terça-feira, 30 de novembro de 2010

Evangelho de hoje (30/11/2010) Mateus 4, 18-22




Jesus estava andando pela beira do lago da Galiléia quando viu dois irmãos que eram pescadores: Simão, também chamado de Pedro, e André. Eles estavam no lago, pescando com redes. Jesus lhes disse:
- Venham comigo, que eu ensinarei vocês a pescar gente.
Então eles largaram logo as redes e foram com Jesus.
Um pouco mais adiante Jesus viu outros dois irmãos, Tiago e João, filhos de Zebedeu. Eles estavam no barco junto com o pai, consertando as redes. Jesus chamou os dois, e, no mesmo instante, eles deixaram o pai e o barco e foram com ele.
Bíblia Sagrada, Nova Tradução na Linguagem de Hoje
Bom dia!
Celebramos hoje o dia de Santo André, o primeiro discípulo. Filho de Jonas e Irmão de Pedro, aquele que ouviu de seu mestre João Batista a frase que muito conhecemos “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” e ao escutar isso, de imediato inflama-se no seu peito o amor, pôs-se então a seguir Jesus.
André foi também o primeiro “recrutador” de seguidores de Jesus; apresentou seu irmão Pedro a Jesus e ali, nesse primeiro encontro, já mencionava a Pedro, que Jesus era o messias que estava por vir; foi ele também que disse ao senhor que um pequeno rapaz tinha cinco pães e dois peixes, pouco antes da multiplicação.
André foi o primeiro, mas nunca se teve noticia ou relato que se importava de ser o “segundo” a frente dos discípulos. Bem antes de Simão se tornar Pedro, nele já habitava a vontade e o ardor missionário de seguir os desígnios de Deus. Ele deixa claro o despojar das vaidades até mesmo no seu martírio, quando antes de receber a pena capital, deu aos seus algozes tudo que possuía. Ele não fez questão de nada; sentia no peito o imenso e contagiante orgulho de ter combatido até o final.
Sabe irmãos, não importa para Deus se somos operários da primeira ou da ultima hora; primeiros ou segundos (…) talvez não importe o que fizemos, mas o que DEIXOU de ser feito; não importa por onde andei, como vivo, como encaro a minha própria realidade, mas a QUANTIDADE DE PASSOS que dou de VONTADE PRÓPRIA para o lado certo. Não importa o quanto falo, mas o quanto OUÇO; não importa o quanto me ostento, mas o quanto SILENCIO e talvez nessa nossa primeira semana do advento, o perdão que precisamos pedir é o do nosso ímpeto, do nosso orgulho, das nossas vaidades, razões, (…). Precisamos voltar para Deus.

“(…) após a morte nada mais há, o louvor terminou. Glorifica a Deus enquanto viveres; glorifica-o enquanto tiveres vida e saúde; louva a Deus e glorifica-o em suas misericórdias. Quão grande é a misericórdia do Senhor, e o perdão que concede àqueles que para ele se voltam”(Eclesiástico 17, 27-28)

Um fato curioso… Poucos notam que nesse evangelho Mateus diz que Jesus encontrou os dois discípulos (Pedro e André) e os convidou a ser pescador de homens, mas é importante ler também o Evangelho de João pois é lá que encontraremos os fatos que citamos no inicio da reflexão.

“(…) André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido João e que o tinham seguido. Foi ele então logo à procura de seu irmão e disse-lhe: Achamos o Messias (que quer dizer o Cristo). Levou-o a Jesus, e Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João; serás chamado Cefas (que quer dizer pedra). (João 1, 40-42)

Por que essa preocupação em trazer o outro texto? Por se tratar de um texto tão rico precisamos ler e minúciar outras partes deles para não cometer equívocos de interpretação. Quantas vezes no dia-a-dia nos falta este zelo em minúciar as nossas palavras e ações ao dar uma opinião, uma sugestão, ou ao tecer um comentário? Quantas vezes olhei somente por minha ótica, meus interesses, minhas dores, a um determinado problema e acabei, por orgulho, ferindo alguém?
Sugeri ano passado umas perguntas para alto-reflexão:
  • O que tenho que melhorar após esse perdão de Deus?

  • O que ainda é falho em mim?

  • Que aspectos ainda precisam ser completados?

  • Temos máscaras para o mundo, mas não para aquele que nos conhece.

Uma coisa é comum nos dois evangelhos: “IMEDIATAMENTE se puseram a seguir Jesus”
Um imenso abraço fraterno.





Alexandre Soledade
"(...) A alegria evita mil males e prolonga a vida". (William Shakespeare)
(65) 8408-4145

Deus é Maior 

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Dia 28/11 Aniversário do Frei Nedio Pertile



Nós Ministros Extraordinários da Paróquia Nossa Senhora Aparecida queremos desejar a você muitas felicidades, muitos anos de vida...
Somos gratos por tudo que faz por nossas comunidades, e pelo nosso blog, através de suas homilias dominicais que nos manda semanalmente...
Que Deus continue abençoando sua vocação Sacerdotal!


 Ao amigo Nedio

Pai

Eu lhe peço que abençoe nosso amigo Frei Nedio

Faça-lhe uma nova revelação de Seu amor e poder.

Espírito Santo, peço-Lhe que ministre o espírito dele neste momento.

Onde houver dor, conceda-lhe Sua paz e misericórdia.

Onde houver dúvida, renove-lhe a confiança na Sua capacidade de operar através dele.

Onde houver cansaço ou exaustão, peço-lhe que lhe dê compreensão, paciência e força enquanto aprende a se submeter a Sua direção.

Onde houver estagnação espiritual, peço-lhe que o renove revelando Sua proximidade e atraindo-o para maior intimidade com o Senhor.

Onde houver medo, revele Seu amor e incuta-lhe Sua coragem.

Onde houver o obstáculo de algum pecado, revele-o e quebre o poder que estiver exercendo sobre a vida dele.

Abençoe suas finanças, conceda-lhe maior visão, levante líderes e amigos para dar-lhe apoio e encoraje-o.

Dê a ele discernimento para reconhecer as forças negativas que o rodeiam e revele o poder que tem no Senhor para derrotá-las.

