grande expressão, mas era um homem de Deus! Certamente, era um dos “pobres de Javé” e sua aparência não devia recomendá-lo perante seus ouvintes. Mas foi acolhido pela mulher sunamita e trouxe-lhe uma grande bênção!.
* Igualmente, os missionários de Jesus não deviam recomendar-se pelas aparências, e muito menos pela pregação: anunciavam o Evangelho de um crucificado! A pobreza e a insignificância podiam, até, causar suspeitas sobre os missionários! Mas, quem os recebia, recebia a Cristo.
* Paulo recorda as maravilhas da graça divina e a grandeza do batismo – que nos associa de modo profundo com a morte e a vida gloriosa de Jesus ressuscitado. Não podemos viver com as marcas do pecado, mas com os sinais de ressuscitados com Jesus, portanto, mortos ao pecado!
* Irmão, você é um ressuscitado ou ainda está sepultado na miséria da morte e do pecado?


“Não sejamos envolvidos pelas trevas do pecado,
mas brilhe em nós a luz da verdade!”

Frei Carlos Zagonel.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Homilia dia (19.06.2011) “Deus misericordioso, paciente, bondoso e fiel!”




FESTA DA SANTÍSSIMA TRINDADE.
19.06.2011.

01.Introdução.
O homem, mesmo moderno, vive cercado de medo, medo de toda a espécie; inclusive, ele tem medo de Deus e prefere esquecê-lo! Melhor seria confessá-lo como Moisés: “Senhor, Senhor! Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel!”(Ex 34,7).
No fim de tudo, o homem tem medo de si mesmo: não sabe donde veio e nem para onde vai! Se conhecesse a Deus, com certeza, teria a revelação de seu próprio destino, saberia que Deus o criou para a felicidade e para a comunhão intima com Ele!
Irmão, longe de Deus reina o medo; junto de Deus, a alegria e a felicidade porque descobrimos que Deus é amor e fidelidade! Deus é amor e por amor nos deu seu próprio Filho e derramou o Espírito Santo em nosso coração (Rm 8,14-17).
O Mistério da Trindade não é um desafio para nossa inteligência; é, antes, a descoberta do “amor divino e misericordioso” de nosso Deus! Deus não quis falar à nossa inteligência; falou-nos ao coração! O Deus, que não cabe em nossa cabeça, faz sua morada em nosso coração!
02.Palavra de Deus.
Ex 34,4b-6.8-9 – Deus revela sua intimidade a Moisés e exclama: “Senhor! Senhor! Deus compassivo e misericordioso, lento para se encolerizar, cheio de bondade e de fidelidade”. E Moisés prostrou-se por terra e o adorou extasiado, mesmo que o tivesse “visto, apenas, pelas costas”! É um Deus grande na misericórdia e pequeno no castigo!
2Co 13,11-13 – Paulo deseja aos fiéis de Corinto que a graça de Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com eles. Não são, evidentemente, três deuses, mas a Santíssima Trindade que sempre age em unidade! Jesus diz no Evangelho: “Se alguém me ama, é amado por meu Pai... viremos a ele e faremos nele nossa morada!” (Jo 14,23). Comunidade de amor misericordioso!
Jo 3,16-18 – O amor de Deus se revela na doação de seu Filho para a salvação de todos. Deus não está à procura de pecadores para castigar, mas para salvá-los mediante a paixão, morte e ressurreição de seu Filho Jesus. Não resistamos ao amor compassivo de nosso Deus!
03.Reflexão.
* No Antigo Testamento, a revelação de Deus foi parcial, mas em Jesus Cristo o “mistério de Deus” se tornou visível, palpável e acessível a toda pessoa de boa vontade. Em Cristo, Deus revelou toda sua beleza, misericórdia e fidelidade. Disse Jesus: “Felipe, que me vê, vê o Pai... porque o Pai está em mim e Eu estou no Pai” (Cf. Jo 14,9). Nós que não vivemos no tempo de Jesus, cabe-nos descobrir seu rosto no Evangelho.
* Ninguém, jamais, viu a Deus; somente o Verbo encarnado – Jesus - que veio do Pai e o revelou a nós com tanto carinho e afeição! Mas veja bem, irmão e irmã, o “mistério de Deus” é acessível; não o procuremos nas catedrais, pois, ele mora e nos aguarda no íntimo de nosso próprio coração. Paulo recordou aos Coríntios: “Acaso ignorais que vosso corpo é templo do Espírito Santo que mora em vós e que recebestes de Deus?” (1Co 6,19ª). Deus mora em você e cabe em seu ao o procure longe! Ele está tão perto e é tão compassivo!
* A Trindade é um mistério de comunhão e fez o homem à sua imagem e semelhança; portanto, o homem se realiza na justa medida de sua vida de comunhão e solidariedade. Deus não é solidão e menos ainda, egoísmo! E nós nos realizamos no amor e na comunhão. Amemo-nos, pois, o amor vem de Deus, pois, aquele que ama nasceu de Deus (1Jo 4,7).
“Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo”.


