sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Homilia dia (14.08.2011) A salvação de Deus não conhece fronteiras




A salvação de Deus não conhece fronteiras

XX Domingo do Tempo Comum – Ano A
Is 56,1.6-7; Sl 67(66); Rm 11,13-15.29-32; Mt 15,21-28

Reunidos em assembléia litúrgica, lembramos e proclamamos a graça da salvação do Deus Trino, oferecida a toda a humanidade. Esta graça, conforme o plano divino, centralizada em Jesus Cristo, nosso Redentor, por quem recebemos o Espírito Santo e no unimos ao Pai, é gratuitamente oferecida a quem a acolher com fé. Em seu transbordamento de amor eterno, “Deus, nosso Salvador, quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Não é sem razão que, já no Antigo Testamento, o salmista, tateando em sua fé, o dom da salvação estendido além das fronteiras do povo hebreu, convida a louvar o Senhor do Universo, dilantando a sua bênção a todas as gentes: “Que todas as nações vos glorifiquem, ó Senhor. [...] Que na terra se conheça o seu caminho e a sua salvação por entre os povos” (Sl 67[66]). A liturgia, ao evocar o misterioso plano de salvação universal, nos faz proclamar que o Deus Amor preparou aos que o amam “bens que os olhos não podem ver” e que a prática da caridade nos faz ir “ao encontro das promessas divinas que superam todo desejo” (Oração do dia).

Dos caminhos da sabedoria e pedagogia divinas, desvela-se a predileção de Deus por um povo pequeno e sofrido, mas transformado em “luz das nações” (Is 42,6;49,6). Os profetas pressentem que a salvação de Deus não poderia ser exclusividade de Israel. A primeira leitura (Is 56,1.6-7), um oráculo profético pós-exílico, ao encher de esperança o povo sofrido recém retornado à sua pátria, aonde tudo deveria ser restaurado, convida os estrangeiros a se associarem aos judeus na prática da Lei e no culto do templo para participarem também eles da salvação. Para experimentar a salvação, não era mais preciso ser da etnia judaica, em contrapartida era necessário a fidelidade aos preceitos da Lei do Senhor, e assim o templo se tornaria “casa universal”: “Minha casa será chamada casa de oração para todos os povos” (Is 56,7).

Para realizar o plano divino da salvação universal, o Filho de Deus nasce, vive e trabalha em terras judaicas. O nosso Salvador, Jesus Cristo, compreende a si mesmo primeiramente como o Enviado “às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 15,24) e que “a salvação vem dos judeus”, como havia declarado no diálogo com a samaritana (Jo 4,22). À época do ministério público do Senhor, havia o senso comum de que o povo judeu era o “filho predileto” de Deus, com conseqüente desprezo aos que não pertenciam à etnia judaica, considerados como “cachorros”. A este propósito, os mestres da lei ensinavam que “quem come com um idólatra é como alguém que come com um cachorro”. Jesus não se atém à distinção entre judeus e pagãos, superando o senso comum do desprezo aos de “fora” da etnia judaica. A pregação e a atividade de Jesus rompe as barreiras do puro-impuro, justo-pecador, bom-mau, bem como a pregação dos apóstolos depois da ressurreição do Mestre. Dentro das fronteiras do judaísmo, Jesus vai ao encontro dos publicanos e pecadores para oferecer-lhes a salvação, demonstrando e declarando-se amigo dos pecadores e publicanos. O evangelista Mateus mostra que os benefícios da salvação alcançaram também os não-judeus, como é o caso da cura do servo do centurião (Mt 8,5-13), a expulsão dos demônios entre os gadarenos (Mt 8,28-34) e a viagem ao território de Cesaréia de Felipe (Mt 16,13).