 

Feliz Aniversário!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Homilia dia 28/11/2010 "O convite à vigilância cristã"







                                    I Domingo do Advento – Ano A
Is 2,1-5; Sl 122; Rm 13, 11-14; Mt 24, 37-44

Iniciamos, hoje, o Ano Novo da Igreja. Acendemos a primeira vela da coroa do Advento, o que nos lembra que Jesus Cristo é a luz do mundo e a luz de nossa vida. O ano litúrgico, a começar pelo tempo do Advento, nos propicia a lembrança de todo o mistério da salvação, desde sua origem até a parusia do Senhor, a sua segunda vinda. O Advento (= vinda) é um tempo de preparação, com dois sentidos: prepara-nos para celebrar primeira vinda de Jesus ao mundo, e esta já aconteceu há mais de dois mil anos, e que nós recordamos com carinho e fé no Natal, mas também nos prepara para a segunda vinda de Cristo ao mundo no final dos tempos para julgar o mundo, a sua parusia É por isso que o tempo do Advento não é, primeiramente, um tempo penitencial, mas um tempo de espera alegre para a celebração do Natal, e de vigilância pela vinda do Cristo que nos julgará.

Neste primeiro domingo do Advento, o evangelho nos convida à vigilância, pois o tempo do mundo e o tempo de nossa vida pessoal têm uma meta, o Cristo glorificado, o Filho do Homem, o Juiz justo que virá para julgar. É preciso estar atentos, preparados “porque não sabeis que dia virá o Senhor” (Mt 24,42). É preciso vigilância para estarmos preparados para o encontro com o Senhor, que chegará de surpresa e poderá nos “pegar desprevenidos”, como no tempo de Noé, ou como um ladrão, como disse o evangelho.

Por volta do século VIII a. C., o profeta Isaías convoca o povo de Israel à esperança de um tempo de paz. Depois de várias tentativas frustradas de salvação, advindas das guerras e das iniqüidades econômicas entre o povo eleito, o profeta conclama os povos e nações a uma caminhada alegre até o alto do monte de Sião, a um encontro com Deus, em seu Templo, pois é de lá que Ele quer oferecer um reino de paz e justiça: “Vamos subir ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que ele nos mostre seus caminhos e nos ensine a cumprir seus preceitos; porque de Sião provém a Lei e de Jerusalém, a palavra do Senhor. (...) Vinde, todos à casa de Jacó e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor” (Is 2,3.5). O profeta Isaías preparou o povo de Israel para acolher a vinda do Filho de Deus, a “Palavra feita carne” (Jo 1,14), “a luz do mundo” que traria a vida em plenitude.

Desde que começamos a viver como “criaturas novas”, a partir do batismo, nós nos propusemos a seguir o caminho de Jesus, que nos ensinou a fidelidade ao Pai e a caridade sem limites. Seguir Jesus significa andar na sua luz, sair das trevas do pecado e da morte. É por isso que este tempo de Advento nos compromete na vigilância “com boas obras”, pois não se pode esperar de mãos vazias “o Senhor que virá”, pois quando Ele vier, pedir-nos-á contas dos dons que nos confiou. Quando fazemos frutificar a nossa vida com os dons recebidos de Deus, já estamos antecipando em nossa vida a experiência do juízo salvífico do final dos tempos. É desse jeito que a vida cristã se transforma numa caminhada entre “as coisas que passam” em direção “às coisas que não passam” (Oração Final). Essa realidade do fim dos tempos é já experimentada na eucaristia, pois nela “anunciamos a morte do Senhor, enquanto esperamos a sua nova vinda” (Prefácio da missa). É neste sentido que o apóstolo Paulo exorta a despertar do sono, e a abandonar as obras das trevas, pois “agora a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé. A noite já vai adiantada e o dia se aproxima” (Rm 13,11-12). Paulo pede que vivamos como “filhos da luz”, “revestidos de Cristo”, evitando o mal: “Procedamos honestamente, como em pleno dia: nada de glutonerias e bebedeiras, nem de orgias sexuais e imoralidades, nem de brigas e rivalidades” (Rm 13,13).

O que impede a vigilância cristã? Será que realmente todos nós, cristãos/ãs, estamos despertos e atentos ao Senhor que vem? Infelizmente, não! Vejamos alguns exemplos:

a) Muitos tornaram-se escravos de um trabalho excessivo, não mais reservando tempo para a família, os parentes, os amigos, a saúde, a oração pessoal, a comunidade de fé e Deus. O periférico, na vida, pode tornar-se uma escravidão ou idolatria, que afasta do essencial, aprisionando e atrofiando o espírito humano. Há quem passe o domingo sem Deus, mas não sem dormir, sem passear, sem comer e, talvez, sem esporte. Uma vez escravizado pelo ativismo e, muito provavelmente, pelo materialismo, será difícil manter a atitude de vigilância, porque só vigia quem espera “no Senhor”. 

b) A quem vive o tempo como se fosse reduzido somente ao momento presente (a atual tendência, chamada “presentismo”), que considera que o que vale é só o que se faz e o que se aproveita “agora”, fica muito difícil ser vigilante, simplesmente porque o “presentismo” é uma atitude transformada em “modo de viver”, que nega o amanhã de sua vida e o “amanhã de Deus”.  

c) A ociosidade, não só enquanto atitude, mas como hábito de fazer absolutamente nada, ou passar o tempo inutilmente, sem utilizá-lo para o bem dos outros e de Deus, é igualmente matador da capacidade de vigiar. Vigiar significa esperar comprometendo-se.  

A vigilância não é só uma atitude de espera, mas também de cuidado e responsabilidade. Ser pessoa vigilante significa manter viva a disposição da busca pelas coisas de Deus, “ir ao encontro do Senhor, com nossas boas obras” (Oração Inicial). Não tenhamos medo de nos colocar a caminho com os olhos abertos às coisas da fé! Não ignoremos os gritos que vêm dos necessitados e da grande necessitada, a natureza cósmica, tão maltratada em nossos dias. “Na tarde de nossa vida, seremos julgados pelo amor” (S. João da Cruz). Não deixemos que “as coisas que passam” (as conquistas, os títulos, os confortos, os méritos, o bem-estar, o próprio mundo) estacionem nosso espírito, pois elas não são a última palavra de nossa exitência, nem a última palavra do mundo. A última realidade de nossa vida será o próprio Cristo glorioso, parusíaco, que nos julgará e, se o merecermos, nos unirá ao Pai e a seu Espírito, na comunhão da vida eterna.  


