sexta-feira, 29 de abril de 2011

Homilia dia 01/05/2011 “Felizes aqueles que crêem sem ter visto!”(Jo 20,29).


II – DOMINGO DE PÁSCOA
01.05.2011.
“Felizes aqueles que crêem sem ter visto!”(Jo 20,29).
1.Introdução.
As alegrias da Páscoa, ainda, ressoam em nosso coração, pois, é grande demais o presente que recebemos do Senhor! Ele não olhou para as fraquezas de seus Apóstolos, mas, desejou-lhe a paz. Deu-lhes o Espírito Santo para  perdoarem  os pecados de seus irmãos e desejar-lhes a paz!
Vamos recolher-nos em silêncio – o silêncio é possível também na alegria  -  e procuremos ouvir a voz do Senhor: “A paz esteja com vocês!”  Eu envio vocês em missão como fui enviado por meu Pai. Ide e anunciai a paz a todos os homens e mulheres de nosso tempo! Os cristãos primitivos prolongavam as festividades pascais, especialmente, o recém batizados. Eles “curtiam” o batismo recebido e a Igreja, ainda hoje, reza pedindo: “...fazei que compreendamos melhor o batismo que nos lavou, o Espírito que nos deu nova vida e o Sangue que nos remiu.” Batismo é coisa linda demais irmãos, para ser resumido na festa,no comer, no beber e nos presentes para afilhados.
 Prolonguemos as festividades pascais pensando na graça do batismo que um dia recebemos da Igreja.

2.Palavra de Deus.
At 2,42-47 – A alegria pascal torna os cristãos mais solidários entre si. Vivem como irmãos e freqüentam assiduamente o templo, reúnem-se nas famílias para celebrar a Eucaristia e para estudar a Palavra de Deus que lhes dava maior conhecimento a respeito de Jesus.
1Pd 1,3-9 – Pedro recorda para os cristãos a graça do Batismo que os fez filhos de Deus capazes de sofrer por Jesus, embora, não o tenham visto  e nem tenham convivido com Ele. Eles o amavam apaixonadamente. O cristão deve ser uma pessoa alegre, pois, traz um grande segredo em seu coração: “Jesus, nosso Senhor, é filho de Deus!”
Jo 20,19-31 – Jesus renova o “Presente de Páscoa”: deseja a paz aos Apóstolos, acrescenta-lhes o poder de perdoar pecados e cura a dúvida de Tomé: “Põem teu dedo e tua mão aqui em minhas feridas e não sejas incrédulo, mas acredita!”

3.Reflexão
·         Se a Quaresma foi bem vivida, a alegria pascal será permanente em nosso coração, pois, não há nada mais gratificante do que perceber a vida novamente circulando em todo nosso corpo. Páscoa é vida nova! Páscoa é viver a aventura de ser verdadeiro filho de Deus, participando da vida de Cristo ressuscitado. Não vivemos mais nas trevas e sem saber para onde ir. Somos filhos de Deus e vamos pelo caminho de Jesus Cristo na direção da Casa do Pai. Esta luz nos basta!
·         Tomé exigiu ver e tocar para crer na ressurreição de Jesus. O mundo de hoje é igualmente exigente: “Quer ver para crer!” Exigente com Deus, mas acredita em tantas superstições imbecis e em pastores que roubam até a alma! Só falta vender e comprar lotes para o paraíso!
·         O mundo moderno tem dificuldade de acreditar no pecado, mas vive gastando dinheiro em consultórios de psicologia e psiquiatria tentando livrar-se de complexos de culpa e de traumas familiares. Estaríamos mais próximos da cura acreditando em Jesus que derramou o Espírito Santo sobre os Apóstolos e os enviou ao mundo para perdoar pecados e semear a paz! Somente Aquele que morreu na Cruz e ressuscitou pode dar-nos a paz verdadeira.
·         Nossa angústia tem cura! É o Sangue de Jesus Cristo derramado na Cruz que nos lava de todo pecado. Faça como Tomé. Converta-se e prostrado no chão confesse que “Ele é meu Senhor e meu Deus!” O caminho da paz passa pela fé em Jesus Cristo e pelos joelhos dobrados diante do meu Senhor e meu Deus!
“Jesus, tu é o meu Senhor e o meu Deus!”

Frei Carlos Zagonel

Homilia dia 01/05/2011 “Felizes os que não viram e creram” (Jo 20,28)


Segundo Domingo da Páscoa – Ano A
At 2,42-47; Sl 117; 1Pd 1,3-9; Jo 20,19-31

A liturgia do tempo pascal, que vai até a festa de Pentecostes, quer nos introduzir na unidade do mistério pascal. Lembramos proclamando, e revivemos, em cada celebração dominical deste tempo litúrgico, o mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor, que nos deu vida nova. As leituras bíblicas, sobretudo a primeira de cada domingo, nos colocam diante das experiências vividas pela primeira comunidade cristã sob o impulso dos efeitos da Ressurreição do Senhor.
A primeira leitura (At 2,42-47) descreve a experiência de comunhão da primitiva comunidade de Jerusalém, movida pelos efeitos da vida nova que o Ressuscitado infundiu nos que n’Ele acreditaram. A comunhão dos cristãos era expressa na partilha de bens, na união da fé e nos sentimentos de mútua ajuda. Não era uma comunhão baseada num sentimento vago ou num vínculo tênue, mas ancorada em realidades basilares da nova vida instaurada no mundo pelo Ressuscitado. Os elementos constitutivos desta experiência de comunhão fraterna eram a freqüência ao templo, as orações em comum, a assiduidade em ouvir as instruções dos apóstolos, o temor de Deus diante das conversões e milagres realizados por meio dos apóstolos, a partilha dos bens e o socorro aos necessitados, de modo a não haver necessitados entre eles. Tanto a experiência da comunhão fraterna quanto os prodígios realizados por meio dos apóstolos se constituíam em um testemunho que dava credibilidade à fé cristã, atraindo novos membros a cada dia.
Pode haver algo mais verdadeiro dentro do cristianismo do que a experiência da comunhão fraterna? Jesus, antes de retornar ao Pai, orou pela unidade dos que n’Ele haveriam de crer. A comunhão estabelecida entre os cristãos é uma profecia para a sociedade e fator de credibilidade da própria fé cristã. A experiência humana e eclesial da comunhão fraterna reflete (enquanto imagem) e anuncia (enquanto profecia) a comunhão do próprio Deus trino. O cristianismo, em sua essência, outra coisa não é senão a imitação de Deus, que se revelou uma comunhão de três Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, entre os quais circula a plenitude da vida e do amor, e de cuja plenitude quer que a humanidade e o mundo cósmico participem. A nova vida inaugurada no mundo pelo poder da ressurreição de Cristo abre-nos as portas da experiência da comunhão fraterna à imagem da comunhão da Trindade.
Na segunda leitura (1Pd 1,3-9), apóstolo Pedro, escrevendo provavelmente a cristãos que não haviam conhecido pessoalmente Jesus Cristo, faz uma espécie de pregação batismal na qual crê no retorno próximo do Cristo glorioso. Para o apóstolo, os batizados foram “gerados” de novo, desta vez pelo poder da ressurreição de Cristo, “para uma esperança viva, para uma herança incorruptível, imaculada e imarcescível, reservada no céu” (1Pd 1,3-4). O batismo faz “nascer de novo” e este “renascimento” é causa de profunda alegria. Entretanto, os cristãos não estão livres e imunes aos sofrimentos e provações do mundo, mas tais sofrimentos e provações dão autenticidade à vida de fé. O batizado é provado como o ouro no cadinho (fornalha) para depois brilhar com Cristo em sua glória. O dom da fé recebido no batismo nos faz degustar por antecipação as coisas que nos serão desveladas plenamente quando Cristo glorioso se nos manifestar. E é justamente isso que dá ao cristão a alegria de acreditar e de amar mesmo sem ver: “E ele, embora não o tendes visto, amais; nele apesar de não o terdes visto, mas crendo, vos rejubilais com uma alegria inefável e gloriosa, pois que alcançais o fim da vossa fé, a saber, a salvação de vossas almas” (1Pd 1,8-9).
A segunda leitura nos lembra de que precisamos recordar nosso batismo! Por ele nos unimos e nos configuramos ao mistério da morte e ressurreição do Senhor. A experiência de comunhão fraterna, antes voltada mais aos irmãos (linha horizontal), agora se apresenta mais em linha vertical pela experiência de união com Cristo. Quem vive unido a Cristo, seu coração experimenta a verdadeira alegria, é tomado de alegria espiritual, não obstante o mal que o cerca e os fracassos que ameaçam freqüentemente a sua esperança. O cristão é alguém que acredita mesmo sem ver!