Frei Carlos Zagonel.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Homilia dia (12/06/2011) “Enviai o vosso Espírito e renovai a face da terra!”(Sl 103).


DOMINGO DE PENTECOSTES.
12.06.2011.
“Enviai o vosso Espírito e renovai a face da terra!”(Sl 103).
01.Introdução.
A “Festa do Pentecostes”  celebra o encerramento oficial da missão de Jesus mediante o envio do Espírito Santo, de acordo com sua promessa (Jo 14,15-26). Agora, é a vez do Povo de Deus agir, guiado pelo mesmo Espírito Santo! (Mt 28,18-20). O vento e as línguas de fogo são símbolos da presença do Espírito Santo e da ação missionária da Igreja.
O “Pentecostes” é recordado, também, como proclamação da Nova Lei. O assustador fogo do Monte Horeb é substituído pelo vento e pelas línguas de fogo manifestadas no Cenáculo, onde estavam os Apóstolos reunidos em oração com a Virgem Maria, Mãe de Jesus (At 1,14). O temor deixa lugar para o  entusiasmo missionário: os Apóstolos anunciam Jesus, com coragem, a todos os povos do mundo conhecido presentes em Jerusalém. Embora fossem tantos e tão diversos, cada um deles entendia a pregação apostólica na sua própria língua nativa. É missão do Espírito Santo derrubar as barreiras que impedem a unidade entre os cristãos. Devemos fazer a nossa parte e colaborar com Ele.

02.Palavra de Deus.
      At 2,1-11 - A descida do Espírito Santo é cumprimento da promessa de Jesus e da unidade de todos os povos na formação da única Igreja. Pela ação do Espírito Santo acreditamos que, um dia, haverá um só rebanho e um único Pastor (Jo 10,16).
1Co 12,3b-7.12-13 –  O Espírito Santo garante a unidade dos fiéis na confissão de Jesus como Senhor e Deus. E, ao mesmo tempo, possibilita a multiplicidade de carismas entre os fiéis sem causar divisão ou inveja. Quando o Espírito está presente na comunidade, as mais diversas personalidades podem trabalhar em conjunto sem provocar atritos de interesses personalistas. Uma comunidade sem unidade é uma comunidade sem Espírito Santo!
Jo 20,19-23 – O presente de Páscoa de Jesus foi  a paz e o poder de perdoar os pecados! Esta foi a sua missão, mas, agora, é repassada para os Apóstolos: “Como o Pai me enviou também eu vos envio!” (Jo 20,21).  A paz brota do coração de Jesus, rasgado pela lança e do qual escorre “sangue e água” que apagam nossos pecados. Oh! Sangue precioso do Coração de Jesus, apagai nossos pecados!!