Frei Nedio Pertile
Cuiabá, 25 de novembro de 2010

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Evangelho de hoje (23/11/2010) Lucas 21, 5-11


Algumas pessoas estavam falando de como o Templo era enfeitado com bonitas pedras e com as coisas que tinham sido dadas como ofertas. Então Jesus disse:
- Chegará o dia em que tudo isso que vocês estão vendo será destruído. E não ficará uma pedra em cima da outra. Aí eles perguntaram:
- Mestre, quando será isso? Que sinal haverá para mostrar quando é que isso vai acontecer? Jesus respondeu:
- Tomem cuidado para que ninguém engane vocês. Porque muitos vão aparecer fingindo ser eu, dizendo: “Eu sou o Messias” ou “Já chegou o tempo”. Porém não sigam essa gente. Não tenham medo quando ouvirem falar de guerras e de revoluções. Pois é preciso que essas coisas aconteçam primeiro. Mas isso não quer dizer que o fim esteja perto. E continuou:
- Uma nação vai guerrear contra outra, e um país atacará outro. Em vários lugares haverá grandes tremores de terra, falta de alimentos e epidemias. Acontecerão coisas terríveis, e grandes sinais serão vistos no céu.
Bíblia Sagrada, Nova Tradução na Linguagem de Hoje
Bom dia!
Esse foi o evangelho do domingo passado, mas é ainda um evangelho muito presente na mente daqueles que precisam muito conhecer a palavra de Deus.
Quantas pessoas que conhecemos vivem uma visão apocalíptica da vida? Quantos parecem ter desistido de lutar em vida e passado a esperar o fim como salvação. Sim! Parece que seja esse o grande motivo de se desejar tanto o fim do mundo – a insatisfação pessoal.
Estranhamente, vemos nessas pessoas, irmãos e irmãos de longa caminhada, a descrença quanto ao futuro em vista do seu ATUAL presente. Sei que é duro de falar nisso, mas todo aquele que se apega ao apocalipse esquece-se de viver a Páscoa. Como pode alguém convencer outro sobre a vida, a cura, de um milagre se no fundo deseja fugir?
Pensar no fim pode ser sim uma fuga da realidade. É querer como os apóstolos no monte Tabor, esquecer de voltar à realidade e ali montar suas tendas. É tentar “apressar” a volta de Jesus para enfim morar no paraíso. Todos queremos um dia sermos dignos do paraíso, mas creio que não é fugindo que o alcança.
Jeremias vivia exilado na Babilônia, Deus se fez revelar assim:

“(…) Sei muito bem do projeto que tenho em relação a vós — oráculo do SENHOR! É um projeto de felicidade, não de sofrimento: dar-vos um futuro, uma esperança! Quando me invocardes, ireis em frente, quando orardes a mim, eu vos ouvirei. Quando me procurardes, vós me encontrareis, quando me seguirdes de todo coração, eu me deixarei encontrar por vós — oráculo do SENHOR. Mudarei vosso destino, vou reunir-vos de todos as terras e lugares por onde vos dispersei — oráculo do SENHOR —, e trazer de volta para este lugar do qual vos exilei”. (Jeremias 29, 11-14)

Esse pensamento apocalíptico é tão evidente em algumas pessoas que até se dão ao luxo de escolher datas como 2000, 2012, 2023, (…) ou quando vêem doenças novas surgir a anunciar o fim dos tempos. Lembro recentemente da gripe suína, conheço gente que não saia de casa esperando o fim do mundo (hunf). Isso não é brincadeira e sim fanatismo religioso baseado na imaturidade pessoal e cristã.
Não vejo Deus preocupado em destruir aquilo que pacientemente edificou. Jesus nesse evangelho profetisa o que realmente veio acontecer com Jerusalém e fatalmente aconteceria a todas as nações que assim se comportassem. Se cada um de nós não levantar a bandeira de defesa do meio ambiente, com certeza, um dia teremos problemas, pois isso é um fato; se não levantarmos a bandeira da defesa das famílias, do emprego, da dignidade humana, (…) também teremos problemas, mas as nossas dificuldades atuais não podem nos impor um regime de medo e tão pouco o direito de amedrontar as pessoas.
Deus anda conosco e sempre andará. Atitudes mudadas no presente podem nos garantir um futuro melhor. Não nos exilemos ou nos encarceremos pelo medo.

“(…) Pois Deus não nos deu um espírito de covardia, mas de força, de amor e de moderação”. (II Timóteo 1, 7)

Como nosso frei Alceu diz: “fuja desse povo que vê o fim do mundo toda hora”.
Um imenso abraço fraterno.

Alexandre Soledade
"(...) A alegria evita mil males e prolonga a vida". (William Shakespeare)
(65) 8408-4145

Deus é Maior 



sábado, 20 de novembro de 2010

HOMILIA DIA 21/11/2010 "SOLENIDADE DO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO"



2Sm 5,1-3; Sl 122; Cl 1,12-20; Lc 23,35-43

Encerramos, hoje, o ano liturgico, com a solenidade de “Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo”. No próximo domingo, já será tempo do Advento, início do novo ano da Igreja. A festividade de Cristo Rei, colocada no último domingo do tempo comum, quer lembrar-nos, a modo de condensação e recapitulação ,o que vimos ao longo do ano, que é  o primado de Cristo na ordem da criação e da redenção. Ou seja, o mundo cósmico, o tempo e a história da humanidade tem no senhorio e na realeza de Jesus o ponto de convergência e de irradiação. Não existe outra origem e meta para o mundo, a história e o tempo senão Jesus Cristo, o sentido definitivo de tudo o que existe, “pois por causa dele foram criadas todas as coisas no céu e na terra (...). Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele existe antes de todas as coisas e todas têm nele a sua consistência” (Cl 1,16-17).

Toda celebração dominical é uma confissão de fé no senhorio de Jesus, pois todo domingo é “dia do Senhor”. Contudo, a festa de Cristo Rei, de data recente na história da Igreja Católica (Pio XI a instituiu em 1925), foi colocada no final do ano litúrgico para nos lembrar outra coisa: o nosso caminhar em direção ao reinado definitivo e futuro de Cristo, que é a vida eterna. Há poucos dias atrás, rezávamos pelos mortos e lembrávamos a brevidade de nossa vida e que, neste mundo, tudo passa. Em seguida, recordávamos a memória de todos os santos e santas, e refletíamos sobre a nossa vocação à santidade. No domingo passado, refletíamos sobre o juízo de Deus no final dos tempos. É importante estarmos cientes de que o tempo de agora é o espaço que Deus nos dá para nos unirmos à pessoa e à missão do Cristo nazareno e glorificado, de modo a já antecipar o seu reino de vida plena, ainda neste mundo, ainda que de forma provisória: “Jesus Cristo é o mesmo, hoje, amanhã e todos os séculos” (Hb 13,8); Ele é “o Alfa e Ômega, o Princípio e o Fim” (Ap. 22,13).