O evangelho (Jo 20,19-31) descreve o reencontro de Jesus ressuscitado com os apóstolos. O reencontro produz nestes últimos uma alegria profunda, indizível, cheia de consolação, pois a morte do Mestre lhes havia deixado numa profunda tristeza e decepção. Ao reencontrar-se com eles, Jesus lhes dá a paz, o Espírito Santo e o poder de perdoar os pecados. Como na primeira hora do discipulado, é o próprio Jesus quem toma a iniciativa de encontrar-se com os apóstolos, desta vez não convidando a segui-lo, mas a imitá-lo, ou seja, prosseguindo a sua missão, para a qual os capacita com os dons do Paráclito.

O apóstolo Tomé, contudo, não estava neste primeiro reencontro do Senhor com os apóstolos, por isso tem dificuldade para crer no que os apóstolos lhe narraram. Para certificar-se da verdade da ressurreição do Mestre, Tomé quer vê-lo e tocá-lo: “Se eu não vir em suas mãos o lugar dos cravos e se não puser o meu dedo no lugar dos cravos e minha mão no seu lado, não crerei” (Jo 20,25). Contudo, algo de novo acontece na consciência do incrédulo Tomé ao ver o Ressuscitado: ele vê pessoalmente o Cristo vivo, e diante d’Ele faz uma das mais belas profissões da fé: “Meu Senhor e meu Deus” (Jo 20,28). Jesus, ao observar a dificuldade de Tomé em acreditar, e considerando todos aqueles que se associariam ao apóstolo incrédulo no futuro da humanidade, proclama uma nova bem-aventurança: “Felizes os que não viram e creram” (Jo 20,29).
A incredulidade de Tomé se prolonga nos descrentes de nosso tempo que trocaram a fé por “interesses demasiado humanos”. Pode ser que muitos perderam a fé por causa dos fracassos e decepções da vida, instalando-se nas próprias necessidades e misérias, sem nada mais esperar de outrem. E não conseguiram mais dar o passo, como aconteceu com Tomé, para ter, outra vez, o encontro com o Cristo vivo. Tomé incrédulo é o protótipo do homem moderno, que endeusou a ciência e a razão, e menosprezou a fé e atrofiou a espiritualidade. Tomé incrédulo é o exemplo dos que “precisam ver para crer”, dos que idolatram a tecnologia e o progresso, considerando o mistério de Deus como algo supérfluo e desnecessário. Tomé incrédulo é também o modelo dos que apregoam uma religião sem conversão e de interesses imediatos, evadindo-se da comunidade de fé. Não é preciso procurar muito para dar-se conta do enfraquecimento da pertença a Cristo e à Igreja a que se submeteram muitos que pareciam crer fortemente outrora.
Em nosso tempo, urge o encontro com o Cristo vivo, com o seu Evangelho e a sua Igreja, pois é este encontro que dá início ao amadurecimento da fé. A fé no Ressuscitado é dom, mas precisa ser cultivada no lugar adequado e em momentos adequados, sob pena de retrocedermos à incredulidade, como aconteceu com Tomé. As palavras do Papa Bento XVI são muito apropriadas para a mensagem deste domingo: “Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande idéia, mas através de um encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva” (Bento XVI, Encíclica Deus é Amor, nº 1).
                                                                                                    Frei Nedio Pertile, OFMCap.
Cuiabá, 29 de abril de 2011

terça-feira, 26 de abril de 2011

Evangelho de hoje (26/04/2011) João 20, 11-18

Maria Madalena foi até o túmulo e viu que a pedra que tapava a entrada tinha sido tirada. Então foi correndo até o lugar onde estavam Simão Pedro e outro discípulo, aquele que Jesus amava, e disse:
- Tiraram o Senhor Jesus do túmulo, e não sabemos onde o puseram! Maria Madalena tinha ficado perto da entrada do túmulo, chorando. Enquanto chorava, ela se abaixou, olhou para dentro e viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde tinha sido posto o corpo de Jesus. Um estava na cabeceira, e o outro, nos pés. Os anjos perguntaram:
- Mulher, por que você está chorando? Ela respondeu:
- Levaram embora o meu Senhor, e eu não sei onde o puseram! Depois de dizer isso, ela virou para trás e viu Jesus ali de pé, mas não o reconheceu. Então Jesus perguntou:
- Mulher, por que você está chorando? Quem é que você está procurando? Ela pensou que ele era o jardineiro e por isso respondeu:
- Se o senhor o tirou daqui, diga onde o colocou, e eu irei buscá-lo.
- Maria! – disse Jesus. Ela virou e respondeu em hebraico:
- “Rabôni!” (Esta palavra quer dizer “Mestre”.) Jesus disse:
- Não me segure, pois ainda não subi para o meu Pai. Vá se encontrar com os meus irmãos e diga a eles que eu vou subir para aquele que é o meu Pai e o Pai deles, o meu Deus e o Deus deles. Então Maria Madalena foi e disse aos discípulos de Jesus:
- Eu vi o Senhor! E contou o que Jesus lhe tinha dito.
Bíblia Sagrada – Nova Tradução na Linguagem de hoje – Ed. Paulinas
Bom dia!
Esse encanto amigo e amável de Madalena deveria nortear todos os nossos trabalhos pastorais, dentro ou fora do horário da igreja. O encanto e a felicidade se misturaram no sentimento puro daquela que muito foi perdoada ao rever seu mestre e salvador.

“(…) Maria Madalena queria somente estar com Jesus, ainda que ele estivesse morto. Queria estar com ele, mesmo que tivesse que ir buscá-lo, onde quer que o tivessem colocado. Chorava porque não havia encontrado Jesus. ESTARIA DISPOSTA A QUALQUER SACRIFÍCIO PARA REALIZAR O SEU INTENTO. Porém, se as pessoas correspondem ao amor de Deus, tanto mais Deus corresponde ao amor dos homens. Maria Madalena recebeu a grande recompensa pelo seu amor: fez a grande experiência do encontro pessoal com o ressuscitado, e anunciou a todos esta experiência”. (site da CNBB)

Ela não foi ao sepulcro à toa. Pretendia, conforme o texto acima, continuar zelando de Jesus, como ainda hoje fazemos por aqueles que por nós são amados (amigos, parentes, etc). Mas esse zelo precisaria ser estendido a mais gente.
Quem faz da sua vida um exercício de zelo, ou como preferimos dizer, aqueles que buscam a santidade, ao se deparar com ressurreição de Cristo, não se contém, e como Madalena vibram, alegram-se, rejubilam-se… Qual foi a ultima vez que vi Jesus ressuscitar num irmão, numa casa, numa situação impossível? Qual foi a última vez que, mediante um acontecimento, corriqueiro ou extraordinário, dissemos: “eu vi o Senhor”?
Ao preparar, com o mesmo amor zeloso de Madalena, um evento, uma celebração, um grupo de oração ou no zelo harmonioso dos ensaios para uma missa, somos também gratificados com a visão da ressurreição. Ao ver as pessoas cantando, louvando, se rejubilando é impossível também não ver o Senhor, ou seja, todo amor e zelo é recompensado por Deus: Nossos olhos vêem o que ninguém vê,,,

