I Domingo do Advento – Ano A
Is 2,1-5; Sl 122; Rm 13, 11-14; Mt 24, 37-44
Iniciamos, hoje, o Ano Novo da Igreja. Acendemos a primeira vela da coroa do Advento, o que nos lembra que Jesus Cristo é a luz do mundo e a luz de nossa vida. O ano litúrgico, a começar pelo tempo do Advento, nos propicia a lembrança de todo o mistério da salvação, desde sua origem até a parusia do Senhor, a sua segunda vinda. O Advento (= vinda) é um tempo de preparação, com dois sentidos: prepara-nos para celebrar primeira vinda de Jesus ao mundo, e esta já aconteceu há mais de dois mil anos, e que nós recordamos com carinho e fé no Natal, mas também nos prepara para a segunda vinda de Cristo ao mundo no final dos tempos para julgar o mundo, a sua parusia É por isso que o tempo do Advento não é, primeiramente, um tempo penitencial, mas um tempo de espera alegre para a celebração do Natal, e de vigilância pela vinda do Cristo que nos julgará.
Neste primeiro domingo do Advento, o evangelho nos convida à vigilância, pois o tempo do mundo e o tempo de nossa vida pessoal têm uma meta, o Cristo glorificado, o Filho do Homem, o Juiz justo que virá para julgar. É preciso estar atentos, preparados “porque não sabeis que dia virá o Senhor” (Mt 24,42). É preciso vigilância para estarmos preparados para o encontro com o Senhor, que chegará de surpresa e poderá nos “pegar desprevenidos”, como no tempo de Noé, ou como um ladrão, como disse o evangelho.
Por volta do século VIII a. C., o profeta Isaías convoca o povo de Israel à esperança de um tempo de paz. Depois de várias tentativas frustradas de salvação, advindas das guerras e das iniqüidades econômicas entre o povo eleito, o profeta conclama os povos e nações a uma caminhada alegre até o alto do monte de Sião, a um encontro com Deus, em seu Templo , pois é de lá que Ele quer oferecer um reino de paz e justiça: “Vamos subir ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó, para que ele nos mostre seus caminhos e nos ensine a cumprir seus preceitos; porque de Sião provém a Lei e de Jerusalém, a palavra do Senhor. (...) Vinde, todos à casa de Jacó e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor” (Is 2,3.5). O profeta Isaías preparou o povo de Israel para acolher a vinda do Filho de Deus, a “Palavra feita carne” (Jo 1,14), “a luz do mundo” que traria a vida em plenitude.
Desde que começamos a viver como “criaturas novas”, a partir do batismo, nós nos propusemos a seguir o caminho de Jesus, que nos ensinou a fidelidade ao Pai e a caridade sem limites. Seguir Jesus significa andar na sua luz, sair das trevas do pecado e da morte. É por isso que este tempo de Advento nos compromete na vigilância “com boas obras”, pois não se pode esperar de mãos vazias “o Senhor que virá”, pois quando Ele vier, pedir-nos-á contas dos dons que nos confiou. Quando fazemos frutificar a nossa vida com os dons recebidos de Deus, já estamos antecipando em nossa vida a experiência do juízo salvífico do final dos tempos. É desse jeito que a vida cristã se transforma numa caminhada entre “as coisas que passam” em direção “às coisas que não passam” (Oração Final). Essa realidade do fim dos tempos é já experimentada na eucaristia, pois nela “anunciamos a morte do Senhor, enquanto esperamos a sua nova vinda” (Prefácio da missa). É neste sentido que o apóstolo Paulo exorta a despertar do sono, e a abandonar as obras das trevas, pois “agora a salvação está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé. A noite já vai adiantada e o dia se aproxima” (Rm 13,11-12). Paulo pede que vivamos como “filhos da luz”, “revestidos de Cristo”, evitando o mal: “Procedamos honestamente, como em pleno dia: nada de glutonerias e bebedeiras, nem de orgias sexuais e imoralidades, nem de brigas e rivalidades” (Rm 13,13).
O que impede a vigilância cristã? Será que realmente todos nós, cristãos/ãs, estamos despertos e atentos ao Senhor que vem? Infelizmente, não! Vejamos alguns exemplos:
a) Muitos tornaram-se escravos de um trabalho excessivo, não mais reservando tempo para a família, os parentes, os amigos, a saúde, a oração pessoal, a comunidade de fé e Deus. O periférico, na vida, pode tornar-se uma escravidão ou idolatria, que afasta do essencial, aprisionando e atrofiando o espírito humano. Há quem passe o domingo sem Deus, mas não sem dormir, sem passear, sem comer e, talvez, sem esporte. Uma vez escravizado pelo ativismo e, muito provavelmente, pelo materialismo, será difícil manter a atitude de vigilância, porque só vigia quem espera “no Senhor”.
b) A quem vive o tempo como se fosse reduzido somente ao momento presente (a atual tendência, chamada “presentismo”), que considera que o que vale é só o que se faz e o que se aproveita “agora”, fica muito difícil ser vigilante, simplesmente porque o “presentismo” é uma atitude transformada em “modo de viver”, que nega o amanhã de sua vida e o “amanhã de Deus”.
c) A ociosidade, não só enquanto atitude, mas como hábito de fazer absolutamente nada, ou passar o tempo inutilmente, sem utilizá-lo para o bem dos outros e de Deus, é igualmente matador da capacidade de vigiar. Vigiar significa esperar comprometendo-se.
A vigilância não é só uma atitude de espera, mas também de cuidado e responsabilidade. Ser pessoa vigilante significa manter viva a disposição da busca pelas coisas de Deus, “ir ao encontro do Senhor, com nossas boas obras” (Oração Inicial). Não tenhamos medo de nos colocar a caminho com os olhos abertos às coisas da fé! Não ignoremos os gritos que vêm dos necessitados e da grande necessitada, a natureza cósmica, tão maltratada em nossos dias. “Na tarde de nossa vida, seremos julgados pelo amor” (S. João da Cruz). Não deixemos que “as coisas que passam” (as conquistas, os títulos, os confortos, os méritos, o bem-estar, o próprio mundo) estacionem nosso espírito, pois elas não são a última palavra de nossa exitência, nem a última palavra do mundo. A última realidade de nossa vida será o próprio Cristo glorioso, parusíaco, que nos julgará e, se o merecermos, nos unirá ao Pai e a seu Espírito, na comunhão da vida eterna.
Frei Nedio Pertile
Cuiabá, 25 de novembro de 2010
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Segui-lo é nossa graça; e
Transmitir este tesouro aos demais
é nossa tarefa.
Que o Senhor nos confiou ao nos chamar
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