O evangelho deste domingo narra a cura da filha de uma mulher cananéia, na região de Tiro e Sidônia (Mt 15,21-28). O evangelista Mateus ressalta a fé e a coragem desta mulher estrangeira, tão profundamente angustiada e que chega a se humilhar até invocar o “Messias dos judeus”: “Senhor, Filho de Davi, tem piedade de mim: minha filha está cruelmente atormentada por um demônio!” (Mt15,22). A mulher não desiste da súplica nem mesmo diante do aparente silêncio de Jesus. A insistência da fé da cananéia é exemplo de fé para todos os que crêem em Cristo, como fazem nas assembléias ou individualmente. O aparente silêncio de Jesus representa o “silêncio de Deus” diante dos sofrimentos humanos. Somente uma grande fé pode vencer as resistências do mal. Muito embora os discípulos achassem incômoda a insistência da mulher estrangeira a ponto de pedirem que Jesus a mandasse embora (Mt 15,23), o próprio Jesus dá uma lição aos ciumentos discípulos, louvando a fé da mulher e atendendo o seu pedido: “’Mulher, grande é a tua fé! Seja feito como tu queres!’ E a partir daquele momento sua filha ficou curada” (Mt 15,28). A cura da filha da cananéia mostra que a salvação de Deus não conhece fronteiras. Com efeito, após a ressurreição, os apóstolos recebem o mandato de levar o evangelho a todos os povos (Mt 28,19).

O apóstolo Paulo, tomado de zelo pelo anúncio da salvação cristã, a partir da missão recebida do Ressuscitado, vangloria-se de ser o “apóstolo dos gentios”: “E a vós, gentios, eu digo: enquanto apóstolo dos gentios, eu honro o meu ministério” (Rm 11,13). O apóstolo, como vimos domingo passado, não acredita que Deus excluiu os judeus do seu plano de salvação. A infidelidade dos judeus diante da misericórdia de Deus é parcial e temporária, por isso não universal e não definitiva, considerando que “são insondáveis os seus juízos e impenetráveis os seus caminhos” (Rm 11,33). Embora Paulo seja um cristão convicto, sobre cujas costas carrega a responsabilidade de levar a salvação cristã para fora das fronteiras do judaísmo, continua a considerar-se membro da etnia judiaca (“minha carne”), expressando a ela a sua solidariedade e provocando o “ciúme” para tentar salvar, pelo menos, alguns judeus (Rm 11,4). Sim, a salvação é oferecida aos judeus, mas também aos pagãos: “Não me envergonho do evangelho: ele é a força de Deus para a salvação de todo aquele que crê, em primeiro lugar do judeu, mas também do grego” (Rm 1,16). E, aconselha aos pagãos convertidos não se ensoberbecerem ou se vangloriarem porque acolheram o Salvador; compara-os aos ramos de uma oliveira selvagem enxertados numa oliveira doméstica (judeus), de cuja raiz e seiva se sustentam (Rm 11,16-24). No mistério e paradoxo de seu plano de salvação, diz Paulo: “Deus encerrou todos na desobediência para a todos fazer misericórdia” (Rm 11,32).

A lógica divina da salvação é a lógica da inclusão e da unidade. A história humana, no entanto, não é regida por esta lógica, como seria de se esperar a partir do projeto de salvação universal, retomado de geração em geração no decurso da história. As discriminações de ordem étnica, religiosa e econômica tendem a se reproduzir de geração em geração. Ainda hoje deparamo-nos com a ditadura ou imposição das diferenças, criando divisões e classificações, acompanhadas às vezes de intolerância e violência. O fenômeno das discriminações pervade os relacionamentos, mas não só, envenena o interior das pessoas, gerando atitudes excludentes e de superioridade. Por incrível que pareça, distando há dois mil anos da mensagem evangélica, repetida incansavelmente por zelosos pregadores, o ideal do único Deus e da fraternidade humana continua sendo um ideal a ser buscado. As experiências humanas não iluminadas pela fé acabam apagando a sede da experiência da salvação, e distanciando a própria vida de sua fonte. Quando as pessoas e a sociedade em seu conjunto perdem a direção do plano de Deus, a conseqüência é o extravio, a degeneração, a arbitrariedade e a irracionalidade.