“(…) Porém, ainda que falemos dessa maneira, meus queridos irmãos, estamos certos de que vocês têm as melhores bênçãos que vêm da salvação. DEUS NÃO É INJUSTO. ELE NÃO ESQUECE O TRABALHO QUE VOCÊS FIZERAM NEM O AMOR QUE LHE MOSTRARAM NA AJUDA QUE DERAM E AINDA ESTÃO DANDO AOS SEUS IRMÃOS NA FÉ. O nosso profundo desejo é que cada um de vocês continue com entusiasmo até o fim, para que, de fato, recebam o que esperam”. (Hebreus 6, 9-11)

Mediante as dificuldades e tribulações que somos sujeitos no dia-a-dia temos sempre a opção de desmotivar, desistir, abandonar, “levar nas coxas”, etc, ou, mesmo que tudo aparentemente esteja perdido, levantar, seguir, continuar, (…).
Madalena, como os outros discípulos, sabia e tinha consciência plena que Jesus já havia morrido. O amor a fazia manter a rotina. Consegue perceber a sensível pedagogia desse momento? Problemas sempre aparecerão, mas precisamos encontrar vontade em manter a rotina, levantar, abrir os olhos, viver. Quem perdeu alguém ou vive um momento difícil seja ele financeiro, amoroso, de relacionamento, profissional, (…) é convidado a acreditar; mesmo aqueles em que a depressão já bate a porta ou que “acordou decidido (a) a desistir” e parar de sofrer, são convidados a se atrever a levantar e por um amor maior manter a rotina. Jesus ressurgirá e com Ele, nós também.

“(…) Por isso nunca ficamos desanimados. Mesmo que o nosso corpo vá se gastando, o nosso espírito vai se renovando dia a dia E essa pequena e passageira aflição que sofremos vai nos trazer uma glória enorme e eterna, muito maior do que o sofrimento. Porque nós não prestamos atenção nas coisas que se vêem, mas nas que não se vêem. Pois o que pode ser visto dura apenas um pouco, mas o que não pode ser visto dura para sempre”. (II Coríntios 4, 16-18)

Siga o exemplo de Madalena, confie em Deus e O veja reanimar sua esperança.
Um imenso abraço fraterno
Deus é Maior

sábado, 23 de abril de 2011


A Páscoa de Cristo e a nossa Páscoa

“Aleluia, o Senhor ressuscitou!”, canta a Igreja na noite de Páscoa. A celebração da vigília pascal é, na verdade, uma noite de luz, é alegria e esperança. A vida seria muito triste sem a luz do Cristo Ressuscitado. O pecado, a morte e o mal foram vencidos, muito embora ainda soframos as suas conseqüências. Se não fosse assim, os nossos olhos não estariam voltados para o futuro, nem para o horizonte, nem para o inusitado. O tédio da repetição é férreo... Sem a ressurreição, nada haveria a esperar, nada a sonhar, nada a testemunhar.

Deus se fez humano para que o ser humano se divinizasse, diz o adágio dos Padres da Igreja. A cruz mostra que Deus passou pela situação mais ínfima da condição humana, não para nos deixar sozinhos quando aí estivermos. O Filho de Deus, fazendo-se um de nós, leva-nos em seus braços abertos e mãos sangrentas, até o reino da Trindade. Isto nos dá a audácia de bradar: Viva a vida! Vida a alegria! Viva o Amor!, graças à cruz de nosso Salvador.

É justamente isso que move os nossos calcanhares no caminho da vida, dando-nos uma misteriosa energia para superar as doenças, as intrigas, os desafetos, as injustiças sociais e ecológicas, enfim, todo o sofrimento. O dinheiro nos leva até o dinheiro, não mais além dele; o poder nos leva até o poder, não mais além dele; o prazer nos leva até o prazer, não mais além dele; o individualismo infernal de nosso século nos leva até a solidão, não mais além dela; a violência nos leva até a violência, não mais além dela. O princípio da ressurreição quebra o círculo vicioso desses interesses, meramente humanos. Sem Deus, não iríamos além de nós mesmos.

É verdade que gostamos muito das coisas da terra, que nos satisfazem de muitas maneiras, mas não podemos esquecer o céu. É verdade que gostamos muito do momento presente, mas não podemos esquecer o amanhã. É verdade que gostamos muito do poder das pessoas e das personalidades, mas não podemos esquecer o fascínio de Cristo e o poder do Amor de Deus. É verdade que gostamos muito da noite, mas não podemos esquecer o dia sem fim, que a ressurreição nos anuncia. A ressurreição de Jesus faz-nos recordar das coisas que hão de vir. O que virá, independente de toda medida humana, é o poder renovador de Deus sobre o nosso decrépito e poético cosmos, com a força de atrair tudo para si, para seu abismo, onde circula ininterruptamente o amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

A ressurreição de Cristo nos faz acreditar em nós, nos outros e em tudo o que nos envolve. Faz-nos apostar no potencial positivo que todo ser humano carrega dentro de si. Falando em linguagem poética, nessa hora, eu gostaria de ser um anjo para entrar pela janela de todas as casas e anunciar que Jesus Cristo não está mais morto, mas Vivo, e assim renovar o mundo com a força deste anúncio. Aliás, esse anúncio, tanto esperado, sustenta hoje os corações machucados pelos sofrimentos e decepções. É como um banho de água fresca no deserto árido e escaldante. O anúncio do Cristo vivo é  como um copo de água gelada numa estrada empoeirada e sufocada pelo calor do verão.  Sim, “Cristo ressuscitado é a minha alegria”, dizia São Serafim de Sarov;  “Ele é a nossa paz”, dizia São Paulo Apóstolo; e os cristãos seguidores de Cristo, usando as palavras do evangelista João, professam que Ele é “caminho, verdade e vida”! Nesta hora, quero me unir a todas essas vozes, cheias de esperança  e dizer a todos quantos encontrar pelo caminho: Que a força da Ressurreição do Senhor possa elevar teus pensamentos e sentimentos para Aquele que nos deu a vida e nos convida ao seu Amor!  Que o raiar do Domingo da Páscoa seja repleto das bênçãos do céu, as quais, atravessando as nuvens, se derramem sobre todos e todas! Feliz Páscoa!
 Frei Nedio Pertile, OFMCap.
Cuiabá, 23 de abril de 2011

Homilia dia (24/04/2011) “Vão à Galiléia, lá me verão!”