03.Reflexão.
·         Na “Festa do Pentecostes” a Igreja de Jesus é oficialmente inaugurada e os Apóstolos assumem a missão de anunciá-lo até os confins do universo. A Missão inicia com o Pentecostes. E, se a Palavra de Deus é atual e verdadeira, hoje, devemos assumir com entusiasmo  nossa missionária de anunciadores da Paz de Jesus; mas para pacificar devemos, antes, ser pacificados. Seremos instrumentos de paz e de perdão na exata medida de nossa purificação e pacificação interior.
·          Quando o coração dos fiéis de uma comunidade for limpo de todo pecado, a paz será possível; igualmente, será possível a soma de todos os carismas, mesmo que sejam diferentes em sua manifestação.O Espírito Santo unifica os corações; o egoísmo divide e causa esterilidade.
·          Os membros de um corpo são diversos, mas agem em harmonia para o bem do mesmo corpo; do mesmo modo, na Igreja, o Espírito Santo garante coesão e eficiência na ação missionária.

“Vinde, Espírito Santo, enchei os corações de vossos fiéis!”

Frei Carlos Zagonel.

Homilia dia (12/06/2011) “Todos ficaram cheios do Espírito Santo” (At 2,4)


Solenidade de Pentecostes
At 2,1-11; Sl 104(103); 1Cor 3-7.12-13; Jo 20,19-23

À medida que avançam os domingos do tempo pascal, a Igreja relembra, aprofunda e celebra os eventos que compõem a glorificação de Jesus, a saber: a morte na cruz, a ressurreição, a ascensão e o envio do Espírito Santo. E o faz com o espírito repleto de alegria e gratidão, com ação de graças e júbilo, exaltando a obra trinitária da salvação. A Páscoa do Filho Jesus e o Pentecostes do Paráclito são eventos salvíficos intimamente ligados entre si, de modo que não se pode separar a comemoração da Páscoa da comemoração do Pentecostes. Não é por acaso que o tempo pascal é considerado também “o tempo pentecostal” da Igreja, cujos domingos são celebrados “como se fossem um só dia de festa, ou melhor, ‘como um grande domingo’ (Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário, nº 22).

Embora a celebração litúrgica deste domingo nos convide a contemplar mais os acontecimentos do “dia de Pentecostes” do que da Ressurreição, o evento de Pentecostes é, na verdade, o “coroamento”, a “plenificação” do mistério da Páscoa de Cristo, como diz o Prefácio da missa: “Para levar à plenitude os mistérios pascais, derramastes, hoje, o Espírito Santo prometido, em favor dos vossos filhos e filhas”; e também a Oração da Coleta da Missa Vespertina: “Deus eterno e todo-poderoso, quisestes que o mistério pascal se completasse durante os cinqüenta dias, até à vinda do Espírito Santo...”.

A Igreja vive de Cristo e do Espírito Santo. O Filho e o Espírito são “as duas mãos do Pai” (S. Irineu de Lyon) agindo no mundo para a nossa salvação. O Espírito, derramado em Pentecostes é “o verdadeiro fruto do mistério pascal” (Adolf Adam). O Espírito Santo conduz os cristãos ao encontro do Ressuscitado, capacita os pregoeiros do evangelho, concede dons e carismas para a edificação do Corpo de Cristo (a Igreja), de modo que, até o final dos tempos, é o Espírito Santo quem atualiza continuamente a obra e os benefícios da redenção de Cristo na vida dos cristãos.

O evento de Pentecostes situa-se no grande horizonte da unidade do plano salvífico de Deus, que é reunir a humanidade em Cristo por meio de seu Espírito; esta unidade supõe a superação do pecado e das divisões provocadas pelo pecado, restabelecendo a paz e a unidade. Neste sentido, o “acontecimento escatológico” da vinda do Espírito Santo ao mundo, realiza a profecia do Antigo Testamento (Jl 3,1-5) e a promessa de Jesus antes de retornar ao Pai: “Rogarei ao Pai e ele vos dará outro Paráclito, para que convosco permaneça para sempre” (Jo 14,16; 14,26; Lc 24,19; At 1,4).

A primeira leitura, conforme ouvimos, do livro dos Atos dos Apóstolos, narra que “quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar” e, de improviso e surpreendentemente, os discípulos foram “tocados” por um vento rumoroso, seguido de línguas de fogo que pousaram sobre suas cabeças. Pervadidos pelo Espírito Santo, começaram a pregar “em outras línguas” e os ouvintes, que os residentes de Jerusalém que não falavam a língua dos judeus, que os provindos de lugares diferentes, “cada um ouvia os discípulos a falar em sua própria língua” (At 2,1-11).