A celebração litúrgica deste domingo convida-nos a levantar os olhos, como diz a antífona de entrada da missa, ao “Cordeiro imolado”, no qual reside “o poder, a divindade, a sabedoria, a força, a honra e a glória por todos os séculos” (Ap 5,12;1,6). Ao evocar esse mistério cristológico, o Concílio Vaticano II, diz: “O Senhor é o fim da história humana, ponto ao qual convergem todas as aspirações da história e da civilização, centro da humanidade, alegria de todos os corações e plenitude de todos os desejos. (...). Vivificados e congregados em seu Espírito, caminhamos para a consumação da história humana, que concorda plenamente com o seu desígnio de amor: ‘Reunir todas as coisas em Cristo, as que estão no céu e as que estão na terra’ (Ef 1,10)” (Gaudium et spes, nº 45).

É possível que a festa de Cristo Rei não repercuta bem em nossos corações, haja vista o desvirtuamento do exercício do poder por parte de grande número de reis e líderes, como registra a história humana. O próprio Jesus, em se tratando de exercício do poder, alertou aos discípulos: “Sabeis que aqueles que vemos governar as nações as dominam, e os seus grandes as tiranizam. Entre vós não será assim...” (Mc 10,42-43). O que significa confessar que “Jesus Cristo é rei do universo”? Em que consiste a realeza e o senhorio de Cristo? O título cristológico – Cristo Rei - parece ser problemático. Num mundo que tende a viver sem Deus, que patrocina a “cultura de morte”, que se satisfaz com o consumo desenfreado e irresponsável, que sentido tem dizer que “Jesus é Rei”? Rei de quem? De seu lado, a mídia, avarenta de ídolos, insiste em criar continuamente os novos “reis” e “rainhas” (“rei do gado”, “rei da soja”, “rei dos gramados”, “rei da bola”, “rei do rádio”, “rei do crime”, “rei da droga”, “rei da pizza”, “rei do funk”, etc). Reis para todos os gostos.

Não podemos imaginar o reinado de Jesus conforme os modelos forjados pela história humana. O seu reinado é diferente, e só pode ser compreendido a partir do exemplo do próprio Jesus, que se esvaziou de sua divindade, assumindo a fidelidade à condição humana, menos o pecado, até à morte (Fl 2,6-8). Jesus é Rei porque passou a vida servindo, “fazendo o bem e curando a todos” (At 10,38). Durante a paixão, e frente a Pilatos, que lhe perguntou: “És o rei dos judeus?”, Jesus o confirmiu, mas advertiu: “Meu reino não é deste mundo. Se meu reino fosse deste mundo, meus súditos teriam combatido para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas meu reino não é daqui (...) Para isso nasci e para isto vim ao mundo: para dar testemunho da verdade” (Jo 18,36-37).

O evangelho deste domingo (Lc 23,35-43) narra inicialmente o desprezo e o escárnio dos líderes judeus, dos soldados que o crucificaram e do “mau ladrão” pelo aparente fracasso de um reinado esperado e confundido com expectativas demasiado humanas, do qual Jesus foi vítima; “Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós” (Lc 23,39) Jesus encerrou a trajetória de sua vida terrena numa cruz. Paradoxalmente, ali também é lugar do seu reinado de amor sem limites, que transborda em perdão aos pecadores. A cruz foi o trono que a cegueira humana reservou para o Rei messiânico, o enviado de Deus, e não um palácio real com trono revestido de ouro. A Ele foi dada não a coroa régia dos vencedores, mas uma coroa de espinhos para agudizar os sofrimentos atrozes. E, ironicamente, acima de sua cabeça, afixada na cruz, foi colocada a inscrição: “Jesus de Nazaré, rei dos judeus” (Jo 19,19). Mas o evangelho também narra a profissão de fé do “bom ladrão”, que reconhece o reinado Jesus: “Lembra-te de mim, quando vieres com teu reino” (Lc 23,42), ao qual Jesus garante o ingresso no paraíso. 

Jesus Cristo veio ao mundo para reconciliar a humanidade com Deus, e mostrar-lhe o caminho para Deus. Por isso, veio procurar e salvar os perdidos, os doentes, os feridos, os pobres, os excluídos e os indefesos. Ele deu a vida por todos: “Ele nos libertou das trevas e nos recebeu no reino do seu Filho bem amado, por quem temos a redençao, o perdão dos pecados (...). Deus quis habitar nele com toda a sua plenitude, e por ele reconciliar consigo todos os seus (...) realizando a paz pelo sangue na cruz” (Col 1,13.19-20).

O reinado de Jesus é um reinado de serviço: “Aquele que dentre vós quiser ser grande, seja vosso servidor, e aquele que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o servo de todos, pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Mc 10,43-45). Ele mesmo deu o exemplo, durante a Última Ceia, quando lavou os pés dos apóstolos, e, com a autoridade de um verdadeiro Mestre, pediu que eles fizessem a mesma coisa entre eles: “Compreendeis o que eu vos fiz? Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu o sou. Se, portanto, eu, o Mestre e o Senhor, vos lavei os pés, também deveis lavar-vos os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o façais. Em verdade, em verdade, vos digno: o servo não é maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que quem o enviou. Se compreenderdes isso e o praticardes, felizes sereis” (Jo 13,12-17).

O exercício do poder da parte de Jesus  não é o do poder despótico, arbitrário, mas o dom de si mesmo para o serviço de resgate do pecado e da morte. É o serviço para o amor e o sacrifício. É um dom que capacita a amar sem limites e a promover a vida, especialmente dos que mais a precisam. É um poder transformado em serviço em favor da dignidade humana e da reconciliação com Deus.

Participar do senhorio de Jesus implica ter as mesmas atitudes e sentimentos d’Ele, para continuar a sua missão de instaurar o reinado de Deus na face da terra. Trata-se de “um reino eterno e universal: reindo da verdade e da vida, da santidade e da graça, da justiça, do amor e da paz”, como diz o Prefácio da Prece Eucarística. Este reino é dom, mas também compromisso de todos os discípulos missionários, ao quais Jesus ensinou a suplicar: “Venha o teu Reino” (Mt 6,10)

Jesus é o Rei que nos convida a segui-lO não pelo caminho do domínio, mas do serviço, não pelo caminho da glória e da honra, mas da humildade, não pelo caminho do sucesso, mas da fidelidade, não pelo caminho da apropriação, mas da doação, não pelo caminho da concorrência, mas da parceria, não pelo caminho da passividade, mas do comprometimento, não pelo caminho do triunfalismo, mas da cruz, não pelo caminho da escravidão e do servilismo, mas da liberdade e amizade, não pelo caminho da indiferença, mas da admiração, não pelo caminho da aprovação pública, mas do esvaziamento: “Fiel é esta palavra: Se com ele morreremos, com ele viveremos. Se com ele sofremos, com ele reinaremos” (2Tm 2,11).