DOMINGO DE PÁSCOA
24.04.2011.
“Vão à Galiléia, lá me verão!”
01.Introdução.
Quem “celebrou” a Semana Santa”, certamente, está vivendo um domingo festivo e alegre, pois, o Senhor Jesus está vivo e com Ele iniciamos uma vida nova: nossos pecados foram apagados pelo Sangue de Jesus e sua vida divina “arde”, novamente, em nosso coração. Nós ressuscitamos com Jesus!
Quem não acompanhou Jesus nos caminhos da dor, do coração compungido pelo mal praticado, dificilmente, provará da alegria pascal do Ressuscitado. Páscoa não é comida e nem bebida, mas é participação na vida nova de Jesus. É a alegria, principalmente, espiritual de quem se encontrou com Jesus vivo,  ressuscitado e cheio de luz. Quem apenas comeu bem na Páscoa, perdeu o melhor!
A recordação da covardia dos Apóstolos que abandonaram o Mestre na hora de sua prisão e de sua condenação à morte, agora, é substituída pela alegria da “Paz” desejada e repetida por Jesus  já no seu primeiro encontro com eles: “A Paz esteja convosco! (...) repito: A Paz esteja convosco!”.
Meu irmão, se você estiver atrasado, ausente, machucado pela dúvida, imite o Apóstolo Tomé: Adore a Jesus e reconheça que somente Ele pode dar-lhe a paz! Ele é a nossa paz. “Senhor, dá-me a tua paz!” para que eu percorra o mundo anunciando tua Ressurreição!
02.Palavra de Deus.
At 10,34ª.37-43 – O Apóstolo Pedro conta para o militar e pagão, Cornélio, o fato da Ressurreição de Jesus e da missão recebida de anunciá-lo por todo o mundo. Ele está vivo e foi estabelecido por Deus juiz dos vivos e dos mortos. A alegria pascal não é apenas para consumo pessoal: devemos passá-la adiante como discípulos missionários de Jesus ressuscitado. Todo mundo precisa conhecê-lo!
Cl 3,1-4 – A Ressurreição de Jesus implica em compromisso de viver como ressuscitados e anunciá-lo a todos os povos como Salvador e Juiz universal! Crer na ressurreição de Jesus e viver em pecado significa anular a força de Jesus e permanecer na morte. Neste caso, Jesus teria morrido em vão!
Jo 20,1-9 – Madalena, a Apóstola dos Apóstolos, anunciou por primeira a ressurreição de Jesus. O amor do Apóstolo João deu-lhe forças para correr e chegar primeiro ao túmulo, e vendo os panos com que Jesus havia sido envolvido, acreditou na sua ressurreição. O amor dá forças e abre os olhos para a fé! João correu, chegou antes de Pedro, mas respeitou o ancião e o deixou entrar primeiro no sepulcro. A luz difusa da ressurreição vai iluminando, aos poucos, o espírito dos Apóstolos que recordam as palavras de Jesus e, agora, entendem as Escrituras.
03.Reflexão.
·         A experiência dos Apóstolos ilumina  a nossa experiência de ressurreição, pois, não estamos realizando, apenas, um rito de Festa Pascal! Somos convidados a entrar no Mistério de Jesus ressuscitado e ressuscitar com Ele para uma  vida nova e mais humana, mais decente e mais cristã. A Páscoa não se celebra, apenas; vive-se  no dia a dia. A Páscoa nos faz melhores.
·         A vida nova em Cristo é como a experiência do enfermo terminal que recupera a saúde. Como deve ser gostoso sentir que a vida está voltando e o nosso corpo fica de pé! Fiquemos de pé, pois, em nós pulsa uma vida nova, divina, a vida de Jesus ressuscitado!
·         Como deve ser gostoso dar-se conta que o pai de família está de volta saudável, sem vícios e cheio de amor por seus filhos! Ele ressuscitou! Diga-se o mesmo da mãe e dos próprios filhos! Celebremos a Páscoa com vida nova na qual brilha a luz da Ressurreição de Jesus.
·         Na Festa da Páscoa devemos recordar nosso batismo. Os primeiros cristãos trajavam vestes brancas simbolizando a inocência e a ressurreição luminosa de Jesus. O Batismo era para valer!O cristão acreditava no poder de Jesus e vivia sua vida cotidiana como já ressuscitado!
“Se ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto!”

Frei Carlos Zagonel.



terça-feira, 19 de abril de 2011

Evangelho de hoje (19/04/2011) João 13, 21-33. 36-38

Depois de dizer isso, Jesus ficou muito aflito e declarou abertamente aos discípulos:
 - Eu afirmo a vocês que isto é verdade: um de vocês vai me trair. Então eles olharam uns para os outros, sem saber de quem ele estava falando. Ao lado de Jesus estava sentado um deles, a quem Jesus amava. Simão Pedro fez um sinal para ele e disse:
 - Pergunte de quem o Mestre está falando. Então aquele discípulo chegou mais perto de Jesus e perguntou:
 - Senhor, quem é ele?
 - É aquele a quem vou dar um pedaço de pão passado no molho! – respondeu Jesus. Em seguida pegou um pedaço de pão, passou no molho e deu a Judas, filho de Simão Iscariotes. E assim que Judas recebeu o pão, Satanás entrou nele. Então Jesus disse a Judas:
- O que você vai fazer faça logo! Nenhum dos que estavam à mesa entendeu por que Jesus disse isso. Como era Judas que tomava conta da bolsa do dinheiro, alguns pensaram que Jesus tinha mandado que ele comprasse alguma coisa para a festa ou desse alguma ajuda aos pobres. Judas recebeu o pão e saiu logo. E era noite. Quando Judas saiu, Jesus disse:
 - Agora a natureza divina do Filho do Homem é revelada, e por meio dele é revelada também a natureza gloriosa de Deus. E, se por meio dele a natureza gloriosa de Deus for revelada, então Deus revelará em si mesmo a natureza divina do Filho do Homem. E Deus fará isso agora mesmo. Meus filhos, não vou ficar com vocês por muito tempo. Vocês vão me procurar, mas eu digo agora o que já disse aos líderes judeus: vocês não podem ir para onde eu vou. Simão Pedro perguntou a Jesus:
 - Senhor, para onde é que o senhor vai? Jesus respondeu: – Você não pode ir agora para onde eu vou. Um dia você poderá me seguir! Pedro tornou a perguntar:
 - Senhor, por que eu não posso segui-lo agora? Eu estou pronto para morrer pelo senhor! – Está mesmo? – perguntou Jesus. – Pois eu afirmo a você que isto é verdade: antes que o galo cante, você dirá três vezes que não me conhece.
Bíblia Sagrada – Nova Tradução na Linguagem de hoje – Ed. Paulinas
Bom dia!
Nada fica escondido aos olhos de Deus. Voltemos ao capítulo anterior onde Judas se via “indignado” ao ver Maria despejar o nardo nos pés de Jesus ao invés de vende-lo: “(…) Judas disse isso, não porque tivesse pena dos pobres, mas porque era ladrão. Ele tomava conta da bolsa de dinheiro e COSTUMAVA TIRAR DO QUE PUNHAM NELA”. (João 12, 6)
Talvez Judas, como conta o evangelho de ontem, acreditasse ser “esperto”, como muitos políticos, altos funcionários ou outros donos de regalias adquiridas com sofrimento de outros, (…) acreditam estar alheios aos olhos vigilantes das pessoas e de Deus. Talvez ele (como outros) não acreditasse de fato que Jesus era o próprio filho de Deus, mesmo tendo presenciado tantos milagres que aconteceram ao longo dos três anos de convivência diária. Talvez Judas não tivesse se convertido (ou convencido) ainda.
Quantos estão por ai vacilando como Judas? Pessoas que como o apóstolo, vendem sua honestidade, sua vida, sua consciência por trinta moedas ou menos? Um parêntese: historiadores  apresentam fatos e relatos que teriam sido trinta denários de prata e outros apontam para trinta ciclos, ou seja, mesmo feitos da mesma prata, teriam um valor bem inferior ao outro. Por quanto Judas vendeu sua crença, não importa, “pecadinho” ou “pecadão” ambos estão errados!
Parece ter sido a sina de Judas. Imaginava vender o vaso de nardo puro por trezentas moedas de prata, acabou entregando sua vida e a do seu senhor por menos de dez por cento (10%) do valor imaginado. Quem vive nas sombras ou penumbra, pensa talvez fugir aos olhos de Deus, mas a qualquer momento poderá se deparar com uma grande surpresa: A VERDADE.
Percebe que todas as vezes que fraquejamos buscamos o isolamento aos olhos de Deus? Afastamo-nos das pessoas, desmotivamos das nossas obrigações, procuramos culpados para nossas falhas, sumimos, pedimos “um tempo”… Quantas vezes uma grande queda veio antecedida desses gestos? Jesus não precisou passar o “pão com molho” pra nos mostrar que estamos ou estávamos prestes a fazer uma grande burrada.
Por ciclos ou denários, sejam quais foram os motivos, geralmente são menores do que eu imaginava ou pensava.
A semana santa esta chegando e Deus espera de nós um pouco além do ser servo:

“(…) E agora diz-me o Senhor – ele que me preparou desde o nascimento para ser seu Servo – que eu recupere Jacó para ele e faça Israel unir-se a ele; aos olhos do Senhor esta é a minha glória. Disse ele: ‘NÃO BASTA SERES MEU SERVO para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os remanescentes de Israel: EU TE FAREI LUZ DAS NAÇÕES, PARA QUE MINHA SALVAÇÃO CHEGUE ATÉ AOS CONFINS DA TERRA’” (Isaias 49, 5-6)

Reflita antes de qualquer decisão! Evite pré julgamentos, pois Judas o traiu por moedas e os outros dez (exceto João) também fugiram após sua prisão sem receber nada. Quem é o maior traidor: o fraco ou o covarde?
Não venda o amor de Deus por dinheiro nenhum! Não desanime por nada!
Lembre-se que Deus nos conhece e espera um pouco mais de cada um.
Um imenso abraço fraterno.