De nossa parte, seria uma estreiteza de visão bíblica e teológica achar que o Espírito Santo foi dado aos discípulos de Cristo somente uma vez, lá naquele “dia de Pentecostes”. Não! Depois da ressurreição do Senhor, a vinda do Espírito é uma realidade permanente, contínua na vida da Igreja. Este “Pentecostes perpétuo” (Paul Evdokimov) não cessou, nem cessará. É por isso que a Igreja, em seus sacramentos, em sua vida de caridade, em suas orações, em suas decisões, em suas dificuldades, em suas perseguições, sempre invoca a vinda do Espírito Santo (epiclese) para a manifestação de Cristo. A Oração da Coleta pede a Deus a continuidade do evento de Pentecostes para a Igreja e para o mundo: “O Deus, que pelo mistério da festa de hoje, santificais a Igreja inteira, em todos os povos e nações, derramai por toda a extensão do mundo os dons do Espírito Santo e realizai agora, no coração dos fiéis, as maravilhas que operastes no início da pregação do evangelho”.

O evangelho deste domingo descreve a aparição de Jesus ressuscitado aos apóstolos na tarde do domingo da Páscoa (Jo 20,19-23). Diante dos temerosos apóstolos, Jesus se apresenta com os sinais da paixão (“mostrou-lhes as mãos e o lado”) e lhes dá o dom da paz: “A paz esteja convosco” (Jo 20,19.21). A paz do Ressuscitado provoca alegria no coração dos apóstolos; onde está o Senhor, aí há alegria, desaparece o medo e a tristeza. Em seguida, Jesus dá aos apóstolos o dom do Espírito Santo e o poder de perdoar, transformando-os em missionários: “Como o Pai me enviou, eu também vos envio. E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo’. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos” (Jo 20,21-23). Jesus ressuscitado aparece aos discípulos não só para certificá-los de que está vivo, mas para investi-los de uma missão e revesti-los da força do Espírito Santo para continuar a sua obra, a qual, segundo o evangelista João, é tirar o pecado do mundo (Jo 1,36).

Na segunda leitura, o apóstolo Paulo coloca em evidência a atuação de Deus que gera continuamente a Igreja: Deus, por meio de seu Espírito, que derrama seus dons e carismas, realiza a unidade da fé em Cristo e a diversidade de ministérios em vista da edificação da Igreja (1Cor 12,3-7.12-13). A Igreja é continuamente edificada pela Trindade. A Igreja, em sua diversidade de ministérios, responsabilidades, serviços, pastorais, em todas as suas atividades enfim, reflete a comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Entre os muitos aspectos que a festa de Pentecostes nos convida a ressaltar, está, em primeiro lugar, o sentimento de gratidão pelo Espírito Santo, que é o Espírito do Pai e o Espírito do Filho, o qual não cessa de vir ao mundo e de acompanhar, junto com Cristo, a comunidade cristã e o cristão em particular, ontem, hoje e amanhã. A Deus, tantas vezes, só sabemos pedir, mas, quem sabe, hoje, mais do que pedir, saibamos agradecer. A súplica “Vem, Espírito Santo” parece brotar normalmente de nossos corações, mas seria ousadia dizer “Obrigado, Espírito Santo”. Escrevamos com letras maiúsculas: PENTECOSTES É, ACIMA DE TUDO, O GRANDE DOM do Cristo Ressuscitado para a Igreja, o Dom que, de muitas maneiras, a renova, nela renova-se e nela perpetua-se: “A partir de Pentecostes, a Igreja experimenta de imediato fecundas irrupções do Espírito, vitalidade divina que se expressa em diversos dons e carismas (cf. 1Cor 12,1-11) e variados ofícios que edificam a Igreja e servem à evangelização (cf 1Cor 12,28-29). Através destes dons, a Igreja propaga o ministério salvífica do Senhor até que Ele de novo se manifeste no final dos tempos (cf. 1Cor 1,6-7). O Espírito na Igreja forja missionários decididos e valentes como Pedro (cf. At 4,13) e Paulo (cf. At 13,9), indica os lugares que devem ser evangelizados e escolhe aqueles que devem fazê-lo (cf. At 13,2)” (Documento de Aparecida, nº 150).