Celebramos, hoje, o Dia Nacional do Leigo. É uma ocasião muito oportuna para lembrar que os fiéis leigos, a partir do seu batismo, são convidados a ser “sal da terra” e “luz do mundo” (cf. Mt 5,13-14), fermento de transformação, “protagonistas da evangelização” (S. Domingo), “discípulos e missionários” de Cristo (Doc. Aparecida) através de sua presença, de seu testemunho e de suas atividades em todas as realidades humanas.  A participação dos leigos no reinado de Cristo compromete a sua existência em todos as suas dimensões, desde a vida privada familiar, passando pela vida social e eclesial, até no plano internacional. Os leigos são “homens da Igreja no coração humano e homens do mundo no coração da Igreja” (Documento de Puebla, nº 786).

Ao finalizar esta reflexão, voltemos o nosso olhar para Jesus Cristo, que se fez um de nós, passou pela cruz e, agora, reina glorioso na eternidade, intercedendo pela humanidade. Proclamemos, uma vez mais, a antífona de entrada da missa: “O Cordeiro que foi imolado é digno de receber o poder, a dignidade, a sabedoria, a força e a honra. A ele glória e poder através dos séculos” (Ap 5,12;1,6).

Frei Nedio Pertile
Cuiabá, 19 de novembro de 2010

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Evangelho de hoje (17/11/2010) Lucas 19, 11-28


Evangelho de hoje (17/11/2010) Lucas 19, 11-28 
Jesus contou uma parábola para os que ouviram o que ele tinha dito. Agora ele estava perto de Jerusalém, e por isso eles estavam pensando que o Reino de Deus ia aparecer logo. Então Jesus disse:
- Certo homem de uma família importante foi para um país que ficava bem longe, para lá ser feito rei e depois voltar. Antes de viajar, chamou dez dos seus empregados, deu a cada um uma moeda de ouro e disse: “Vejam o que vocês conseguem ganhar com este dinheiro, até a minha volta.”
- Acontece que o povo do seu país o odiava e por isso mandou atrás dele uma comissão para dizer que não queriam que aquele homem fosse feito rei deles.
- O homem foi feito rei e voltou para casa. Aí mandou chamar os empregados a quem tinha dado o dinheiro, para saber quanto haviam conseguido ganhar. O primeiro chegou e disse: “Patrão, com aquela moeda de ouro que o senhor me deu, eu ganhei dez.”
- “Muito bem!” – respondeu ele. – “Você é um bom empregado! E, porque foi fiel em coisas pequenas, você vai ser o governador de dez cidades.”
- O segundo empregado veio e disse: “Patrão, com aquela moeda de ouro que o senhor me deu, eu ganhei cinco.”
- “Você vai ser o governador de cinco cidades!” – disse o patrão.
- O outro empregado chegou e disse: “Patrão, aqui está a sua moeda. Eu a embrulhei num lenço e a escondi. Tive medo do senhor, porque sei que é um homem duro, que tira dos outros o que não é seu e colhe o que não plantou.”
- Ele respondeu: “Você é um mau empregado! Vou usar as suas próprias palavras para julgá-lo. Você sabia que sou um homem duro, que tiro dos outros o que não é meu e colho o que não plantei. Então por que você não pôs o meu dinheiro no banco? Assim, quando eu voltasse da viagem, receberia o dinheiro com juros.”
- E disse para os que estavam ali: “Tirem dele a moeda e dêem ao que tem dez.” Eles responderam:
- “Mas ele já tem dez moedas, patrão!” – E o patrão disse:
- “Eu afirmo a vocês que aquele que tem muito receberá ainda mais; mas quem não tem, até o pouco que tem será tirado dele. E agora tragam aqui os meus inimigos, que não queriam que eu fosse o rei deles, e os matem na minha frente.”
Depois de dizer isso, Jesus foi adiante deles para Jerusalém
Bíblia Sagrada, Nova Tradução na Linguagem de Hoje
Bom dia!
Esse evangelho trouxe a memória um dizer popular muito comum: “Quem tem tempo nunca tem tempo, mas quem NÃO tem tempo SEMPRE arruma tempo”.
É muito comum ver em nossas comunidades, no trabalho, na faculdade, (…), alguém que consegue se destacar mesmo tendo todas as adversidades do mundo contra ele (a). Pessoas que conseguem fazer seu tempo, seu empenho, seu trabalho render “dez moedas”. São pessoas que conhecemos que trabalham o dia inteiro, tomam conta dos filhos e ainda estudam a noite, que apesar de tamanha demanda não atrasam seus trabalhos, não deixam de fazer suas tarefas e ainda tem tempo para parar um pouco e rezar…
No entanto existem outros que acordam às dez da manhã, tomam café na frente da TV, não lavam seus pratos, calcinhas, cuecas; estudam a noite, matam aula e ainda arrumam tempo pra reclamar da comida fria, da roupa que não foi passada, que precisa de um tênis ou um celular novo; sabem a programação da TV por completo; navegam horas e horas na internet e que se chateia profundamente se tiver que ficar uma hora na missa de domingo (hunf)
Esse personagem da vida real que o diácono Nelsinho Correa da Canção Nova batizou e popularizou de “beiçudo” anda em alta. Antes, contudo eram os jovens, mas hoje eles já cresceram e se multiplicaram. São pessoas hoje que tem ojeriza a estudar, aprender, capacitar-se; são irmãos de trabalho que após longos anos de serviço ou numa mesma função, se negam a ouvir conselhos, alternativas, sugestões… Muitas vezes, esses somos nós
É também um povo de 30, 35 anos que se comporta como se tivesse 15; enfurnados em boates até durante a semana, fazendo rachas de carro, enquanto papai e mamãe ficam em casa polindo a moeda do filho. Filho esse que sai de casa com intenção de bater em alguém; que se esconde atrás de uma gangue para ser valente e quando dá algo errado, o leão de agora a pouco volta a ser um gatinho, um santo, um anjo…
São pessoas também que guardam a moeda no bolso e com o lenço cobrem os olhos para não ver o que acontece ao seu redor; para não se comprometer com a comunidade; não ajudam, não emprestam seu talento, mas agindo bem parecido com o “mau empregado” sabem fazer críticas ferrenhas, menosprezam o trabalho de que faz, torcem contra, põem defeitos (…) tudo isso sem perder o “charme” (ou seria o orgulho?) ou sair de sua posição conforto
Que moedas ou dons Deus te deu?
Talvez a moeda mais valiosa que tenho esteja em casa, nos filhos, na família, no (a) parceiro (a), nos amigos ou em mim mesmo. O que tenho feito para fazer render essas moedas que ganhei? Preciso começar a equacionar meu tempo, pois não sei se amanhã terei a disponibilidade e a animação de hoje.
Sim, o tempo é um grande aliado e também um grande vilão, pois não temos controle sobre ele, mas este tem uma importância real sobre as nossas vidas. Provas, testes, decisões e até guerras foram decididas a favor daqueles que souberam melhor administrá-lo. Há até uma situação no antigo testamento que uma guerra precisou ser interrompida.