Alexandre Soledade
"(...) A alegria evita mil males e prolonga a vida". (William Shakespeare)
(65) 8408-4145

Deus é Maior

sábado, 16 de abril de 2011

Homilia dia (17/04/2011) A GLÓRIA DE JESUS CRISTO SOB O MANTO DA HUMILDADE


A GLÓRIA DE JESUS CRISTO SOB O MANTO DA HUMILDADE
Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor

Mt 21,1-11; Is 50,4-7; Fl 2,6-11; Mt 27,11-54

Seguimos Jesus na vida, na morte e na ressurreição! É com este espírito que a liturgia do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor nos faz reviver, contemplar e comemorar os momentos reveladores finais do ministério do Filho de Deus, desde a entrada triunfante em Jerusalém, a condenação e morte, a ressurreição,  até sua exaltação junto de Deus. Fiel à missão salvífica que o Pai lhe confiou, o nosso Redentor entrega-se livremente aos poderes do mundo e morre, mas Deus Pai, na força de seu Espírito, tira-o da morte ressuscitando-o, exaltando-o à sua direita e declarando-o Senhor de toda a criação. Sofrimento e glória, esvaziamento e exaltação: duas faces de um único mistério, revividos e celebrados pela liturgia deste domingo.

A segunda leitura (Fl 2,6-11) é provavelmente o primeiro hino cristológico conhecido. Resume concisamente, num primeiro instante (vv. 6-8), o mistério da descida do Filho de Deus – o esvaziamento de sua divindade, a humilhação e a aniquilamento a que se submeteu- , e num segundo instante (vv. 9-11), a sua glorificação e exaltação junto de Deus:

“Jesus Cristo, existindo em condição divina (...) esvaziou-se a si mesmo,
assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens.
Encontrado em aspecto humano, humilhou-se a si mesmo,
fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz.
Por isso, Deus o exaltou acima de tudo
e lhe deu o nome que está acima de todo nome.
Assim ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra
e toda língua proclame: ‘Jesus Cristo é Senhor’, para a glória de Deus Pai” (Fl 2,6-11).

Neste mistério de descida-subida do Filho de Deus, desvela-se o amor gratuito, ilimitado e incondicional com o qual Deus amou a humanidade: assumindo a integridade da condição humana, menos o pecado,  o Filho percorreu com fidelidade as vicissitudes da condição humana até o extremo da morte – nada neste mundo lhe foi estranho -, mas também o caminho da subida para Deus, mediante a ressurreição, em obediência ao plano salvífico do Pai, como dizem as orações da missa de hoje:  “(...) para dar-nos um exemplo de humildade, quisestes que o nosso Salvador se fizesse homem e morresse na cruz. Concedei-nos aprender o ensinamento de sua paixão e ressuscitar com ele em sua glória” (Oração do dia ou Coleta);  “Inocente, Jesus quis sofrer pelos pecadores. Santíssimo, quis ser condenado a morrer pelos criminosos. Sua morte apagou nossos pecados. E sua ressurreição nos trouxe vida nova” (Prefácio da missa).

Iniciamos a liturgia deste domingo com a bênção e a procissão dos ramos, um costume cristão que remonta as suas origens ao século V, entre os cristãos de Jerusalém, e que mais tarde se esparramou pelas Igrejas do Oriente e do Ocidente. Seguindo os passos de nosso Redentor, comemoramos o seu ingresso festivo em Jerusalém logo antes de sua paixão. Não fizemos uma simples representação teatralizada de um fato histórico, mas muito mais do que isso, uma proclamação pública da fé cristã, uma demonstração visível fora do templo, de nosso seguimento a Cristo: porque amamos nosso Salvador, quisemos seguir seus passos na vida e também na morte. É com este espírito que, antes de iniciar a procissão dos ramos, o sacerdote exortou à comunidade: “Celebrando com fé e piedade a memória dessa entrada, sigamos os passos de nosso Salvador, para que, associados pela graça à sua cruz, participemos de sua ressurreição e de sua vida”. Durante a procissão, trouxemos em nossas mãos erguidas, ramos de palmeiras, arbustos e plantas medicinais, com os quais homenageamos nosso Rei, Jesus Cristo. Uma justa homenagem em sinal da vitória sobre o pecado e a morte de Quem serviu e se doou por amor até o fim. E o fizemos, através do memorial litúrgico, associando-nos à multidão que aclamou efusivamente a sua chegada em Jerusalém.

A entrada de Jesus em Jerusalém, montado num jumentinho, é narrada pelo primeiro evangelho deste domingo (Mt 21-1-1). Aproximava-se a festa da Páscoa, por isso muitos judeus estavam a caminho de Jerusalém. É esta multidão que se alegra e aclama porque sabe que Jesus de Nazaré está cumprindo profecias, confirmando que Ele é o profeta (Dt 18,17-18) e o “rei messiânico” tão esperado, sob o manto da humildade, da pobreza e da paz: “Eis que o rei vem a ti, manso e montado em um jumento, em um jumentinho, filho de uma jumenta” (Mt 21,5; Is 62,11 e Zc 9,9). Ao colocar as suas vestes sobre o jumento para que Jesus pudesse sentar, visto que o animal não tinha sela porque nunca havia sido montado, os discípulos fazem um gesto de reconhecimento da majestade de Jesus, realizando o que fora prefigurado no Antigo Testamento (2Rs 9,13). É uma das poucas passagens em que se ressalta a glória de Jesus já reconhecida na terra: “A numerosa multidão estendeu suas vestes pelo caminho enquanto outros cortavam ramos das árvores e as espalhavam pelo caminho. As multidões que iam na frente de Jesus e os que o seguiam, gritavam: ‘Hosana ao Filho de Davi. Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto do céu!” (Mt 21-8-9).

A majestade e a glória de Jesus, no entanto, não é um escondimento e nem a eliminação do sofrimento pelo qual passou antes de ser exaltado. A liturgia nos faz contemplar e reviver dois momentos de nosso Salvador, momentos intrinsecamente unidos de um único mistério: Ele foi aclamado, mas depois rejeitado; sofreu,  e depois foi exaltado, abandonado,  e depois foi entronizado. Ao narrar a Paixão de Senhor, o evangelho de Mateus (27,11-54) mostra Jesus sereno, como quem se confia inteiramente ao Pai, sendo condenado e trocado por um rebelde (Barrabás). Jesus revive a tragédia humana da rejeição da verdade e do bem, prefigurada na figura do justo perseguido que se confia inteiramente a Deus (Is 50,4-7) e, que salva através da entrega e si e do sofrimento. Não pelo sofrimento da resignação ou da ignorância, mas pelo sofrimento da obediência. Desse modo, Jesus torna-se exemplo para todo cristão: “Meu Pai (...) seja feita a tua vontade” (Mt 26,27). Jesus cumpre o plano do Pai em atitude de liberdade, mesmo à custa do sofrimento e da perseguição; entrega-se por nós soberanamente, qual rei libertador e doador da vida, sofrendo a morte mais verdadeira que aconteceu na face da terra, autenticada pelo próprio Deus, através da qual instituiu uma nova aliança em seu sangue, e por meio da qual instaurou a reconciliação universal.

Para nos salvar, Deus não escolheu o caminho da força, mas do serviço, do sofrimento e do amor, como havia profetizado Isaías a respeito do Servo Sofredor: “O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhe resisti nem voltei atrás. Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba; não desviei o rosto de bofetões e cusparadas” (Is 50,5-6). Os sofrimentos do Servo Sofredor se realizam em Jesus, mostram o “preço” (custo) da pedagogia divina para nos salvar. É difícil compreender esta pedagogia, sobretudo em tempos, como o nosso, em que o serviço tende a ser remunerado, o sofrimento tende a ser negado e o amor tende a ser comercializado.  