Em segundo lugar, a festa de Pentecostes é A FESTA DA UNIDADE. O Espírito Santo é o “Espírito da Comunhão”: une as pessoas entre si e com Deus. Enquanto a Torre de Babel, produto dos esforços e ambições humanas, dividiu a humanidade desde os seus primórdios (Gn 11,1-9), o evento de Pentecostes uniu pessoas de diferentes etnias e línguas na mesma fé. A história da humanidade registra divisões de todo tipo, as quais, de tempos em tempos, acentuam-se ora mais ora menos, podendo ser de origem econômica ou social, racial ou ideológica, religiosa ou política. Não basta reconhecer que existem divisões exteriores, pois talvez as piores divisões são aquelas que habitam o nosso interior e cooperam para as divisões exteriores. Basear a busca da unidade exclusivamente no esforço humano é uma luta fadada ao fracasso, inclusive a nível intra-eclesial. Por isso, junto aos reconhecidos e sinceros esforços humanos, deve-se também pedir o dom da unidade, cujo feitor é o Espírito Santo, como bem o proclama o Prefácio da missa de hoje: “Desde o nascimento da Igreja, é ele [o Espírito Santo] quem dá a todos os povos o conhecimento do verdadeiro Deus e une, numa só fé, a diversidade de raças e línguas”. Confiemo-nos, pois, uma vez mais, ao Espírito Santo, o “Mestre invisível” que nos guia no caminho da verdade, cujo trabalho em nós é feito como que por “mãos suaves, mas firmes”.

Gostaria de terminar esta reflexão litúrgica sobre a festa de Pentecostes, transcrevendo as palavras inspiradas de um bispo da Igreja Oriental, Inácio de Latakia, proferidas na 3ª Assembléia Mundial de Igrejas, realizada em Upsala, Genebra (Suíça), em julho de 1968, quando dizia: 

Sem o Espírito Santo:
Deus está distante,
Cristo permanece no passado,
o Evangelho é letra morta,
a Igreja, uma simples organização,
a autoridade, dominação,
a missão, propaganda,
o culto, uma evocação,
o agir cristão, uma moral de escravos.

Com o Espírito Santo:
o cosmos se eleve e geme no parto do Reino,
o homem luta contra a carne,
o Cristo está presente,
o Evangelho é poder que dá vida,
a Igreja, sinal de comunhão trinitária,
a autoridade, serviço libertador,
a missão, um novo Pentecostes,
a liturgia, memorial e antecipação,
o agir humano é divinizado.

Frei Nedio Pertile, OFMCap.
Cuiabá, 09 de junho de 2011



   

domingo, 5 de junho de 2011

Homilia dia (05.06.2011) “Jesus foi elevado ao céu à vista deles” (At 1,8)



                                                                                         Solenidade da Ascensão do Senhor – Ano A
At 1,1-11; Sl 47(46); Ef. 1,17-23; Mt 28,16-20 


A liturgia deste domingo coloca diante de nossos olhos o mistério do Filho de Deus que, após a sua ressurreição, é elevado ao céu. A ressurreição, a ascensão e o envio do Espírito Santo constituem um só mistério, o da glorificação de Jesus Cristo. Terminado o tempo de seu ministério terreno sob o “regime de visibilidade”, Jesus Cristo retorna à glória de onde veio, sentando-se “à direita do Pai”, sendo constituído por Deus mediador entre o céu e a terra, Cabeça da Igreja e Senhor do Universo. O Prefácio da missa convida a render graças pela vitória do Filho sobre o pecado e a morte, para fazer-nos participar de sua glória: “Ele, nossa cabeça e princípio, subiu aos céus, não para afastar-se de nossa humanidade, mas para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à glória da imortalidade” (Prefácio da Ascensão I).

