sábado, 13 de novembro de 2010

Homilia dia 14/11/2010 “Ele vem para julgar a terra” (Sl 98,9): a vigilância diante do fim



XXXIII  Domingo do Tempo Comum – Ano C
Ml 3,19-20; Sl 98; 2Ts 3,7-12; Lc 21,5-19


Estamos no penúltimo domingo do ano litúrgico. No próximo domingo, celebraremos a festa de Cristo Rei e, no outro domingo, iniciaremos o tempo do Advento, que nos preparará para o Natal. O final de um período lembra que o tempo passa e a vida prossegue em direção à meta que Deus lhe traçou. Isso faz pensar no fim do mundo, no fim da história e no fim da vida de cada um de nós. A liturgia nos convida a levantar a cabeça e olhar para frente, desde onde vislumbram-se as novas realidades que Deus preparou para a história da humanidade e para cada um de nós.

As leituras bíblicas, proclamadas há pouco, nos convidam a antever o que vai acontecer, mas também nos advertem para encarar este fim, sem medo, com o trabalho, a vigilância e a prática da justiça. A decisão do fim da história compete a Deus; a nós compete viver o tempo de que dispomos de modo a não apressar este fim. Deus quer a paz para a humanidade, e não a angústia ou aflição. Para o universo cósmico, Deus quer a integração da vida e sua transfiguração no Filho glorificado, não a catástrofe ou a destruição. E, para cada um de nós, depois do juízo, se vivemos conforme o seu plano, Ele nos quer junto a si.  

O ser humano, em tempos de crise, é tentado a perder o rumo da vida e esquecer o plano de Deus. O profeta Malaquias tem a dura tarefa de, depois do exílio, combater a injustiça e a impiedade. O profeta prega num tempo em que o templo já estava reconstruído, mas o mal parecia dominar a sociedade judaica daquele tempo. Aos justos e impiedosos, o profeta proclama o juízo de Deus, um “dia de fogo”, em que a justiça divina os destruiria completamente, apagando-lhes da face da terra a sua memória e a sua descendência, por causa do mal que praticaram. E, aos poucos justos e tementes a Deus que restavam, o profeta proclama a esperança da salvação: “Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo a salvação em suas casas” (Ml 3,20).

Muitos falsos profetas predisseram o fim do mundo, marcaram datas, inclusive, e o mundo não acabou. Que ousadia! Ousadia baseada na ignorância do projeto de Deus para a humanidade, pois o próprio Filho de Deus disse não saber quando seria esse fim: “Daquele dia e da hora, ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho do Homem, somente o Pai” (Mc13,32). Perguntado sobre quando seria o fim, Jesus assegurou que “não seria logo” (Lc 21,9). Jesus não marcou data para o fim do mundo, mas aproveitou a ocasião para alertar contra os “profetas das desgraças” e as perseguições, fenômenos típicos dos tempos de crise da humanidade, quando esta perde a referência do plano de Deus. Aos perseguidos por causa do seu nome, Jesus lhes garante: “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida” (Lc 21,19).

Deus é o Senhor e o Juiz da história. Um dia, não sabemos quando, Ele julgará a história e a cada um de nós. Jesus, no evangelho, fala de sinais que precederão o fim do mundo: as guerras, os terremotos, fome, epidemias e perseguições. Nunca faltaram, na história da humanidade, pessoas ou sistemas sócio-econômico-políticos que se auto proclamam os salvadores da humanidade. Atualmente, muitos crêem que o sistema capitalista neoliberal e o mercado sejam os salvadores e os distribuidores de felicidade para a humanidade. Uma bela promessa, mas um grande engano! O que vemos hoje? Vemos não “a felicidade no ar”, mas uma grave crise ecológica sem precedentes, que ameaça o planeta Terra, a injustiça social que se agrava a cada dia, as relações humanas que se deterioram, as religiões de interesse que se multiplicam, as famílias extraviadas e sem referências, as pessoas sem sentido para suas vidas... É isso que vemos! Por isso, a advertência de Jesus: “Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome [...]. Não sigais essa gente!” (Lc 21,8).

Em tempos de crise, muitos são tentados a passar os dias de “cruzar os braços”. O apóstolo Paulo advertiu os cristãos da comunidade de Tessalônica, que pensavam que o mundo iria acabar e, que, por isso, não trabalhavam mais: “Quando estávamos entre vós, demos esta regra: ‘Quem não quer trabalhar também não deve comer! ’ Ora, ouvimos dizer que entre vós há alguns que vivem à toa, muito ocupados em nada fazer. Em nome do Senhor Jesus Cristo, ordenamos e exortamos a essas pessoas que, trabalhando, comam na tranquilidade o seu próprio pão” (2Ts 3,10-12).

A mensagem de Paulo continua atual, pois muitos vivem de “braços cruzados”, como parasitas, sem nada fazer, numa sociedade cegada pelo consumismo, conforto e imoralidade, onde se favorece a viver como se Deus não existisse.  O fenômeno da ociosidade tem crescido nos últimos tempos. Paulo deu o exemplo do trabalho manual para se sustentar. Ele era fabricante de tendas (At 18,3), além de pregador do evangelho e fundador de comunidades, de cujos trabalhos podiam tirar seu sustento. Mas não querendo ser pesado a ninguém, trabalhou com as próprias mãos para ganhar o próprio pão. Ele quis ser um exemplo: “Bem sabeis que deveis seguir o nosso exemplo, pois não temos vivido entre vós na ociosidade. De ninguém recebemos de graça o pão que comemos. Pelo contrário, trabalhamos com esforço e cansaço, de dia e de noite, para não sermos pesados a ninguém” (2Ts 3,7-8).  O conselho de Paulo é que o cristão viva decentemente e com dignidade, trabalhando pelo pão de cada dia, e evite a ociosidade.

Aos que se admiravam da majestade do templo de Jerusalém, Jesus retrucou: “Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído” (Lc 21,6). O templo de Jerusalém foi destruído em 75 d.C. Este fato pode ser aplicado à nossa vida: tudo o que fazemos e conquistamos é provisório, passa. Casa, carro, dinheiro, profissão, pessoas que amamos, projetos de vida, e a nossa própria vida: tudo isso passa. Ao lembrarmos desse fim, é preciso vigilância no horizonte da eternidade, pois o que permanece, permanece na memória de Deus.

Haverá, sim, um momento final para a história, para o mundo, e para cada um de nós. Esse será o momento do juízo de Deus, quando ficará claro o que serviu para Deus e o que não Lhe serviu, o que teve valor para o Senhor e o que foi ilusão e falsidade. Enquanto Deus nos der tempo de vida, utilizemos este tempo para o trabalho, a prática da justiça e a vigilância, para que, aquele dia em que nos apresentarmos diante d’Ele, não estejamos de mãos vazias nem sejamos por Ele ignorados.

Frei Nedio Pertile
Cuiabá, 12/11/2010 

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