Com a celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, iniciamos a Semana Santa. Semana decisiva e propícia, “tempo de graça e de salvação”, para intensificar a nossa conversão e o nosso seguimento Àquele que nos amou até o fim, através da confissão, do silêncio meditativo e contemplativo e da participação ativa nas cerimônias litúrgicas. A liturgia é um dos lugares privilegiados de encontro com Jesus Cristo: “Encontramos Jesus Cristo, de modo admirável na liturgia. Ao vivê-la, celebrando o mistério pascal, os discípulos de Cristo penetram mais nos mistérios do Reino e expressam de modo sacramental sua vocação de discípulos e missionários” (Documento de Aparecida, nº 250).

Reacendamos em nós o desejo e o propósito de seguir os passos de nosso Redentor, pois “se com Ele morrermos, com Ele viveremos” (Rm 6,8). Não façamos das  celebrações da Semana Santa espetáculos ou representações teatrais apenas, mas atravessemos a superfície da dimensão estética das apresentações, para penetrar no mistério que é ali evocado para a nossa fé. E rezemos com fervor, para vivermos com fidelidade e intensamente, em nossa vida cotidiana, o caminho da cruz que leva à ressurreição, e assim nos unirmos cada vez mais ao nosso Salvador.

Frei Nedio Pertile
Cuiabá, 12 de abril de 2011

Homilia dia (17/04/2011) Eis que vem o teu Rei montado num jumentinho!


DOMINGO DE RAMOS
 17.04.2011.

Eis que vem o teu Rei montado num jumentinho!
01.Introdução.
Iniciamos a “Semana Santa” com a “Procissão de Ramos”: Jesus entra solenemente em Jerusalém, cercado pelo clamor do povo que, amanhã, vai mudar o discurso pedindo sua morte em troco do criminoso Barrabás! Que povo mutante como o vento!  Hoje aclama e amanhã condena!
A “História do Domingo de Ramos” repete-se seguidamente em nossa vida: hoje aclamamos Jesus como nosso Salvador, amanhã nós o abandonamos, assediados pela tentação! Nossa fidelidade é posta à prova todos os dias e quantas vezes pecamos!
A “Semana Santa”,com certeza, precisa ser preparada, pois é um momento precioso de graça em nossa vida: é tempo propício para revisar nossa vida cotidiana, profissional e familiar! Acompanhemos Jesus no sofrimento para ressuscitarmos com Ele na Páscoa. A alegria verdadeira nasce da dor!

02.Palavra de Deus.
Is 50,4-7 – O “Servo de Javé”, descrito por Isaías, é figura profética de Jesus: ele madruga no esforço de ouvir os detalhes de sua missão. Ele vai cumpri-la para consolar o Povo de Deus. Nada, nada mesmo, o afastará desta missão; guarda fidelidade a Deus,pois, não será  envergonhado. Deus será sua recompensa.
Fl 2,6-11 – Estamos diante de um “Hino em honra de Cristo” – talvez, o primeiro; nele se descreve o despojamento de Cristo – o verdadeiro Servo de Javé – até a morte e a glorificação final. Sua fidelidade no anúncio do amor misericordioso do Pai causou-lhe a morte, mas Deus o glorificou dando-lhe  honra e nome único, no qual podemos ter a salvação. De fato, “Jesus é o Senhor! (...) e diante dele  devem dobrar-se todos os joelhos dos seres celestes, dos terrestres e dos que vivem sob a terra...”.
Mt 27,11-54 – Narrativa da Paixão do Senhor.Acompanhemos em silêncio e, depois, vamos reservar um tempo para lê-la em casa. Precisamos dar-nos conta o quanto Jesus nos amou!
03.Reflexão.
·         O nosso cuidado principal na celebração da “Semana Santa” é evitar o ritualismo vazio que não mexe com nossa vida real. Não podemos celebrar um espetáculo, mesmo que seja na Igreja, quando Jesus não fez espetáculo nenhum! Ele morreu por nós! E São Paulo nos diz: “Se Ele morreu por nós todos, ninguém tem o direito de viver de maneira egoísta ou despreocupada com a obra de Jesus! (2Co 5,14-15). Semana Santa é tempo de conversão e de focar o sentido profundo de nossa vida! Preparemos nosso coração para celebrá-la com o maior respeito.
·         Tanto o “Servo de Javé” (figura de Cristo) Quanto o próprio Jesus viviam atentos à vontade de Deus, guardavam fidelidade inquebrantável à sua missão, mesmo ao preço de sofrimento e morte. Com certeza, é oportuno refletir sobre o tempo que dedicamos à meditação e à oração cotidiana. Precisamos “despertar o ouvido” para saber o que Deus espera de cada um de nós!
·         O “Hino dedicado a Cristo” (segunda leitura) fala do caminho de Jesus: Ele passou pelo despojamento total para chegar à glorificação. É pelo caminho da cruz e do sofrimento que podemos chegar à luz da ressurreição. Este caminho não bate bem com o caminho proposto pelo mundo, mas é o caminho de Jesus é um “ caminho estreito é que leva à salvação!”
·         A “História da Paixão de Jesus”, proclamada na Igreja, deve ser lida, em silêncio respeitoso, em casa. Desliguemos a TV e vamos dedicar-nos mais à Leitura da Palavra de Deus, ao menos, durante o tempo sagrado das duas  próximas semanas. Acompanhemos o silêncio de Jesus!

“Cristo se fez por nós obediente até a morte
e morte de cruz!”

Frei Carlos Zagonel

terça-feira, 12 de abril de 2011

Evangelho de hoje (12/04/2011) João 8, 21-30


Jesus disse outra vez:
- Eu vou embora, e vocês vão me procurar, porém morrerão sem o perdão dos seus pecados. Para onde eu vou vocês não podem ir. Os líderes judeus disseram:
- Ele diz que nós não podemos ir para onde ele vai! Será que ele vai se matar? Jesus continuou:
- Vocês são daqui debaixo, e eu sou lá de cima. Vocês são deste mundo, mas eu não sou deste mundo. Por isso eu disse que vocês vão morrer sem o perdão dos seus pecados. De fato, morrerão sem o perdão dos seus pecados se não crerem que “EU SOU QUEM SOU”.
- Quem é você? – perguntaram a Jesus. Ele respondeu:
- Desde o começo eu disse quem sou. Existem muitas coisas a respeito de vocês das quais eu preciso falar e as quais eu preciso julgar. Porém quem me enviou é verdadeiro, e eu digo ao mundo somente o que ele me disse.
Eles não entenderam que ele estava falando a respeito do Pai. Por isso Jesus disse:
- Quando vocês levantarem o Filho do Homem saberão que “EU SOU QUEM SOU”. E saberão também que não faço nada por minha conta, mas falo somente o que o meu Pai me ensinou. Quem me enviou está comigo e não me deixou sozinho, pois faço sempre o que lhe agrada.
Quando Jesus disse isso, muitos creram nele.
Bíblia Sagrada – Nova Tradução na Linguagem de hoje – Ed. Paulinas
Bom dia!
Quantos por ai são vistos como loucos aos olhos das pessoas? Quantos conselhos são dados e deixados de ser ouvidos por vaidade, orgulho ou pré-conceitos formados? Um catequizando pode ensinar ao catequista? Um aluno tem algo a ensinar ao seu professor? Um padre tem ainda o que aprender sobre a liturgia? Sim!
O evangelho oferece uma oportunidade diária de reflexão. Ele trás para o balcão da análise, situações do nosso cotidiano (pensamentos, ações e reações) para serem revistas: Será que a atitude ou resposta que tive foi a mais cabível para aquele momento? Será que magoei mais do que ensinei? Ajudei as pessoas a crescer ou minha crítica, minha postura, meio jeito mais afastou do que juntou?
A CONVICÇÃO que temos sobre algo é um dos produtos da reflexão ou análise. Ela promove nossa auto-estima, eleva nossa motivação, revigora nossa vontade de continuar, mas não podemos esquecer que o ARREPENDIMENTO também pode nascer dessa mesma reflexão.
A mesma convicção que nos oferece um upgrade, por vezes anda lado a lado com o orgulho. Quantas pessoas que mesmo identificando que suas atitudes são erradas ou pelo menos equivocadas, escondem esse fruto chamado arrependimento? Quantos por vaidade levaram até o ultimo instante de vida o orgulho de não se desculpar? “(…) Vocês são daqui debaixo, e eu sou lá de cima. Vocês são deste mundo, mas eu não sou deste mundo. Por isso eu disse que vocês vão morrer sem o perdão dos seus pecados”.
Que mérito tem alguém que não consegue reconhecer suas próprias falhas? Será que existe alguma vantagem em carregá-las até o fim?
Ainda vemos pessoas que insistem em relutar as mudanças e as correções (às vezes somos nós mesmos). Muitas vezes em virtude da criação que receberam, mas uma boa parcela é por medo ou insegurança. Agarram-se a frases fortes do tipo “NÃO ME ARREPENDO DE NADA QUE FIZ OU FAÇO” ou tentam transformar a situação a “seu” favor. Quem nunca deparou com alguém, ou até a si próprio, que ao ser corrigido tirou do bolso uma resposta ou sugestão, mudando assim o foco da conversa e fugindo de aceitar o próprio erro?
Somos amados por Deus e ninguém esta apto a nos condenar, por que então temo em dar frutos, crescer, mudar (…)? O orgulho nos condena ao ostracismo, um buraco onde só Deus pode nos encontrar. Prefiro o isolamento do que a graça?.