A ascensão do Senhor é um mistério da fé cristã, uma verdade que transcende os limites de nossa compreensão racional, do qual a liturgia nos faz tomar parte e as leituras bíblicas nos esclarecem: “Depois de dizer isso, Jesus foi elevado ao céu à vista deles. Uma nuvem o encobriu, de forma que seus olhos não podiam mais vê-lo” (At 1,9). O evangelista Lucas conta que, após a ressurreição, Jesus apareceu aos discípulos pelo período de quarenta dias para instruí-los e confirmá-los na fé. Agora, na última aparição, promete aos discípulos o envio do Espírito Santo (At 1,5) para que estes o testemunhem em todos os lugares da terra, e, conforme o evangelista Mateus, Jesus lhes confia a grande missão: pregar o evangelho, batizar e expandir a Igreja, de modo que a humanidade inteira se torne discípula e missionária do Senhor, e a promessa de que os discípulos não estarão sozinhos: “Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei. Eis que eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28,18-20).

O autor da segunda leitura faz uma oração na qual exalta a grande obra divina da ressurreição de Cristo, o qual é constituído por Deus como “Cabeça da Igreja” e “Senhor do Universo”: “Ele manifestou a sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fêz assentar-se à sua direita nos céus, bem acima de toda autoridade, poder, potência, soberania ou qualquer título que se possa mencionar não somente neste mundo, mas ainda no mundo futuro. Sim, ele pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a cabeça da Igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude universal” (Ef 1,20-23).

À parte o significado propriamente cristológico da ascensão (exaltação e senhorio de Cristo sobre Igreja e o universo), a ascensão nos faz recordar outros elementos importantes da vida da Igreja e da vida cristã em particular: a continuidade da missão de Cristo no mundo, a lembrança das coisas celestes sem menosprezar as coisas terrestres, e o cultivo da virtude da esperança.

a) A continuidade da missão

Antes de retornar ao Pai, Jesus confia aos seus a missão de continuar o anúncio do evangelho, de modo que, até o seu retorno “em estado de glória”, a Igreja se encontrará “em estado de missão”. Os cristãos, uma vez inseridos no mistério pascal de Cristo, serão suas testemunhas porquanto mantiverem viva a memória da sua cruz e da sua ressurreição “até que Ele volte”: “Cumprir esta missão não é tarefa opcional, mas parte integrante da identidade cristã, porque é a extensão testemunhal da vocação mesma” (Documento de Aparecida, nº 144). O batismo cristão nos associa ao mesmo destino do seu autor, assim todo batizado participa da cruz do Senhor, mas
também, em modo antecipado, de sua ressurreição: “Identificar-se com Jesus Cristo é também compartilhar com seu destino: ‘Onde eu estiver, aí estará também o meu servo’ (Jo 12,26). O cristão vive o mesmo destino do Senhor” (Documento de Aparecida, nº 140). Os cristãos reproduzem em seu viver e em suas atividades, em suas renúncias e dificuldades, em suas decisões e atitudes, a entrega da vida do Senhor na cruz, mas também a sua glorificação. Por isso, é importante que nós, cristãos, modelemos o nosso ser, o nosso viver e o nosso agir na escuta da Palavra de Deus, na participação sacramental, na solidariedade aos mais necessitados, na integração à comunidade de fé, de modo a conduzir a própria vida sob o dinamismo salvífico da cruz e da ressurreição. O mundo carece urgentemente deste testemunho pelo qual proclamamos, na vida e na liturgia, a glorificação de Jesus Cristo.

b) Voltar-se para o céu, mas sem descuidar as realidades terrenas

Ao contemplar a ascensão do Senhor, de cuja glória participamos, somos convidados a dar atenção especial às realidades celestes, às futuras coisas que Deus preparou aos que chamou, porém, sem menosprezar as coisas deste mundo. Também para o mistério de fé da ascensão vale o princípio da encarnação. Se nos for permitido uma comparação, diríamos que devemos colocar um pé no céu e outro na terra, uma mão agarrando o céu, e outra sustentando o mundo. Durante a elevação das oferendas, o sacerdote pede: “[...] por esta comunhão de dons entre o céu e a terra, que nos elevemos com ele até à pátria celeste” (Oração sobre as oferendas). O Prefácio da missa convida a assembléia a unir-se aos que já se associaram, na Igreja celeste, à glória de Cristo: “Em comunhão com toda a Igreja celebramos o dia santo em que o vosso Filho único elevou à glória da vossa direita a fragilidade de nossa carne” (Oração Eucarística I).