Por mais que a história humana, marcada pelo pecado, tente a impor a lógica da divisão e da perdição (cultura de morte), cabe aos cristãos testemunhar um sadio otimismo e uma alegria profunda, fundamentada na graça da salvação, que compromete na salvação do mundo. Renovemos, por isso, cada dia, a fé e a esperança no amor salvador e gratuito de Deus, para alimentar a prática da caridade em favor de uma cultura de vida. Não nos cansemos de dizer ao nosso coração: “Faze o bem e evita o mal”, para que ele seja o mestre a nos guiar na busca do que realmente enobrece e dignifica a vida humana. Utilizemos o tempo da oração, mas também o tempo do trabalho e do lazer, o tempo dos passeios e das visitas, para não perder de vista que Deus quer nos salvar, não sozinho, mas conosco, que Ele reclama a nossa companhia e o nosso amor. Cooperemos com aquilo que o Espírito de Deus desperta em nossas consciências, seja para o bem das pessoas e o nosso próprio bem, seja para o louvor da glória do Nome de Deus. Nem o pecado, nem o desespero, nem a presunção, nem os “profetas das desgraças”, ou seja, nada e ninguém podem desfazer ou apagar a certeza que Deus escreveu em nossos corações: a participação no seu Reino de vida eterna, já vivido e experimentado, de alguma maneira, em nossa vida presente. Não apaguemos a sede da paz, a sede do verdadeiro amor, a sede da justiça, a sede da fraternidade, a sede da Beleza, a sede de Deus!

Frei Nedio Pertile,OFMCap.
Cuiabá, 11 de agosto de 2011
 

Homilia dia (14.08.2011) “Volvei para nós o vosso olhar!”


LITURGIA – XX DOMINGO COMUM.
14.08.2011.
“Volvei para nós o vosso olhar!”
1.Introdução.
Haverá salvação para todos os povos, independente da “religião” seguida? O Povo de Israel imaginava-se único herdeiro das “Bênçãos divinas”, e, no entanto, muitos desconhecidos e até inimigos de Israel foram objeto da salvação divina! Puderam erguer suas preces e realizar seus sacrifícios no Templo do Senhor. Embora exista a verdadeira Igreja de Jesus, o templo que Deus prefere é o do coração humano; é no íntimo de nosso coração que podemos adorar o verdadeiro Deus!
No Evangelho deste domingo, Jesus faz um milagre em favor de uma estrangeira e inimiga de Israel, uma cananéia! Exaltou sua fé e demonstrou que também os estrangeiros podem participar e comer na mesa do senhor, não na condição de cachorrinho que se alimenta de migalhas, mas de filho de Deus!
Deus conhece o coração humano. É no íntimo do coração humano que Ele faz sua morada e recebe um culto agradável! Com certeza, Deus, hoje, distribui com abundância sua graça no coração de muitos fiéis crentes, e a faz escassear no coração dos católicos acomodados!