“(…) O terreno que recebe chuvas freqüentes e fornece ao agricultor boas searas, é abençoado por Deus. O QUE PRODUZ SÓ ESPINHOS E ABROLHOS É ABANDONADO, não demora que será amaldiçoado e acabará sendo incendiado. Embora vos falemos desse modo, caríssimos, temos a melhor idéia a vosso respeito e de vossa salvação”. (Hebreus 6, 7-9)

Não deixemos para o último dia o que pode ser feito ainda hoje! Perdoe! Releve! Peça desculpas! Desarme-se às correções que recebemos e receberemos! Quantas famílias se empenham em celebrar missas e missas pelo perdão póstumo de quem nunca quis se arrepender em vida? Não seja mais um!
Se por ventura chegou a conclusão que não consegue ou que é muito difícil, creia, você não esta sozinho! Dê o primeiro passo! “(…) Quem me enviou está comigo e não me deixou sozinho, pois faço sempre o que lhe agrada”.
Um imenso abraço fraterno.
Deus é Maior

sábado, 9 de abril de 2011

Homilia dia (10/04/2011) “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11,25)


V Domingo da Quaresma – Ano A
Ez 37,12-14; Sl 129; Rm 8,8-11; Jo 11,1-45

A liturgia deste domingo nos conduz ao cerne da revelação cristã: o mistério da morte e da ressurreição de Cristo, mistério do qual o próprio Cristo, enviado do Pai, quer atrair todos os seres humanos: “Compadecendo-se da humanidade, que jaz na morte do pecado, por seus sagrados mistérios ele nos eleva ao reino da vida nova” (Prefácio da missa).

Antes da reforma litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano II, o quinto domingo da Quaresma era chamado “Primeiro domingo da Paixão”. Já próximo da Páscoa, continuava a preparar, gradual e intensamente, os catecúmenos para unirem-se, através do processo da iniciação cristã, à Páscoa de Cristo. A comunidade cristã também renovava a vocação recebida graciosamente pela recordação do batismo e da penitência.

A “vida nova” trazida por Jesus Cristo é a “vida eterna”,  que o seu Espírito inscreve em nossa humanidade a partir do batismo, e que nos faz degustar, por antecipação, em todo o nosso ser, o que um dia seremos. A ressurreição de Lázaro, que nos é narrada pelo evangelho deste domingo (Jo 11,1-45), é um anúncio antecipado da própria ressurreição de Cristo, e também diz respeito ao futuro da humanidade. É o último sinal que Jesus faz antes de sua morte, e nessa ocasião apresenta-se como “ressurreição e vida”:  “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em mim jamais morrera” (Jo 11,25-26).

É à luz da fé na ressurreição que se compreende a mensagem da primeira leitura (Ez 37,12-14). O profeta Ezequiel narra a visão do vale dos “ossos secos”, os quais são revivificados pelo Espírito de Deus. O povo eleito que vivia no exílio, conforme a visão de Ezequiel (Ez 37), é semelhante a um vale cheio de ossos, ou seja, uma multidão de pessoas mais mortas do que vivas: “Então ele me disse: Filho do Homem, estes ossos representam toda a casa de Israel, que está a dizer: ‘Os nossos ossos estão secos, a nossa esperança está desfeita. Para nós está tudo acabado’” (Ez 37,11). Ezequiel recebe a missão de Deus de anunciar a Palavra ao povo desesperançado, e será pelo poder desta Palavra e de seu Espírito, que o povo ressurgirá renovado. Se, no princípio da criação, o Espírito dá vida a todo ser criado, agora, a revivificação do povo exilado é como uma segunda criação , mediante o poder da Palavra e do Espírito. Em concreto, a revivificação do povo no exílio se efetivará com o retorno à pátria: “Porei em vós o meu espírito, para que vivais, e vos colocarei em vossa terra. Então sabereis que eu, o Senhor, digo e faço – oráculo do Senhor” (Ez 37,14). A visão profética da revivificação dos ossos foi recentemente interpretada como promessa de ressurreição universal dos mortos no final do tempos. 

Para o apóstolo Paulo, Deus nos dá uma “nova vida” por meio de seu Filho e de seu Espírito. Esta nova vida invade e transforma o nosso corpo e o nosso espírito, fazendo-nos desejar a ressurreição e participar da vida d’Aquele que nos transfigurou.  O cristão, pelo batismo, é integrado no mistério da morte e da ressurreição de Cristo, por isso, não vive mais no “reino da carne”, ou seja, não vive mais simplesmente dos anseios humanos, e sim pela força da fé, da esperança e do amor.  Enquanto vivemos no “reino da carne”, conforme Paulo, estaremos levando uma vida limitada e fechada, sem poder agradar a Deus (Rm 8,8). É com o Espírito de Deus, recebido desde o dia do batismo, que já podemos viver como ressuscitados: “E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos mora em vós, então aquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que mora em vós” (Rm 8,11). É no batismo que recebemos o Espírito que fez Jesus ressuscitar dos mortos,  e este Espírito realizará em nós o que realizou em Jesus.

A transformação que o Espírito realiza no cristão, desde o dia de seu batismo, ainda não é completa, porque isso só vai acontecer quando estaremos face a face com Deus. É por isso que a nossa fé se reveste de esperança:  se deixamos o Espírito agir em nós, agora, experimentaremos já em nossas atividades e trabalhos, ainda que provisoriamente, aquilo que seremos plena e definitivamente no amanhã  de nossa vida, na comunhão  com o nosso Criador. A fé cristã é cheia de esperança e confiança n’Aquele que pode nos libertar e nos transformar. Neste sentido, as palavras do salmo, que há pouco rezamos, são profundamente animadoras. É do fundo de nossas misérias que se eleva a nossa voz para Aquele que tem o poder de nos libertar e nos integrar no seu reino de amor sem fim: “Das profundezas eu clamo a vós, Senhor, escutai a minha voz! Vossos ouvidos estejam bem atentos ao clamor da minha prece. Se levardes em conta as nossas faltas, quem haverá de subsistir? Mas em vós se encontra o perdão, eu vos temo e em vós espero. No Senhor ponho a minha esperança” (Sl 129).

Movido por uma amizade particular – “Jesus era muito amigo de Marta, sua irmã Maria e Lázaro” (Jo 11,5), o evangelho deste domingo mostra os sentimentos autenticamente humanos de Jesus. Ao saber que Lázaro adoecera, Jesus se dirige à Judéia, mas ao chegar, encontra Lázaro já sepultado. Diante disso, chora: “Jesus, verdadeiro homem, chorou o amigo Lázaro” (Prefácio da Missa). Conforme o evangelista João, a morte do amigo Lázaro comoveu profundamente a Jesus: “Quando Jesus viu Maria chorar, e também os que estavam com ela, estremeceu-se interiormente, ficou profundamente comovido e perguntou: ‘Onde o colocastes?’ Responderam: ‘Vem ver, Senhor’. E Jesus chorou. Então os judeus disseram: ‘Vede como ele o amava’” (Jo 11,33-36).