“(…) Apoderaram-se também do dinheiro dos que tinham vindo para comprá-los, e perseguiram por muito tempo os vencidos, mas tiveram que desistir IMPEDIDOS PELO TEMPO, porque era véspera de sábado, e isso os impedia de prosseguir”. (II Macabeus 8, 25-26)

Deus nos deu “moedas”, mas não precisou o tempo que teríamos para prestar conta. Atentemo-nos a isso.
Um imenso abraço fraterno.

Alexandre Soledade
"(...) A alegria evita mil males e prolonga a vida". (William Shakespeare)
(65) 8408-4145

Deus é Maior 

sábado, 13 de novembro de 2010

Homilia dia 14/11/2010 “Ele vem para julgar a terra” (Sl 98,9): a vigilância diante do fim



XXXIII  Domingo do Tempo Comum – Ano C
Ml 3,19-20; Sl 98; 2Ts 3,7-12; Lc 21,5-19


Estamos no penúltimo domingo do ano litúrgico. No próximo domingo, celebraremos a festa de Cristo Rei e, no outro domingo, iniciaremos o tempo do Advento, que nos preparará para o Natal. O final de um período lembra que o tempo passa e a vida prossegue em direção à meta que Deus lhe traçou. Isso faz pensar no fim do mundo, no fim da história e no fim da vida de cada um de nós. A liturgia nos convida a levantar a cabeça e olhar para frente, desde onde vislumbram-se as novas realidades que Deus preparou para a história da humanidade e para cada um de nós.

As leituras bíblicas, proclamadas há pouco, nos convidam a antever o que vai acontecer, mas também nos advertem para encarar este fim, sem medo, com o trabalho, a vigilância e a prática da justiça. A decisão do fim da história compete a Deus; a nós compete viver o tempo de que dispomos de modo a não apressar este fim. Deus quer a paz para a humanidade, e não a angústia ou aflição. Para o universo cósmico, Deus quer a integração da vida e sua transfiguração no Filho glorificado, não a catástrofe ou a destruição. E, para cada um de nós, depois do juízo, se vivemos conforme o seu plano, Ele nos quer junto a si.  

O ser humano, em tempos de crise, é tentado a perder o rumo da vida e esquecer o plano de Deus. O profeta Malaquias tem a dura tarefa de, depois do exílio, combater a injustiça e a impiedade. O profeta prega num tempo em que o templo já estava reconstruído, mas o mal parecia dominar a sociedade judaica daquele tempo. Aos justos e impiedosos, o profeta proclama o juízo de Deus, um “dia de fogo”, em que a justiça divina os destruiria completamente, apagando-lhes da face da terra a sua memória e a sua descendência, por causa do mal que praticaram. E, aos poucos justos e tementes a Deus que restavam, o profeta proclama a esperança da salvação: “Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo a salvação em suas casas” (Ml 3,20).

Muitos falsos profetas predisseram o fim do mundo, marcaram datas, inclusive, e o mundo não acabou. Que ousadia! Ousadia baseada na ignorância do projeto de Deus para a humanidade, pois o próprio Filho de Deus disse não saber quando seria esse fim: “Daquele dia e da hora, ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho do Homem, somente o Pai” (Mc13,32). Perguntado sobre quando seria o fim, Jesus assegurou que “não seria logo” (Lc 21,9). Jesus não marcou data para o fim do mundo, mas aproveitou a ocasião para alertar contra os “profetas das desgraças” e as perseguições, fenômenos típicos dos tempos de crise da humanidade, quando esta perde a referência do plano de Deus. Aos perseguidos por causa do seu nome, Jesus lhes garante: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida” (Lc 21,19).

Deus é o Senhor e o Juiz da história. Um dia, não sabemos quando, Ele julgará a história e a cada um de nós. Jesus, no evangelho, fala de sinais que precederão o fim do mundo: as guerras, os terremotos, fome, epidemias e perseguições. Nunca faltaram, na história da humanidade, pessoas ou sistemas sócio-econômico-políticos que se auto proclamam os salvadores da humanidade. Atualmente, muitos crêem que o sistema capitalista neoliberal e o mercado sejam os salvadores e os distribuidores de felicidade para a humanidade. Uma bela promessa, mas um grande engano! O que vemos hoje? Vemos não “a felicidade no ar”, mas uma grave crise ecológica sem precedentes, que ameaça o planeta Terra, a injustiça social que se agrava a cada dia, as relações humanas que se deterioram, as religiões de interesse que se multiplicam, as famílias extraviadas e sem referências, as pessoas sem sentido para suas vidas... É isso que vemos! Por isso, a advertência de Jesus: “Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome [...]. Não sigais essa gente!” (Lc 21,8).

Em tempos de crise, muitos são tentados a passar os dias de “cruzar os braços”. O apóstolo Paulo advertiu os cristãos da comunidade de Tessalônica, que pensavam que o mundo iria acabar e, que, por isso, não trabalhavam mais: “Quando estávamos entre vós, demos esta regra: ‘Quem não quer trabalhar também não deve comer! ’ Ora, ouvimos dizer que entre vós há alguns que vivem à toa, muito ocupados em nada fazer. Em nome do Senhor Jesus Cristo, ordenamos e exortamos a essas pessoas que, trabalhando, comam na tranquilidade o seu próprio pão” (2Ts 3,10-12).

A mensagem de Paulo continua atual, pois muitos vivem de “braços cruzados”, como parasitas, sem nada fazer, numa sociedade cegada pelo consumismo, conforto e imoralidade, onde se favorece a viver como se Deus não existisse.  O fenômeno da ociosidade tem crescido nos últimos tempos. Paulo deu o exemplo do trabalho manual para se sustentar. Ele era fabricante de tendas (At 18,3), além de pregador do evangelho e fundador de comunidades, de cujos trabalhos podiam tirar seu sustento. Mas não querendo ser pesado a ninguém, trabalhou com as próprias mãos para ganhar o próprio pão. Ele quis ser um exemplo: “Bem sabeis que deveis seguir o nosso exemplo, pois não temos vivido entre vós na ociosidade. De ninguém recebemos de graça o pão que comemos. Pelo contrário, trabalhamos com esforço e cansaço, de dia e de noite, para não sermos pesados a ninguém” (2Ts 3,7-8).  O conselho de Paulo é que o cristão viva decentemente e com dignidade, trabalhando pelo pão de cada dia, e evite a ociosidade.