2.Palavra de Deus
Is 56, 1.6-7 - Regressando do Exílio da Babilônia,Israel centraliza sua fé no Templo, na Lei e na Raça: Javé é o Deus dos judeus e suas promessas são exclusivas para o Povo judeu. Mas Deus garante que seu Templo será Casa de Oração para todos os povos! O Povo Israel custa engolir esta verdade!
Rm 11,13-15.29-32 – Paulo, Apóstolo designado para os gentios, se dá conta que estes já são mais numerosos que os judeus na Igreja de Jesus. Sua esperança é que funcione a lei do ciúme: os judeus se convertam por causa do grande número de gentios aderindo à fé em Jesus Cristo! Talvez, hoje, o crescimento dos crentes estimule o zelo e o retorno dos católicos à sua verdadeira Igreja!
Mt 15,21-28 – Jesus, solicitado pela mulher cananéia, procura induzi-la à verdadeira fé no Messias. Sua fé é humilde, insistente e confiante = “Mulher, grande é a tua fé! Seja feito como queres!” Para os Apóstolos ela era uma mulher incômoda; para Jesus, uma mulher cheia da verdadeira fé e iniciadora da adesão a Jesus da parte dos estrangeiros. Jesus não se importa com a “religião”, mas com o “coração” das pessoas!
3.Reflexão.
* Vivemos no meio de confusão muito grande no que diz respeito a crenças e religiões; cada qual reivindica sua veracidade! Será que Deus olha para as igrejas ou para o coração do ser humano? Com certeza, o coração é o templo preferido de Deus! Na conversa com a mulher cananéia, Jesus indica pormenores de sua pedagogia: Primeiro, induz a Cananéia para uma confissão de fé verdadeira no Messias judeu; e, em segundo lugar, valoriza a persistência, a humildade e a paciência. Não é qualquer “fé” que agrada a Deus! Ele nos revelou seu Filho, Jesus Cristo, e o constituiu Senhor, Salvador e Juiz! Longe do Jesus, revelado pelo Pai, não há salvação!
* Deus destinou à salvação todos os povos, independente de raça e de igreja! E a promessa de Deus não é anulada por causa de nossos pecados. Ela permanece. Basta voltar-se para Ele com a paciência humilde e a confiança persistente da mulher Cananéia!
* Mas será que o mundo de hoje deseja milagres de conversão ou a conversão de tudo em dinheiro, saúde e bem estar? O deus do mundo capitalista e de algumas igrejas mediáticas (de televisão) mais se parece com um “Baal /devorador” do que com Jesus Cristo, o Salvador!
* Cuide de seu coração; ele é o templo que Deus mais aprecia! Para a samaritana Jesus disse: “Deus procura adoradores em espírito e verdade!”(Jo 4,23).

“Mulher, grande é a tua fé! Seja feito como queres!”
Frei Carlos Zagonel

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Homilia dia (07.08.2011) “Tende confiança, sou eu, não tenhais medo!” (Mt 14,27)

“Tende confiança, sou eu, não tenhais medo!” (Mt 14,27)

XIX Domingo do Tempo Comum – Ano A
1Rs 19a,9.11-13a; Sl 85(84); Rm 9,1-5; Mt 14,22-33

Cada vez que nos reunimos em assembléia litúrgica, comemoramos a presença de Deus no meio de nós e em nós. Lembramos os fatos salvíficos e passamos a contemplar também o espírito com o qual Deus vem até nós, por meio de sua Palavra, de seu Filho e de seu Espírito. O Deus transcendente e inacessível paradoxalmente não quer ficar longe de quem ama, ao contrário, quer ficar perto, tão perto, a ponto de querer ser nosso “hóspede”. E continua a nos falar da sua vida, do seu amor e da sua paz, como falou no passado com e por meio dos patriarcas, dos profetas e do próprio Filho, Jesus Cristo. E o nosso coração, ao ingressar no templo, se enche de uma sadia expectativa, como a do salmista: “Quero ouvir o que o Senhor irá falar: é a paz que ele vai anunciar. [...] O Senhor nos dará tudo o que é bom, à nossa terra nos dará as suas colheitas; a justiça andará na sua frente e a salvação há de seguir os passos seus” (Sl 85).

