A Páscoa de Cristo e a nossa Páscoa
“Aleluia, o Senhor ressuscitou!”, canta a Igreja na noite de Páscoa. A celebração da vigília pascal é, na verdade, uma noite de luz, é alegria e esperança. A vida seria muito triste sem a luz do Cristo Ressuscitado. O pecado, a morte e o mal foram vencidos, muito embora ainda soframos as suas conseqüências. Se não fosse assim, os nossos olhos não estariam voltados para o futuro, nem para o horizonte, nem para o inusitado. O tédio da repetição é férreo... Sem a ressurreição, nada haveria a esperar, nada a sonhar, nada a testemunhar.
Deus se fez humano para que o ser humano se divinizasse, diz o adágio dos Padres da Igreja. A cruz mostra que Deus passou pela situação mais ínfima da condição humana, não para nos deixar sozinhos quando aí estivermos. O Filho de Deus, fazendo-se um de nós, leva-nos em seus braços abertos e mãos sangrentas, até o reino da Trindade. Isto nos dá a audácia de bradar: Viva a vida! Vida a alegria! Viva o Amor!, graças à cruz de nosso Salvador.
É justamente isso que move os nossos calcanhares no caminho da vida, dando-nos uma misteriosa energia para superar as doenças, as intrigas, os desafetos, as injustiças sociais e ecológicas, enfim, todo o sofrimento. O dinheiro nos leva até o dinheiro, não mais além dele; o poder nos leva até o poder, não mais além dele; o prazer nos leva até o prazer, não mais além dele; o individualismo infernal de nosso século nos leva até a solidão, não mais além dela; a violência nos leva até a violência, não mais além dela. O princípio da ressurreição quebra o círculo vicioso desses interesses, meramente humanos. Sem Deus, não iríamos além de nós mesmos.
É verdade que gostamos muito das coisas da terra, que nos satisfazem de muitas maneiras, mas não podemos esquecer o céu. É verdade que gostamos muito do momento presente, mas não podemos esquecer o amanhã. É verdade que gostamos muito do poder das pessoas e das personalidades, mas não podemos esquecer o fascínio de Cristo e o poder do Amor de Deus. É verdade que gostamos muito da noite, mas não podemos esquecer o dia sem fim, que a ressurreição nos anuncia. A ressurreição de Jesus faz-nos recordar das coisas que hão de vir. O que virá, independente de toda medida humana, é o poder renovador de Deus sobre o nosso decrépito e poético cosmos, com a força de atrair tudo para si, para seu abismo, onde circula ininterruptamente o amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
A ressurreição de Cristo nos faz acreditar em nós, nos outros e em tudo o que nos envolve. Faz-nos apostar no potencial positivo que todo ser humano carrega dentro de si. Falando em linguagem poética, nessa hora, eu gostaria de ser um anjo para entrar pela janela de todas as casas e anunciar que Jesus Cristo não está mais morto, mas Vivo, e assim renovar o mundo com a força deste anúncio. Aliás, esse anúncio, tanto esperado, sustenta hoje os corações machucados pelos sofrimentos e decepções. É como um banho de água fresca no deserto árido e escaldante. O anúncio do Cristo vivo é como um copo de água gelada numa estrada empoeirada e sufocada pelo calor do verão. Sim, “Cristo ressuscitado é a minha alegria”, dizia São Serafim de Sarov; “Ele é a nossa paz”, dizia São Paulo Apóstolo; e os cristãos seguidores de Cristo, usando as palavras do evangelista João, professam que Ele é “caminho, verdade e vida”! Nesta hora, quero me unir a todas essas vozes, cheias de esperança e dizer a todos quantos encontrar pelo caminho: Que a força da Ressurreição do Senhor possa elevar teus pensamentos e sentimentos para Aquele que nos deu a vida e nos convida ao seu Amor! Que o raiar do Domingo da Páscoa seja repleto das bênçãos do céu, as quais, atravessando as nuvens, se derramem sobre todos e todas! Feliz Páscoa!
Frei Nedio Pertile, OFMCap.
Cuiabá, 23 de abril de 2011
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Conhecer a Cristo pela fé é nossa alegria;
Segui-lo é nossa graça; e
Transmitir este tesouro aos demais
é nossa tarefa.
Que o Senhor nos confiou ao nos chamar
e escolher!