Aos que se admiravam da majestade do templo de Jerusalém, Jesus retrucou: “Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído” (Lc 21,6). O templo de Jerusalém foi destruído em 75 d.C. Este fato pode ser aplicado à nossa vida: tudo o que fazemos e conquistamos é provisório, passa. Casa, carro, dinheiro, profissão, pessoas que amamos, projetos de vida, e a nossa própria vida: tudo isso passa. Ao lembrarmos desse fim, é preciso vigilância no horizonte da eternidade, pois o que permanece, permanece na memória de Deus.

Haverá, sim, um momento final para a história, para o mundo, e para cada um de nós. Esse será o momento do juízo de Deus, quando ficará claro o que serviu para Deus e o que não Lhe serviu, o que teve valor para o Senhor e o que foi ilusão e falsidade. Enquanto Deus nos der tempo de vida, utilizemos este tempo para o trabalho, a prática da justiça e a vigilância, para que, aquele dia em que nos apresentarmos diante d’Ele, não estejamos de mãos vazias nem sejamos por Ele ignorados.

Frei Nedio Pertile
Cuiabá, 12/11/2010 

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Evangelho de hoje (09/11/2010) João 2, 13-22


Alguns dias antes da Páscoa dos judeus, Jesus foi até a cidade de Jerusalém. No pátio do Templo encontrou pessoas vendendo bois, ovelhas e pombas; e viu também os que, sentados às suas mesas, trocavam dinheiro para o povo. Então ele fez um chicote de cordas e expulsou toda aquela gente dali e também as ovelhas e os bois. Virou as mesas dos que trocavam dinheiro, e as moedas se espalharam pelo chão. E disse aos que vendiam pombas:
- Tirem tudo isto daqui! Parem de fazer da casa do meu Pai um mercado! Então os discípulos dele lembraram das palavras das Escrituras Sagradas que dizem: “O meu amor pela tua casa, ó Deus, queima dentro de mim como fogo.” Aí os líderes judeus perguntaram:
- Que milagre você pode fazer para nos provar que tem autoridade para fazer isso? Jesus respondeu:
- Derrubem este Templo, e eu o construirei de novo em três dias! Eles disseram:
- A construção deste Templo levou quarenta e seis anos, e você diz que vai construí-lo de novo em três dias? Porém o templo do qual Jesus estava falando era o seu próprio corpo. Quando Jesus foi ressuscitado, os seus discípulos lembraram que ele tinha dito isso e então creram nas Escrituras Sagradas e nas palavras dele
Bíblia Sagrada, Nova Tradução na Linguagem de Hoje
Bom dia!
Não estranhem estarmos vivendo Lucas e surgir João. Tal fato se deve a igreja de todo mundo hoje celebrar a Basílica de Latrão, ou seja, a “mãe” de todas igreja católicas que existem, justificando assim o evangelho em que Jesus chuta o balde sobre aqueles que não respeitavam o templo santo.
Num dia especial para toda igreja somos mais uma vez apresentados a um assunto que nos remete a lembrar da campanha da fraternidade desse ano e a refletir o que andam fazendo com os templos erguidos em nome de Deus, mas que servem ao comercio humano.
“(…) Tirem tudo isto daqui! Parem de fazer da casa do meu Pai um mercado”!
O que podemos tirar dessa simples citação? Quais comércios na casa de Deus estão acontecendo atualmente? Conseguimos identificar algum?
Refletindo…
Ao ir a um supermercado procuro por mercadorias. Saio de casa com uma lista de compras com o objetivo único de adquirir algo que preciso ou necessito muito. Ando, procuro pelo produto e se o encontro calculo quanto poderei investir para adquiri-lo. Avalio o número de parcelas, o quanto terei que trabalhar para conseguir pagar as prestações ou quanto tempo para juntar o dinheiro para a compra à vista. Mas mesmo depois de tanta procura e pesquisa de preço, como ficamos frustrados ao levar um produto tão caro para casa e saber que com pouquinho mais de esmero (olha ai essa palavra de novo) poderia ter um de melhor qualidade.
É de ficar admirado o empenho velado que ainda tem a serpente ao assistirmos TV e constatar o balcão de negócio que virou a fé de algumas pessoas. Vendem-nos aquilo que não precisamos. Vou explicar…
A chamada teologia da prosperidade cresceu entre as igrejas protestantes e ainda nos assombra pelo crescente número de adeptos a negociar sua fé com Deus. Pode sim fruto do desespero, da angústia, da solidão, mas creio muito na nossa própria culpa.
- “Senhor eu preciso de um carro”; “Senhor, se me ajudar eu me converterei”, (…);
O que esperar de alguém, que pede apenas pelo prazer de TER, que negocia ou promete uma vida correta em troca de um pedido realizado? Como condenar esses pastores da TV (graças a Deus eles são uma minoria) que extorquem dinheiro a base da falta de fé das pessoas se são as próprias pessoas que os procuram e aceitam? Qual foi a última vez que pedi sabedoria, prudência, compaixão, misericórdia, paz, (…) a Deus? O que será que ando pedindo em minhas preces e louvores?
Jesus disse para que pedíssemos e nos seria dado (Mateus 7, 8) sendo assim não vejo nada incorreto em pedir sua intercessão por algo que queremos ou sonhamos, mas é perigoso, como tenho visto,  usar do sofrimento das pessoas para crescer financeiramente ou ganhar status num grupo social. Como é difícil também de entender o crescimento patrimonial de alguns pastores que dizem priorizar a palavra de Deus.
Achei muito apropriada a fala de um frei nosso ao celebrar a missa de finados em dizer: Aqui vocês trazem velas, flores e orações. As flores vão murchar; as velas vão derreter, mas as orações alcançaram a Deus… Sendo isso uma grande verdade por que o apego ao que passa?