A primeira leitura (1Rs 19a,9.11-13a) narra duas experiências religiosas paradoxais do profeta Elias. Num primeiro momento, levado pela confiança e pelo zelo ao Deus único e verdadeiro, o profeta age com violência, invocando o fogo celeste e destruindo os falsos profetas no monte Carmelo (1Rs 18,20-40). Num segundo momento, cansado da violência, da perseguição sofrida e da fuga pelo deserto, refugia-se numa gruta no monte Horeb. Ali, algo inusitado lhe acontece: pensando que Deus se manifestasse por meio de sinais cósmicos de força – vento impetuoso, terremoto e fogo – como havia acontecido no passado de Israel (cf Ex 19), eis que Javé “passa” diante do profeta “no murmúrio de uma brisa suave” (1RS 19,12). A vocação profética impunha a Elias uma nova experiência: a suavidade da intimidade com o Deus ao qual servia, o que não lhe eliminava a firmeza e a dureza de suas palavras e ações proféticas. É por meio da palavra do profeta, acompanhada de ações, que Deus levará adiante o seu plano de purificação e salvação de seu povo.

O evangelho de Mateus (14,22-33) narra a travessia dos apóstolos no lago de Genesaré, logo após a multiplicação dos pães. Os apóstolos seguem sozinhos, de barco, e são surpreendidos por uma forte ventania e ondas altas que ameaçam afundar a barca. O medo toma conta deles. É nesta hora que o Filho de Deus, o Senhor do universo, “por quem e para quem foram feitas todas as coisas” (Jo 1,3), intervém, caminhando sobre as águas, fazendo cessar a ventania e serenando as águas revoltas, para serenar os apóstolos, tomados de medo. Os apóstolos, ainda incrédulos em relação ao Mestre, ao vê-lo caminhando sobre as ondas, pensam ser um fantasma, mas Jesus lhes desfaz o equívoco imediatamente e os convida à fé: “Tende confiança, sou eu, não tenhais medo” (Mt 14,26). Refeito do susto e do medo, o apóstolo Pedro quer imitar o Mestre, caminhando também sobre as águas, mas fraqueja em sua fé, e começa a afundar, merecendo a advertência do Mestre: “Homem fraco na fé, por que duvidaste?” (Mt 14,31). Ao testemunhar o senhorio de Jesus sobre a ventania e a água agitada, os apóstolos reconhecem a sua divindade: “Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus” (Mt 14,33).

Os povos antigos costumavam personificar as forças da natureza, por causa dos perigos a que os humanos eram submetidos em algumas situações. Conforme a mitologia de então, a qual parece refletir-se nas reações dos apóstolos pescadores, o mar era habitado por um monstro marinho, o Leviatã, e a tempestade representava a força do inimigo. O fato de Jesus caminhar sobre as águas  mostra então o poder divino sobre a sua criação: Deus reina sobre a terra, o mar e no fundo dos mares (Jó 9,8; 38,16; Sl 76 (77) 17-19; Is 43,16; Eclo 24,81). A barca, conforme a interpretação dos Padres, é a imagem da Igreja, ameaçada pelas forças de morte do mundo, mas que, com a presença do Senhor, navega com segurança entre águas agitadas, sem afundar.

A segunda leitura é um testemunho forte da preocupação e do amor do apóstolo Paulo  pelo povo israelita, que não acolheu Jesus Cristo e nem seu evangelho: “Tenho uma grande tristeza e uma dor incessante em meu coração” (Rm 9,2). Paulo reconhece que os judeus foram beneficiados pelo amor de predileção de Deus, aos quais concedeu muitos privilégios: “A eles pertencem a adoção filial, a glória, as alianças, a legislação, o culto as promessas e também os patriarcas, e dos quais descende Cristo, segundo a carne” (Rm 9,4-5). Paulo não diz meias verdades, e ao fazer isso não exagera porque crê na salvação também dos judeus, pois a salvação foi oferecida a eles primeiramente, depois aos gentios. Tamanho é o seu amor a Israel, de quem se sabe pertencente, que não teme ser excluído da salvação, se o seu testemunho os converter: “Quisera eu mesmo ser anátema, separado de Cristo, em favor de meus irmãos, de meus parentes segundo a carne, que são os israelitas” (Rm 9, 3-4).

