Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo
At 12,1-11; Sl 34(33); 2Tm 4,6-8.17-18; Mt 16,13-19
Voltamos, neste domingo, o nosso olhar para os apóstolos São Pedro e São Paulo, colunas e fundamento da Igreja, cuja memória integra-se no coração da celebração eucarística. Pedro e Paulo consagraram suas vidas a Jesus Cristo e à Igreja e, por essa causa maior, acabaram sendo martirizados. Eles selaram com o derramamento do próprio sangue o que amaram e defenderam. Ambos sofreram o martírio, em 69 d.C. sob o imperador Nero: Pedro foi crucificado e Paulo foi decapitado. O martírio de ambos uniu-os e prolongou a oferenda martirial de Jesus por amor à humanidade na glorificação do Pai. Aos apóstolos Pedro e Paulo, o nosso reconhecido e justo louvor, como diz a Antífona da entrada da missa: “Eis os santos, que vivendo neste mundo, plantaram a Igreja, regando-a com seu sangue. Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus”. A honra litúrgica prestada aos apóstolos Pedro e Paulo se repete como um eco na vida da Igreja, unindo as gerações dos dois milênios de sua história, pois “a muralha da cidade [celeste] tinha doze alicerces sobre os quais estão escritos os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro” (Ap 21,4).
A primeira leitura (At 12,1-11) descreve a perseguição dos cristãos da comunidade de Jerusalém, durante do reinado de Herodes Agripa. Nesta investida das forças contrárias à Igreja nascente, também Pedro foi preso, porém naquela mesma noite, enquanto a Igreja ora por ele, Pedro foi miraculosamente libertado pelo “anjo do Senhor”. Ao sair da prisão e tendo tomado consciência do que lhe havia acontecido, Pedro exclamou: “Agora sei que o Senhor enviou o seu anjo, livrando-me das mãos de Herodes e de toda a expectativa do povo judeu” (At 12,11). O evangelho da vida de Cristo e seus mensageiros não podem ficar presos às forças maléficas dos homens. A libertação do apóstolo evoca a certeza do salmista: “O Anjo do Senhor acampa ao redor dos que o temem, e os liberta. [...] Iahweh resgata a vida de seus servos” (Sl 34[33] 8.23), e realiza a promessa de Jesus antes de retornar ao Pai: “Eis que eu estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28,20).
A segunda leitura (2Tm 4,6-8.17-18) descreve os últimos dias do apóstolo Paulo, preso em Roma. Ele sabe que deverá enfrentar, em breve, o martírio, por isso o faz serenamente, com a consciência do dever cumprido: “Quanto a mim, já fui oferecido em libação, e chegou o tempo da minha partida. Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4,6-7). Depois de anos a fio, consumando a própria vida no cumprimento da missão para a qual fora escolhido, e confiante na justiça divina, o apóstolo Paulo dá um sentido ao seu martírio: este não é castigo, muito menos fracasso de uma vida em vão, mas, em primeiro lugar, é uma justa homenagem a Deus que o chamou e o consagrou para acolher e testemunhar o evangelho de Jesus Cristo. É por isso que Paulo confia na recompensa da glória que Deus concederá a ele e aos outros que também acolheram o evangelho de seu Filho: “Desde já me está reservada a coroa da justiça, que me dará o Senhor, justo juiz, naquele Dia” (2Tm 4,8). Em segundo lugar, Paulo considera o seu martírio um testemunho muito útil para a edificação espiritual e para a salvação dos seguidores de Cristo: “Tudo suporto por causa dos eleitos, a fim de que eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus, com a glória eterna” (2Tm 2,10).