“(…) Respondeu-lhes Jesus: Em verdade vos declaro que, se tiverdes fé e não hesitardes, não só fareis o que foi feito a esta figueira, mas ainda se disserdes a esta montanha: Levanta-te daí e atira-te ao mar, isso se fará… Tudo o que pedirdes com fé na oração, vós o alcançareis”. (Mateus 21, 21-22)

O preço para se alcançar a maturidade espiritual não é nada que não consigamos assumir em prestações, pois diversas vezes temos nos comportado como adolescentes que querem um celular moderno e caro, no entanto deixam o carnê para os pais pagarem as prestações (hunf).Eu também preciso me comprometer. Pedir a Deus pela cura da diabetes e não fazer sua parte em diminuir os doces soa até engraçado, mas é isso que tem levado as pessoas aos “templos” e aguçado os charlatões da fé.
Aquele que busca Deus APENAS pelos milagres não pode ficar triste se voltar para casa sem nada, pois grandes cidades que tinham esse pensamento também não viram os milagres de Jesus. Temos visto muita gente ir a igreja somente para pedir e isso é desesperador, pois a primazia dessa relação seria a amizade entre nós e Deus e não uma relação de comércio onde  Eu peço e Ele dá.
“(…) Tirem tudo isto daqui! Parem de fazer da casa do meu Pai um mercado”!
Hoje é um dia de festa, portanto vá à casa de Deus com propósitos nobres e um coração aberto as mudanças, pois quanto ao resto, Ele sabe do que nós precisamos.
Um imenso abraço fraterno.

Deus é Maior 

Oração Dos Ministros


Oração do Ministro da Eucaristia
"Senhor:
A Igreja me confiou
O Ministério Extraordinário da Sagrada Comunhão.
Constituiu-me servidor da comunidade,
em Assembléia Litúrgica,
que compartilha a mesa fraternal da Comunhão,
na consolação dos enfermos,
anciãos e impedidos
para que se fortaleçam com o Pão da Vida.
Eu sei, Senhor,
que é, em primeiro lugar, um serviço.
Porém, intimamente, o descubro como uma honra:
Por meu intermédio,
e através de minhas mãos,
faço possível a comum-união de meus irmãos Contigo,
no Sacramento do teu Corpo e do teu Sangue.
Por isso, Senhor,
consagro-te meus lábios que te anunciam,
minhas mãos que te entregam;
consagro-te meu ser, meu corpo e meu coração
para ser tua testemunha leal.
Não quero, Senhor,
Que minha vida seja um obstáculo
entre meus irmãos e teu mistério.
Quero ser uma ponte,
quero ser como duas mãos estendidas...
Peço tua ajuda, de modo que eu seja um cristão de verdade,
um cristão ansioso de tua Palavra,
uma pessoa de oração e de reflexão,
um contemplativo de teus mistérios;
um celebrante feliz de teus Sacramentos
e um servidor humilde de todos os meus irmãos.
Que quando eu disser: "O Corpo de Cristo",
eu desapareça e se veja teu rosto".
Amém.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Homilia dia 07/11/2010 Festa de todos os santos e santas


Ap 7,2-4.9-14; Sl 24; 1Jo 3,1-3; Mt 5,1-12

Celebramos, hoje, a festa de todos os santos e santas. É a festa que lembra a Igreja celeste, a Igreja terrestre e a Igreja em estado de purificação, em seu mistério de união junto a Deus.

A solenidade de todos os santos e santas dirige o olhar de nossa fé para o céu e nos faz contemplar a glória da grande família dos filhos e filhas de Deus, reunidos em torno ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, em adoração, e celebrando a salvação.

Quem é esta grande família que a liturgia em nossos templos nos propõe a contemplar? Conforme a visão profética do evangelista João, é “uma imensa multidão de gente de todos as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro; trajavam vestes brancas e traziam palmas na mão. (...) Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro” (Ap 7,9-10.14).

Esta grande família celeste, em adoração perpétua ao Deus vivo e verdadeiro, à qual somos convidados a nos unir, passou por tribulações e sofrimentos, sem se deixar abater. Os santos e as santas, pelo batismo, inseriram-se no mistério da morte e ressurreição de Cristo. Consagraram suas vidas a Cristo, a Ele assemelhando-se na morte e na ressurreição. Enquanto viveram neste mundo, semearam a paz, a esperança, o amor e a justiça. Não deixaram morrer a semente que Deus havia plantado em seus corações. Mesmo vivendo cercados de sinais de desespero e morte, iluminaram seus ambientes com o dom do testemunho de uma vida centrada em Deus.

O que seria do mundo sem os santos e as santas? Como seria o mundo sem o calor da santidade? O mundo precisa, certamente, de técnicos, especialistas, cientistas, mas também de pessoas espirituais e místicas. O mundo precisa de tecnologia, é verdade, mas também de oração e solidariedade. O mundo precisa de pessoas inventoras e criadoras, mas também de pessoas humildes, serenas, pobres de espírito, puras e sinceras. O mundo precisa de audaciosos e corajosos, para transformar estruturas e costumes perversos, mas também de perseguidos e de mártires, cujas lembranças produzem efeitos profundos na consciência humana.

Os santos e as santas elevam o nosso espírito para além de nossa miséria e pequenez. Eles nos lembram que existe a felicidade de viver das “coisas do alto”. Não é a felicidade do bem-estar econômico, do progresso, do dinheiro, do conforto e do prazer, mas a felicidade do reino de Deus, que o mundo não entende. É a felicidade do viver com conseqüências, que repercutem para sempre na memória de Deus, pois não somos apenas “os filhos e as filhas da terra” que terminarão no pó dos cemitérios, mas, como proclama o evangelista João: “Desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos” (1Jo 3,2). Nada mais consolador do que esse mistério de fé: Deus nos trata como filhos e nos quer em sua “vida eterna”.  

A Igreja reservou, em seu calendário litúrgico, um dia de festa dedicado os santos e as santas para recordar que a vocação dos cristãos é a santidade. O apóstolo Paulo nos diz que Deus “escolheu-nos em Cristo antes da fundação do mundo, para sermos santos e irreprensíveis diante de seus olhos” (Ef 1,4), e,  “esta é a vontade de Deus, a vossa santificação” (1Ts 4,3). A santidade é uma caminhada que dura a vida toda, e só terminará quando nos encontrarmos face a face com Deus. É uma caminhada longa e serena, lenta, mas firme. É, aos poucos, que vamos imprimindo o Cristo em nossos corações.

Hoje, muitos vivem apressados, estressados, deprimidos, angustiados. Correm loucamente sem saber aonde chegar. Não sabem realmente o que buscam. É a experiência do extravio, da falta de direção, porque faltam os valores que preenchem de felicidade o coração humano. A Igreja venera os santos e as santas como modelo de vida cristã. Não tenhamos medo de caminhar para Deus. Não tenhamos medo de buscar segurança nas palavras de Jesus. Não tenhamos medo de experimentar e anunciar o que Deus nos preparou. Que os santos e santas intercedam junto a Deus por nós, para que, um dia, também nós, estejamos junto a eles.

Frei Nedio Pertile
Cuiabá, 05/11/2010