O testemunho da presença de Deus “no murmúrio da brisa mansa”, para o profeta Elias, e a intervenção de Jesus de acalmar as ondas do lago de Genesaré, mostram-nos a imagem de um Deus que age pela via da serenidade, e não da violência ou do extraordinário ou do medo. As idéias e as imagens que forjamos de Deus nem sempre se harmonizam com a maneira pela qual Deus se fez conhecer. As imagens de Deus, forjadas pelos interesses humanos, podem levar as pessoas à descrença e até mesmo esconder o “rosto” de Deus. A história das religiões mostra o forjamento destas imagens, feitas sob medida humana. Infelizmente, muitos ainda procuram-nO aonde não O podem encontrar. A tentação da idolatria freqüenta até mesmo o culto. A Deus não se inventa, mas se O acolhe. Não lhe apraz atemorizar – como o Leviatã - a quem escolheu como seus filhos e filhas para amar, ao contrário, como Moisés exclamou, após renovar a aliança: “Iahweh! Iahweh... Deus de compaixão e piedade, lento para a cólera e cheio de amor e fidelidade” (Ex 34,6). Uma religiosidade baseada em práticas mágicas e comerciais, ou uma religiosidade baseada num tipo de dependência que destrói a liberdade e a criatividade  mais afasta do que aproxima do Deus verdadeiro.

Uma imagem forjada de Deus não condiz com a serenidade produzida pela vivência da sua Palavra. O coração da oração cristã é feito pela escuta e internalização da sua Palavra, aonde as imagens são purificadas e convertidas: “Seja feita a tua vontade” (Mt 6,10). Os ecos de sua Palavra nos fazem caminhar com segurança entre os escombros do mundo, o qual se afadiga na luta entre a verdade e a mentira, entre a vida e a morte. A presença de Deus nos faz navegar com segurança nos mares revoltos da vida exterior e da vida interior, pois “Ele é a nossa Paz” (Ef 2,14). Ele é como a água que nos refresca em dia de secura, é como a brisa que cobre de serenidade os vales e as montanhas, é como o sereno que umedece e verdeja em silêncio a natureza. Sim, na provisoriedade e nas contrariedades da existência humana, marcada pelo pecado e pela graça, pelas luzes e sombras, por tempestades e calmarias, a presença de Deus nos enche de certezas e de uma alegria indizível. Que o bom Deus nos dê “um coração de filhos para alcançarmos um dia a herança prometida” (Oração do dia), e que a comunhão eucarística “nos traga a salvação e nos confirme na vossa verdade” (Oração depois da comunhão).

Frei Nedio Pertile, OFMCap.
Cuiabá, 02 de agosto de 2011

Homilia dia (07.08.2011) “Como sopram os ventos de Deus?”


LITURGIA – XIX DOMINGO COMUM.
07.08.2011.
“Como sopram os ventos de Deus?”
1.Introdução.
O profeta Elias vive tempos de perseguição e violência. Ele extermina os sacerdotes de Baal, mas a rainha Jezabel promete vingar-se com a morte do profeta Elias! Este foge para o deserto e, deprimido, deseja morrer! Deus, porém, o convoca para uma audiência (conversa) na altura do Monte Horeb!
Jesus, por sua vez, compadecido com a multidão faminta, multiplica o pão e os peixes, caminha sobre as ondas, domina a tempestade do mar, permite a Pedro caminhar sobre as ondas do mesmo, mas assusta-se com a impetuosidade do vento e clama por socorro! Jesus lhe estende a mão e o salva... a ventania cessa e o mar entra em calmaria!
Parece que nos dois momentos temos duas linguagens de Deus: a ventania e a brisa mansa da montanha são duas mensagens divinas. Parece que Javé escolhe a mansidão como pedagogia pastoral, e domina, com uma simples ordem, a misteriosa violência do mar.
Os Apóstolos, prostrados, exclamam: “Verdadeiramente, tu é o Filho de Deus!”