Viver voltados para as realidades celestes não quer dizer fuga ou descuido das realidades terrestres, como observa Lucas: “Os apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apareceram-lhes então dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: “Homens da Galiléia, porque ficais aqui, parados, olhando para o céu?” (At 1,10-11). A participação na glória e no senhorio de Cristo não significa evadir-se das responsabilidades que a fé impõe a cada um: “Ao participar dessa missão, o discípulo caminha para a santidade. Vivê-la na missão o conduz ao coração do mundo. Por isso, a santidade não é fuga para o intimismo ou para o individualismo religioso tampouco abandono da realidade urgente dos grandes problemas econômicos, sociais, políticos da América Latina e do mundo, e muito menos fuga da realidade para um mundo exclusivamente espiritual” (Documento de Aparecida, nº 148).

c) O cultivo da esperança

Desde que Jesus subiu ao céu, os cristãos aguardam o seu retorno glorioso. A vida cristã é marcada pela espera da segunda vinda de Cristo: “[...] esse Jesus, que vos foi elevado ao céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu” (At 1,18). Durante a liturgia eucarística, após a recitação da narrativa institucional, os fiéis proclamam: “Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto esperamos a vossa vinda”. Paulo, na segunda carta aos cristãos de Éfeso, pede que Deus ilumine seus corações para que eles conheçam a esperança que lhes está reservada ((Ef 1,18). A Oração do Dia proclama que “a ascensão do Filho é nossa vitória [...], pois membros de seu corpo, somos chamados na esperança a participar de sua glória”; e a Oração depois da Comunhão convida-nos: “[...] fazei que os nossos corações se voltem para o alto, onde está junto de vós a nossa humanidade”.

Tanto a Escritura quanto a liturgia mostram que a espera da vinda do Senhor é um elemento constitutivo da identidade da fé cristã. “O cristão é aquele que espera Cristo”, dizia o Cardeal Newmann. Para muitos, o tempo vivido agora é pervadido de carências (de Deus, da família, da paz e da justiça) de modo que há muito a esperar, mas para outros, o tempo é baseado na experiência da
abundância, da eficácia e da produtividade, de modo que nada mais resta a esperar. Aos que tudo têm, é provável que a virtude da esperança soa incompreensível e inadequada.

Nós, cristãos, não nos definimos apenas pelo fazer, visto que muitas de nossas atividades são iguais aos que não têm fé, e sim pelo relacionamento com Cristo, que veio, que vem agora, e que virá. Isso torna a esperança não uma ação fechada no presente, mas voltada para o futuro, caso contrário cairíamos na conhecida tendência do presentismo, da egolatria, do imediatismo e do consumismo. O dom de esperar purifica nossas esperanças e educa nossos desejos: “A virtude da esperança responde à aspiração de felicidade colocada por Deus no coração de todo homem; assume as esperanças que inspiram as atividades dos homens, purifica-as, para ordená-las ao Reino dos Céus; protege contra o desânimo; dá alento contra todo esmorrecimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna. O impulso da esperança preserva do egoísmo e conduz à felicidade da caridade” (Catecismo da Igreja Católica, nº 1818).

Do ponto de vista antropológico, a atitude de espera mostra que o ser humano vive na incompletude, por isso ele busca constantemente a si mesmo, a Deus e os outros. Seria muito triste se a esperança desaparecesse do rosto e das palavras dos cristãos. Onde há esperança, ali há partilha, solidariedade, convicção. E a esperança precisa de outra aliada importante, a paciência, pois “o amor é paciente” (1Cor 13,4): “A paciência é a arte de viver o incompleto, a parcialidade e a fragmentação do presente sem desesperar-se. Essa não é somente a capacidade de sustentar o tempo, de permanecer no tempo, de perseverar, mas também de sustentar os outros, de suportá-los, isto é, de assumi-los com os seus limites e carregá-los. Mas é a espera do Senhor, o desejo ardente de sua vinda, que pode criar homens e mulheres capazes de paciência frente ao tempo e aos outros”

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Homilia dia (05.06.2011) “Homens da Galiléia, por que estais olhando para os céus?”