Embora Jesus compreenda que a doença e a morte de Lázaro seja uma oportunidade para manifestar “a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela” (Jo 11,4), Jesus não escondeu seu amor e sua dor pelo amigo Lázaro.  É para o amigo Lázaro, que Jesus reza ao Pai e lhe devolve a vida: “Jesus levantou os olhos para o alto e disse: ‘Pai, eu te dou graças porque me ouviste. Eu sei que sempre me escutas. Mas digo isso por causa do povo que me rodeia, para que creia que tu me enviaste’. Tendo dito isso, exclamou com voz forte: ‘Lázaro, vem para fora’. O morto saiu...” (Jo 11,41-44). O amor de Jesus é força de vida principalmente onde falta a vida.

A ressurreição de Lázaro é um sinal, que só poderá compreendido pela fé. Ao restituir a vida à Lázaro, Jesus quis sinalizar uma outra vida, a vida eterna para toda a pessoa que acredita no Filho de Deus. Marta, a irmã deLázaro, ao dialogar com Jesus, dá mostras de que acredita, sim, na ressurreição dos mortos, mas somente no final dos tempos: “Eu sei que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia” (Jo 11,24). Mas Jesus a instrui de que a ressurreição é para agora, já, bastando que acredite no Enviado de Deus: “Eu sou a ressurreição [e a vida]. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em mim jamais morrerá” (Jo 11,25-26).

Mais do que simplesmente lembrar, a celebração eucarística, pelo poder do memorial litúrgico, nos transporta e nos insere no mistério único que envolve a morte e a glorificação do Filho de Deus. A eucaristia nos faz degustar por antecipação o mistério de nossa glorificação, reacendendo em nós a esperança da vida eterna, como diz o canto litúrgico: “Que a eucaristia apresse o dia por nós esperado”.  Conforme o Documento de Aparecida: “A eucaristia, participação de todos no mesmo Pão da Vida e no mesmo Cálice de Salvação, nos faz membros do mesmo Corpo (cf. 1Cor 10,17) [...]. A Igreja peregrina vive antecipadamente a beleza do amor que se realizará no final dos tempos na perfeita comunhão com Deus e com os homens. Sua riqueza consiste em viver, já neste tempo, a ‘comunhão dos santos’, ou seja, a comunhão nos bens divinos entre todos os membros da Igreja, em particular entre os que peregrinam e os que já gozam da glória” (Documento de Aparecida, nn. 158.160).

Em tempos de consumismo desenfreado, de atrofia espiritual, de individualismo, de imediatismo e comércio religioso, a fé cristã nos purifica dos sepulcros que aprisionam a esperança. Quais são mesmo os nossos sepulcros? Quantos Lázaros encontramos em nosso caminho, esperando a voz de alguém que os tire do túmulo: “Lázaro, vem para fora”! (Jo11,43)!  Quantos homens e mulheres de nosso tempo semi-mortos, descartados, como os “ossos secos” descritos pelo profeta Ezequiel, esperando as rajadas do Espírito de Deus para renascer? Não se morre só fisicamente. A morte espiritual também é um problema de nosso tempo, uma vez que há muitos que vivem “como se Deus não existisse” (Documento de Aparecida, nº 42). 


Não nascemos para acabar na morte, nem mesmo para ser vítimas de uma morte antecipada e imposta, e sim para viver uma vida sem fim em Deus. Este é o nosso destino, a nossa meta, o nosso horizonte maior: o céu, depois da terra; o amor verdadeiro, depois dos sofrimentos e fracassos da vida presente;  a comunhão, depois de tantas experiências de divisão; o encontro verdadeiro, depois de tantos extravios e desencontros; a justiça do amor salvífico, depois de tantos falsos amores e de injustiças terrenas. Vemos tantos sinais de morte no mundo e em nós mesmos, a ponto que se pode dizer que vivemos rodeados por uma “cultura de morte”. Apesar disso, é a esperança que marca o testemunho dos cristãos, mas uma esperança que tem um rosto e um nome: a comunhão dos ressuscitados em Deus.

Frei Nedio Pertile
Cuiabá, 08 de abril de 2011

Homilia dia 10/04/2011 “Das profundezas clamo a vós, Senhor!”(Sl 129).


LITURGIA – 17.
5o Dom. da Quaresma 10.04.2011.

“Das profundezas clamo a vós, Senhor!”(Sl 129).
01.Introdução.
Estamos nas vésperas da Festa da Ressurreição de Jesus Cristo; mas, se Jesus ressuscitou, como poderiam seus discípulos permanecer na morte? Impossível: com Ele sofremos, com Ele ressuscitaremos! Como é maravilhoso crer em Jesus!
O Povo de Israel vivia no exílio (1ª Leitura); parecia morto e já sepultado. Nenhuma esperança de vida melhor; mas Deus prometeu tirá-lo da sepultura e fazê-lo retornar para a sua pátria querida: “Abrirei os vossos sepulcros e vos tirarei de vossos túmulos  e vos levarei de volta para a terra de Israel!”(Ez 37,12).
A História de Israel é um símbolo daquilo que Deus pode fazer conosco! Ele pode libertar-nos da depressão, do pecado, do vício e da miséria e levar-nos para uma vida livre e iluminada pelas luzes da Ressurreição de Jesus Cristo. Celebrar bem o Mistério pascal é deixar-se envolver pela energia divina do Ressuscitado e iniciar uma vida melhor!

02. Palavra de Deus.
       Ez  37,12-14 – O Povo de Israel estava no exílio e sem nenhuma esperança de libertação. Vivia deprimido com a idéia que Deus o havia abandonado. Estava morto e enterrado por causa de seus pecados! Deus manifestaria seu poder libertando-o das garras da morte, conduzindo-o para a liberdade.
Rm 8, 8-11 – Os discípulos de Jesus trazem em seu coração a luz divina da Ressurreição de Jesus e, por isso, eles não permanecem na morte, mas são transformados em novas criaturas: “Se o Espírito de Jesus está em nós,pela força do Espírito de Jesus ressuscitaremos para uma vida superior de filhos de Deus!”
Jo 11,1-45 –Jesus  dá os últimos retoques à sua Missão de Messias: Ele é Senhor da vida e da morte; de fato, tudo está sujeito a seu poder, mas vai passar pela morte, pois, precisa vencê-la em seu próprio corpo. A ressurreição de Lázaro é um dos capítulos finais de sua missão sobre a terra. Está na hora de partir! De nossa parte, agora, é crer, confessando sua divindade, ou não crer e odiá-lo planejando sua morte na cruz! A Festa da Páscoa é tempo de decisão existencial: “Ser ou não ser de Cristo!”.

03-Reflexão.
·         Santo Agostinho diz que o “Exílio de Israel” é símbolo de nosso próprio exílio! Pagamos as conseqüências de nossos pecados vivendo na depressão, na falta de esperança e de alegria porque vivemos afastados do Senhor! A Páscoa pode reviver em nós a experiência da libertação de Israel: sair das sepulturas do vício, da droga, da infidelidade e da violência e caminhar alegres para a liberdade dos filhos de Deus!
·         Desde nosso batismo trazemos a luz do Ressuscitado em nosso coração. Se nossa vela batismal estiver apagada, o momento da graça chegou! Aproximemo-nos de Jesus ressuscitado e o Espírito Santo voltará a habitar em nosso coração reacendendo a esperança de nossa própria ressurreição para a glória celestial.
·         Mortos como Lázaro, poderemos ouvir a ordem de Jesus: “Lázaro, vem para fora!” Mais importante do que Lázaro vir para fora da sepultura, é confessar a divindade de Jesus assim como fez Maria: “Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo!” (Jo11,27).
Páscoa é tempo de renovação de nossa fé em Jesus Cristo, Filho de Deus vivo e ressuscitado!

“Aquele que vive e crê em Mim, não morrerá para sempre!” (Jo 11,25)

Frei Carlos Zagonel