2.Palavra de Deus.
1Re 19,9ª.11-13ª – O profeta Elias, fugindo de Jezabel, chega ao Monte Horeb onde aguarda a fala de Deus que não se manifesta na violência , mas na mansidão de uma simples brisa mansa. Nova linguagem de Deus! Por que Deus escolhe a brisa mansa como expressão de sua presença?
Rm 9,1-5 – O Apóstolo Paulo vive triste por causa da resistência do Povo judeu; ele ama tanto esse povo que aceitaria ser condenado em troca de sua salvação. O amor, quando verdadeiro, é sempre solidário até o sofrimento. Não existe amor descomprometido para Paulo, discípulo de Jesus!
Mt 14,22-33 – Para os antigos, o mar era moradia das forças infernais e a tempestade era uma de suas manifestações. Mas Jesus caminha sobre as ondas do mar e acalma a tempestade. É senhor do mar e de sua temível potência. Pedro não teve fé suficiente para enfrentar o mar! Invocou o socorro de Jesus!

3.Reflexão.
* A Bíblia gosta de símbolos e, muitas vezes, Deus se expressa em símbolos. Precisamos estar atentos para descobrir a linguagem de Deus. Elias, homem de oração, profeta fiel e zeloso, agiu com violência contra os sacerdotes de Baal. Matou a todos! Mas, agora, angustiado pela perseguição da rainha, e deprimido por causa de seu fracasso, deseja morrer! Mas, Deus o chama para uma conversa pessoal, lá no alto do Monte Horeb. Mostra-lhe duas coisas: 1- Deus prefere o caminho da mansidão e da suavidade paciente (aragem) e 2- Elias não é o único que mantêm fidelidade a Javé. Há muita gente boa por aí, basta ter paciência e olhar limpo para observar. Só em Damasco há cinco mil que não dobraram seu joelho diante de Baal!
* Jesus revelou sua divindade multiplicando o pão e os peixes (sinal já conhecido pelos Apóstolos) e pelo domínio sobre o mar e a tempestade. O homem nada pode contra estas forças (diabólicas, segundo a superstição). Mas, Jesus domina-as com uma simples ordem! Pedro, também, quis caminhar sobre as ondas (e quem não gostaria?)! Jesus salva Pedro e nos ensina que está sempre atento aos nossos “pedidos desesperados”! Ele tem poder de socorro! Por quê, você não grita por Jesus no meio dos perigos desta vida, deste mundo, como fez Pedro?
* O domínio da tempestade e do mar é mais uma linguagem simbólica de nosso Deus: Ele tem poder... Basta você gritar por socorro! Ou tem medo até de gritar e prefere afogar-se?


“Senhor, não desprezeis o clamor de quem vos busca!”

Frei Carlos Zagonel.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Feliz dia do Padre


Padre, pessoa de Deus
Porta voz de Jesus Cristo
Ser Padre é uma aventura
Viver entre espinhos e rosas
Sem nunca reclamar
Pronto a nos ajudar
Padre é aquele que perdoa
Que partilha os Sacramentos
Que anuncia a Boa-Nova
Que da massa é o fermento
Ser Padre é estar a serviço dos outros
Sem se preocupar com o tempo
Ser Padre é partilhar O pão que é Jesus
Alimenta com a palavra
Mostrando esta luz
Ser Padre: É ser alegre e otimista
É ser sal e luz
É ajudar o irmão
É sentir o peso da cruz
É ser filho de Deus
É ser irmão de Jesus!
Ser padre é ser “pai” de uma comunidade inteira. Como tal, ele é o homem da Palavra de Deus, da Eucaristia, do perdão e da bênção, exemplo de humildade, penitência e tolerância, o pregador e conversor da fé cristã. Enfim, é um comunicador e entusiasta da Igreja, que luta por uma vivência cristã mais perfeita.