O evangelho (Mt 16,13-14) narra a confissão de fé de Pedro e a responsabilidade individual que Jesus lhe confiou. Em determinado momento de seu ministério público, Jesus se dirigiu ao território de Cesaréia de Felipe, e ali quis saber o que as multidões e os apóstolos pensavam a seu respeito. Conforme o testemunho dos apóstolos, a multidões reconheciam em Jesus um profeta, sim, um grande profeta, mas apenas e não mais do que um profeta; já Pedro, de sua parte e em nome dos outros apóstolos, reconhece que Jesus é o messias esperado, aquele do qual falavam as Escrituras, mas mais do que isso: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16). O evangelista João descreve a confissão de fé de Pedro, depois da catequese do Senhor sobre o pão da vida: “Senhor, a quem iremos? Tens palavras de vida e nós cremos e reconhecemos que tu és o Santo de Deus” (Jo 6,68).
Em resposta à confissão de Pedro, Jesus o confirmou na fé e lhe confiou a responsabilidade de ser o chefe da Igreja, outorgando-lhe inclusive um novo nome: Pedro (em grego: Cefas), que significa Rocha, sobre a qual a Igreja se assentará: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne ou o sangue que te revelaram isso, e sim o meu Pai que está nos céus. Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do reino dos céus e o que ligares na terra será ligado no céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,17-19). Jesus deu a Pedro a responsabilidade de ser o fundamento firme, sólido, inquebrantável da Igreja até o tempo da parusia. Mateus compara a Igreja a uma casa, que é de Deus, e para esta casa, o Filho de Deus entrega as chaves a Pedro, para abrir ou fechar a porta (“o poder das chaves”, o primado de Pedro), de modo que o que Pedro faz aqui na terra, repercute no céu.
Nós rezamos no Creio: “Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica”. Ao dizermos que a Igreja é apostólica, confessamos que ela é edificada (construída) sobre o testemunho dos apóstolos. O apóstolo Paulo diz que os cristãos são “concidadãos dos santos e membros da família de Deus [...], edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas (Ef 2,19). A Igreja conserva e transmite tudo o que Jesus Cristo ensinou aos apóstolos por seus discursos e ações. Tudo o que Jesus fez e ensinou chegou até nós através dos sucessores dos apóstolos (sucessão apostólica). É por isso que, neste dia, ao venerarmos a memória dos apóstolos Pedro e Paulo, as orações presidenciais pedem a Deus para perseverarmos na “doutrina dos apóstolos”: “Ó Deus [...] concedei à vossa Igreja seguir em tudo os ensinamentos destes apóstolos que nos deram as primícias da fé” (Oração do dia); “Concedei-nos, ó Deus, por esta eucaristia, viver de tal modo em vossa Igreja que, perseverando na fração do pão e na doutrina dos apóstolos, sejamos um só coração e uma só alma” (Oração depois da comunhão).
A liturgia deste domingo nos propõe a força de dois testemunhos autênticos, Pedro e Paulo, que consagraram suas vidas à Alguém: Jesus Cristo. Sabemos que o exemplo de vida vale mais do que muitas palavras. É legítimo duvidar ou questionar idéias e teorias, no entanto, um testemunho fala por si mesmo, não se o questiona, pois torna credível a razão pela qual a vida é doada. Deus seja louvado por estes dois apóstolos, mártires e santos, que edificaram com as suas palavras, a sua sabedoria e seu o testemunho clarividente, a Igreja de Jesus Cristo. Que o testemunho destes apóstolos ajude os cristãos a recuperar o zelo missionário para que o evangelho se torne cada vez mais conhecido e vivido.
E, oremos, pelo nosso papa, Bento XVI, vigário de Cristo e sucessor de Pedro, para que Deus continue iluminando-o com a sabedoria do Alto para governar a Igreja Católica em fidelidade à missão que Cristo confiou a Pedro e a seus sucessores. A missão do papa é uma missão difícil, vai além das suas próprias forças, por isso unamo-nos aos que elevam suas preces ao sucessor de Pedro, suplicando a Deus pela sua saúde e vida longa, e assim mantenha a Igreja unida na mesma fé, no mesmo amor e na mesma esperança. Por fim, agradeçamos a Deus pelo papa que Deus colocou à frente da Igreja para o nosso bem: “Viva o Papa nosso pai comum...”.
Frei Nedio Pertile, OFMCap.
Cuiabá, 01 de julho de 2011
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