1.Introdução.
A Bíblia fala que o número dos estultos (sem inteligência) é infinito! Temos pastores anunciando dia e hora para a volta do Senhor! O Senhor, com certeza, vai voltar, mas o dia e a hora desta volta é o Pai quem sabe (Mt 24,36). Não percamos tempo calculando a data da volta do Senhor; ocupemo-nos, antes, em conquistar o mundo todo para Ele (Mt 28,18-20).
Jesus não ressuscitou para reassumir a vida anterior, humana e sofrida. Ressuscitou para entrar na glória do Pai, portanto, em nível superior. Agora é nossa vez de arregaçar as mangas e colaborar com o Espírito Santo na construção do Reino de Deus. Não fiquemos com o olhar fixo no céu; contemplemos o horizonte do universo e trabalhemos para conquistá-lo para Jesus. Hoje é confirmada a nossa missão de conquistar o mundo para Cristo! Somos discípulos missionários de Jesus, de olhar fixo no horizonte!
O céu é nosso destino! Esta é nossa alegre esperança, mas precisamos, antes, cumprir uma penosa missão: conquistar o mundo para Cristo! Portanto, mãos à obra!

2.Palavra de Deus.
At 1,1-11 – Jesus se despede de seus discípulos prometendo-lhes o Espírito Santo para iluminá-los e fortalecê-los na missão de “testemunhá-lo em Jerusalém, na Judéia, na Samaria e até os confins da terra”(At 1,8). O Pai glorificou Jesus ressuscitando-o dos mortos e fazendo-o sentar-se à sua direita.
Ef 1,17-23 – Paulo deseja, aos fiéis de Éfeso, a iluminação necessária para conhecer a grandeza de Jesus, agora, sentado, com pleno poder, à direita de Deus Pai (Ef 1,20). Ele é o nosso Salvador, mas não deixa de ser o caminho que nos conduz ao Pai.
Mt 28,16-20 – Para Mateus, Jesus encerrou sua missão, exatamente, na Galiléia, onde iniciara sua missão evangelizadora. Agora, é a vez de seus discípulos missionários continuarem à missão dando duro no trabalho até sua volta.

3.Reflexão.
* Cumprida sua missão, Jesus volta para junto do Pai, tendo glorificada sua natureza humana. Ele subiu ao céu levando consigo (“arrastando para dentro de seu mistério) a nossa natureza humana. Discípulos de Jesus, associados à sua missão sobre a terra, já temos o coração no céu. Já estamos sentados à sua direita no Reino do Pai. Portanto, não é apenas a glorificação de Jesus que celebramos; alegres, celebramos, também, nossa ascensão aos céus com Jesus.
* Olhar para o céu foi uma atitude cômoda para os discípulos de Jesus; mas o anjo recorda-nos que a nossa missão está começando! Agora é nossa vez! Precisamos conquistar o mundo todo para Ele. Diria que é uma festa missionária, o início de nossa missão de conquistadores do mundo para Jesus.
* Deixou-nos o Espírito Santo como luz, animador e guia, mas Ele não fica no descanso! Prometeu-nos: “Eis que eu estou convoco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28,20). Por isso, nada de desânimo ou depressão vivida por abandonados. Alegremo-nos, pois, Ele caminha conosco até o fim dos tempos e até os confins do universo.
* Hoje, Ele abriu as portas da eternidade, fechadas desde o pecado de Adão e Eva, para todos os seus discípulos. Somos membros de seu corpo e Ele é nossa cabeça. As portas estão abertas!

“Nosso corpo sofre na terra, mas nosso coração já está no céu!”


Frei Carlos Zagonel.